A Sra Rosa Conceição Costa tem 79 anos de idade. Vem, diariamente, com os produtos da sua lavra na freguesia de Alvorninha, até à Praça da Fruta das Caldas da Rainha. Tal como a Sra Hermínia Joana (75 anos) do lugar de Lagoa Parceira, e como a Sra Assunção Fialho (73 anos) oriunda da freguesia de Salir de Matos. Todas portanto residentes no Concelho onde é realizado o mercado. Pertencem à geração de vendedores/produtores mais antigos que vendem na Praça (começaram entre os 7 e 18 anos). Com nostalgia e tristeza relatam tempos em que a Praça se enchia com produtores/vendedores da região e regurgitava de visitantes. Hoje são poucos os que resistem à chegada de vendedores/intermediários e à concorrência de produtos que não são da região (alguns do estrangeiro).
Como referimos anteriormente (post de 2 de Outubro 2009) a Praça tem uma enorme importância (e mais-valia) histórica e uma originalidade que advém da sua cobertura celeste. Mas a Praça não se faz apenas com o empedrado do tabuleiro e com a pontualidade do céu aberto. Faz-se também com as Pessoas. Uma das suas características e atractivos essenciais, foi sempre a possibilidade de aquisição de produtos hortícolas mais frescos, mais baratos e directamente ao produtor. No entanto, com a extinção progressiva dos agricultores que vendem os seus produtos, interrogamo-nos sobre o que tem sido feito, e ainda sobre o que fazer, para não se perder o “capital” humano que contribui diariamente para a manutenção da personalidade própria de uma Praça – através de uma das suas características essenciais – diferente de todas as outras do País.
Os representantes autárquicos falam com as Pessoas que vendem na Praça da Fruta? Os representantes autárquicos regulamentaram medidas para salvaguardar o futuro deste Ex-líbris das Caldas da Rainha? Que futuro (próximo) para a Praça da Fruta sem os verdadeiros vendedores/produtores da região?
Uma Praça igual a tantas outras e repleta de intermediários jamais será a reconhecidamente “célebre” Praça da Fruta das Caldas. No meu modesto entender, é URGENTE que, para além da preservação do espaço, haja investimento nas Pessoas que lá trabalham. Ou seja, a criação de incentivos exclusivos: para os produtores que vêm vender directamente na Praça e ainda para a agricultura biológica, recrutando assim novas gerações de agricultores que, assegurem a viabilidade futura da tradição da Praça e que sigam o exemplo da D. Rosa, da D. Hermínia e da D. Assunção – que hoje aproveitamos para homenagear.
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Soria Maria - Jan Garbarek
17 comentários:
Um louvor às pessoas, lindo texto Vasco, parabéns!
Sim, esta é uma das questões caldenses em que, havendo várias opiniões, pouca gente expressa a sua claramente. Principalmente quem é poder...
Úm beijinho para essas senhoras que não desistem e dignificam os produtos por elas cultivados. São sempre uma mais valia para a sua Terra.Bjo para ti pelo belo texto.
Texto magnifico com ideias a não esquecer.
This is truly a magnificent portrait!
Thanks also for your thoughts: a post
very interesting!
Caro Vasco Trancoso
Depois do que acabo ler, recordo-me do que escrevi em 1963: "Aquela praça que tem alguma coisa de humano, está vazia, só, sem a simplicidade daqueles homens e mulheres que logo pela manhã e às vezes ainda de noite, a pisam, talvez com sacrifício, porque mais tarde não têm as suas coisas vendidas, mas eles enchem-na todos os dias, chova ou não chova, tendo sempre as mesmas características, as mesmas vestes, homens e mulheres pobremente vestidos, de barrete ou lenço na cabeça, com o respectivo cesto na frente, tentando vender aquilo que debaixo de chuva e frio arrancaram à sua própria terra." Estamos no ano de 2009 e dizes "No meu modesto entender, é URGENTE que, para além da preservação do espaço, haja investimento nas Pessoas que lá trabalham." Entre as duas datas que cito apenas digo "Tão longe e tão perto das Pessoas"
Um abraço amigo
João Ramos Franco
gosto deste retrato e acho muito bem experimentares novas fotografias! :)
espero ver mais novidades e surpresas por aqui! :)
*beijinhos
Mágnifica fotografia! No rosto da D.Rosa os traços da vida inteira e uma expressão que me inquieta! Pela objectividade do texto é fácil depreender que é realmente urgente tomar medidas na defesa dos interesses dos vendedores-productores da Praça da Fruta! Acredito que é também o que dizem estes olhos que não nos olham! Pergunto-me o que poderiamos fazer para abordar os representantes autárquicos sobre este assunto?
Merecida homenagem a estas 3 mulheres corajosas e perseverantes! Para elas a minha admiração!
Bem Hajas Vasco!
São
Agradável surpresa!Boa variação na fotografia!Linda e justa Homenagem a estas Pessoas que,com trabalho árduo e persistência de toda uma Vida,diariamente alindam a Praça da República.
RP
Excelente fotografia e merecida homenagem a três mulheres que serão um pequeno exemplo de tantas outras que pela Praça têm passado ...Manter a tradição é importante assim como zelar pelo bem estar destas pessoas!
Creio já ter dito em comentários anteriores que o Autor de Heavenly tem sido um acérrimo defensor e difusor do Património edificado e natural das Caldas.
Evoco o post do Hospital Termal, os dos recantos do Parque D. Carlos I e da Mata, os da Foz do Arelho, documentados alguns deles com pertinentes elementos históricos.
A Praça da República foi tratada pela primeira vez com uma fotografia ilustrativa da sua linda calçada à portuguesa com elementos desenhados, estrelas.
Regressa agora ao Heavenly a “Praça” abordada numa vertente bem diferente, colocando questões de cariz urbano, económico, humano.
Um bem patrimonial que tem perdurado ao longo dos anos, graças às garbosas e empreendedoras vendedeiras, produtoras e transaccionadoras do produto final, sabe-se lá com que sacrifícios.
Inovam-se as formas de produção agrícola e tipo de produtos, e as gerações vão-se “revezando”, inexoravelmente, é a ordem natural da vida.
Que os Cidadãos Caldenses e o Poder Local saibam zelar pelo potencial que a Praça da República e a “Praça” encerram, encontrando soluções criativas e não a deixem fenecer.
O som que ecoa na “PRAÇA”- Soria Maria- um toque a rebate… antes que seja tarde.
A peculiaridade que a “Praça”, - a céu aberto - constitui para que as Cidade se distinga positivamente no contexto nacional.
Longa vida à Sr.ª Rosa, Sr.ª. Hermínia e Sr.ª. Assunção aqui carinhosa e justamente Homenageadas.
Mais uma vez o felicito pelo brilhante exercício dos seus direitos de Ilustre Cidadão de uma das Cidades que marcou a minha juventude e nunca esqueci.
MV
Retrato de Mulher Triste
Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.
Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.
Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.
Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.
Cecília Meireles
Resta-me aplaudir de pé esta iniciativa de VT, de Homenagear estas Mulheres num Retrato de profunda Dimensão Humana. O seu sentido cívico mantém-se, o que não nos surpreende. Surpresa sim, a força desta Foto, que tornou irresistível para o Autor uma “viragem” em Heavenly…Excelente Opção!
Muitos Parabéns
FC
Vívido relato este de um património cultural e humano que se vai obliterando ante as ASAES deste mundo.
Uma intervenção social muito pertinente nos dias de hoje, acompanhada por um belo retrato por VT.Parabéns.
Bjs do outro lado
Lindo rosto.Uma vida. Texto com muito interesse para nós caldenses.
Crislim
Fantástico! Este "post" ultrapassou espectativas. Não só foi o mais visitado até hoje mas despertou muitas vozes. Faço votos que também tenha acordado vontades já que o fiz chegar a alguns vereadores municipais.
Para além de dar as boas vindas a Demóstenes e Crislim que comentam pela 1ª vez, agradeço as palavras fortes, emotivas, sensibilizadas e solidárias de todos para com a D. Rosa que simboliza afinal todos os vendedores/produtores da Praça da Fruta.
Bem hajam pelo Vosso apoio e incentivo.
VT
Pois...o que dizer?
Mais uma chamada de atenção para problemas que afetam sociedades inteiras que se dizem modernas,resultantes de uma globalização feita á pressa em que a "qualidade" se perde, em beneficio da quantidade...fruto das sociedades de consumo, perversas em si mesmas.A Sabedoria do Povo,(uma arte rara) da Terra, está em vias de extinção, sras Rosas contam-se pelos dedos. Pelo sentimento de uma vida passada e amargurada, amo especialmente este retrato.Conseguiste captar o sofrimento e desencanto na Vida da tua "gente" que nesta fase da vida mereceria outro trato com mais dignidade. Parabens Vasco pela tua intervenção.(O Verdadeiro Artista deixa a sua Marca)
AC
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