domingo, 26 de abril de 2009

Pormenores

Uma das primeiras vezes que te vi foi na aldeia onde, no início da minha adolescência, passava férias com os meus avós. Eras então uma ciganita com semblante sério e olhos acesos – que viam por dentro dos meus... Lembro-me que a caravana, família e amigos com quem viajavas, acamparam junto da árvore grande – ao pé da antiga casa do padre. Para nos encontrarmos, eu escondia-me por entre as ruínas abandonadas que as silvas iam escondendo. Depois fugíamos para os pinhais vizinhos. Em silêncio contemplávamos e descobríamos o mais importante: pormenores. Entendemo-nos de imediato na cumplicidade com que observávamos as folhas, os pequenos mal-me-queres ou a estratégia dos corredores de formigas... sentíamos o prazer de ficarmos quietos e deitados lado a lado de barrigas coladas ao tapete de caruma e de braços abertos e de mãos dadas como se pretendessemos, ao mesmo tempo, integrar a terra que tentávamos abraçar. Lembro-me do odor da seiva fresca dos pinheiros e da tua pele morena e doce. Lembro-me da perturbação e embaraço em mim ao tocar em ti, sem saber o que dizer ou o que fazer...
VT
When I fall in love – Nat King Cole

1 comentário:

Anónimo disse...

The sound of silence...flavorings,

details ... and fall in love!