Decidi conhecer as várias
fragrâncias da Moresque e no geral achei que são muito intensas / bold,
lineares e muito caras. Gostei, no entanto, do Al Andalus (com um belo açafrão
bem acompanhado pelo gengibre e pimenta preta), do Rand (um Aventus no feminino
- floral e com um abacaxi também bem condimentado) e do White Duke.
Acabei por me decidir pelo bem
mais masculino e recente (2019) White Duke – inspirado pela figura fascinante
de Gabriele D'Annunzio e que, me faz sentir o ambiente das primeiras décadas do
século XX - tal como o imagino.
TOP NOTES:
Bergamot, Geranium from Egypt,
Clary Sage
HEART NOTES:
Amber, Balsam of Peru, Thyme,
Opoponax
BASE NOTES:
Benzoin, Incense, Patchouli
Um perfume que, após a breve
abertura cítrica e condimentada, é marcado pelo protagonismo da sensualidade
doce do Âmbar e do mistério do incenso. Com boa duração (cerca de 12h) tem uma
projecção moderada. O balsâmico do oponax temperado pelo patchouli conferem uma
vibe a lembrar o Yatagan - o que é um ponto a favor para o meu gosto. No final
o drydown na pele é suave e doce. Tal como D'Annunzio é uma fragrância
provocante, sedutora, e desencadeando sensações fortes.
É irresistível relembrar
Gabriele D'Annunzio que foi não só um grande, poeta, escritor (O Triunfo da
Morte) e teatrólogo italiano. Desenvolveu paralelamente à carreira literária
uma excêntrica carreira política. Protagonista de uma vida de excessos,
d’Annunzio fez do estetismo o seu próprio estilo de vida (o seu lema de vida),
procurando sempre novas sensações. Com a declarada intenção de constituir em
Itália a prosa narrativa moderna, assimilou as características principais do
decadentismo europeu e a busca incessante da Beleza. Na primeira década do
século XX d’Annunzio era provavelmente o poeta italiano mais famoso na Europa.
Visto como um diabo com uma escrita de anjo, D’Annunzio permanece
indiscutivelmente irresistível: Sem dúvida, o melhor escritor italiano do seu
tempo, um esteta que faria Oscar Wilde parecer um mero burguês, um sedutor com
o tacto e apetite de Casanova, um fanático político e um orador de voz suave e
apaixonante.
Tornou-se famoso com o romance
O Prazer, de 1889, dedicado à atriz Eleonora Duse com quem viveu um romance
tempestuoso. Um romance entre muitos que lhe foram atribuídos. Era lendário o
seu apetite e performance sexual. Viveu com várias mulheres simultaneamente
(cita-se que a paixão de algumas as terá levado ao suicídio). Organizava orgias
ao ritmo de cocaína no seu palácio como um precursor de Hugh Hefner com as
coelhinhas da Playboy. O seu palácio faustuoso, que reflectia os seus excessos
e o seu esteticismo, situava-se (e situa) na margem norte do lago de Garda no
norte de itália (o maior lago da Itália, com 5 ilhas, localizado na província
de Bréscia), e estendendo-se por uma área de cerca de 370 km a uma altitude de
65 metros sobre o nível do mar).
Em redor da sua casa há um
labirinto de jardins secretos e fantásticos, há aviões e barcos da 1ª Guerra
Mundial, há cascatas, estátuas, um auditório ao estilo grego, ameias de uma
fortaleza e no topo de um monte há o seu mausoléu guardado por enormes de cães
de pedra.
A casa é um museu de peças
fantásticas, em geral da época, onde não há quase espaço entre elas – quer nas
paredes, quer nos móveis, quer na casa de banho com banheira e lavatório em Lápis-lazúli
rodeadas por dezenas de frascos de perfumes, loções, etc. Um lugar mágico a
merecer uma visita (ver vídeo em anexo).
Foi também um herói da 1ª
Guerra Mundial - onde esteve ao lado dos Aliados - tendo-se distinguido
comandando frotas de aviões. Alcançou celebridade como piloto de caça (perdeu a
visão de um olho num acidente aéreo). Entre os diferentes feitos e ficou
célebre a conquista da cidade de Fiume (hoje Rijeka na Croácia), em 12 de
setembro de 1919, liderando um exército de 2000 italianos. Nesse local
D’Annunzio auto-proclamou-se "Duce" (caudilho / Duke) e inventou o
gesto que mais tarde na 2ª Guerra Mundial seria copiado por Hitler e Mussolini.
A sua figura (de bigode revirado) também inspiraria mais tarde Salvador Dali.
Em 1937 foi eleito presidente da Academia Real Italiana). D'Annunzio morreu de
um acidente vascular cerebral (há autores que afirmam que tal aconteceu “às
mãos” de uma das várias “playmates” com quem coabitava – uma loira tirolesa de
nome Emy Huefler) em sua casa em 1 de março de 1938. Teve funeral de Estado.
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