quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Sex, drugs & Perfume



Decidi conhecer as várias fragrâncias da Moresque e no geral achei que são muito intensas / bold, lineares e muito caras. Gostei, no entanto, do Al Andalus (com um belo açafrão bem acompanhado pelo gengibre e pimenta preta), do Rand (um Aventus no feminino - floral e com um abacaxi também bem condimentado) e do White Duke.
Acabei por me decidir pelo bem mais masculino e recente (2019) White Duke – inspirado pela figura fascinante de Gabriele D'Annunzio e que, me faz sentir o ambiente das primeiras décadas do século XX - tal como o imagino.
TOP NOTES:
Bergamot, Geranium from Egypt, Clary Sage
HEART NOTES:
Amber, Balsam of Peru, Thyme, Opoponax
BASE NOTES:
Benzoin, Incense, Patchouli
Um perfume que, após a breve abertura cítrica e condimentada, é marcado pelo protagonismo da sensualidade doce do Âmbar e do mistério do incenso. Com boa duração (cerca de 12h) tem uma projecção moderada. O balsâmico do oponax temperado pelo patchouli conferem uma vibe a lembrar o Yatagan - o que é um ponto a favor para o meu gosto. No final o drydown na pele é suave e doce. Tal como D'Annunzio é uma fragrância provocante, sedutora, e desencadeando sensações fortes.
É irresistível relembrar Gabriele D'Annunzio que foi não só um grande, poeta, escritor (O Triunfo da Morte) e teatrólogo italiano. Desenvolveu paralelamente à carreira literária uma excêntrica carreira política. Protagonista de uma vida de excessos, d’Annunzio fez do estetismo o seu próprio estilo de vida (o seu lema de vida), procurando sempre novas sensações. Com a declarada intenção de constituir em Itália a prosa narrativa moderna, assimilou as características principais do decadentismo europeu e a busca incessante da Beleza. Na primeira década do século XX d’Annunzio era provavelmente o poeta italiano mais famoso na Europa. Visto como um diabo com uma escrita de anjo, D’Annunzio permanece indiscutivelmente irresistível: Sem dúvida, o melhor escritor italiano do seu tempo, um esteta que faria Oscar Wilde parecer um mero burguês, um sedutor com o tacto e apetite de Casanova, um fanático político e um orador de voz suave e apaixonante.
Tornou-se famoso com o romance O Prazer, de 1889, dedicado à atriz Eleonora Duse com quem viveu um romance tempestuoso. Um romance entre muitos que lhe foram atribuídos. Era lendário o seu apetite e performance sexual. Viveu com várias mulheres simultaneamente (cita-se que a paixão de algumas as terá levado ao suicídio). Organizava orgias ao ritmo de cocaína no seu palácio como um precursor de Hugh Hefner com as coelhinhas da Playboy. O seu palácio faustuoso, que reflectia os seus excessos e o seu esteticismo, situava-se (e situa) na margem norte do lago de Garda no norte de itália (o maior lago da Itália, com 5 ilhas, localizado na província de Bréscia), e estendendo-se por uma área de cerca de 370 km a uma altitude de 65 metros sobre o nível do mar).
Em redor da sua casa há um labirinto de jardins secretos e fantásticos, há aviões e barcos da 1ª Guerra Mundial, há cascatas, estátuas, um auditório ao estilo grego, ameias de uma fortaleza e no topo de um monte há o seu mausoléu guardado por enormes de cães de pedra.
A casa é um museu de peças fantásticas, em geral da época, onde não há quase espaço entre elas – quer nas paredes, quer nos móveis, quer na casa de banho com banheira e lavatório em Lápis-lazúli rodeadas por dezenas de frascos de perfumes, loções, etc. Um lugar mágico a merecer uma visita (ver vídeo em anexo).
Foi também um herói da 1ª Guerra Mundial - onde esteve ao lado dos Aliados - tendo-se distinguido comandando frotas de aviões. Alcançou celebridade como piloto de caça (perdeu a visão de um olho num acidente aéreo). Entre os diferentes feitos e ficou célebre a conquista da cidade de Fiume (hoje Rijeka na Croácia), em 12 de setembro de 1919, liderando um exército de 2000 italianos. Nesse local D’Annunzio auto-proclamou-se "Duce" (caudilho / Duke) e inventou o gesto que mais tarde na 2ª Guerra Mundial seria copiado por Hitler e Mussolini. A sua figura (de bigode revirado) também inspiraria mais tarde Salvador Dali. Em 1937 foi eleito presidente da Academia Real Italiana). D'Annunzio morreu de um acidente vascular cerebral (há autores que afirmam que tal aconteceu “às mãos” de uma das várias “playmates” com quem coabitava – uma loira tirolesa de nome Emy Huefler) em sua casa em 1 de março de 1938. Teve funeral de Estado.

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