domingo, 12 de outubro de 2014

Vento de Verão

O Verão e a Juventude sempre ficaram bem de mãos dadas com o vento a sublinhar o milagre. 
Esta imagem, feita no Verão que acabou de passar, fez-me transportar para um tempo de aromas e de sabores mágicos - que me atrevo a partilhar:

"Houve um Verão longínquo em que quase habitei, durante cerca de 2 meses, numa praia solitária. O areal imenso e desértico era ponteado pelas minhas pegadas e por algumas rochas que, na maré vazia, se organizavam em piscinas naturais. Nu, percorria o passeio de areia molhada num ritual de conchas e sal. Ao fim da manhã ia até um pequeno restaurante-cabana de madeira e colmo, construído pelos pescadores locais no sopé da falésia onde as escadas de terra batida desaguavam na praia, e ali acabava por almoçar. O ar era invadido, então, pelos odores de moreia frita, sargo na brasa e outros peixes cozinhados logo após a pescaria diária. Nas horas de maior calor refugiava-me na frescura de uma ravina entre falésias – onde pinheiros e figueiras estendiam silêncios. Sob o aroma de resina, de pinhões e das folhas das figueiras deliciava-me com pêssegos suculentos - cujo mel escorria abundante pelo meu rosto enquanto os trincava com volúpia. O silêncio era interrompido apenas pela vibração das cigarras e pelo eco longínquo da cavalgada das ondas. Tempo infinito, em frente do horizonte, saboreado minuto a minuto sem necessidade de abrir a caixa dos sonhos ficcionados - porque o sonho estava lá. Mergulhava no dourado do sol no oceano e quando a noite chegava: apanhava-me a flutuar na cintilação do luar na superfície da água do mar – à espera das estrelas cadentes. Mais tarde no meio do deserto da noite, enquanto esperava o oásis do amanhecer, o meu corpo escurecia mais (como o mar) deitado na cama da areia. E o vento do Verão vinha suavemente acariciar os sentidos...".

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