sexta-feira, 22 de abril de 2022
O Baile
Um velho disco de vinil roda num gira-discos instalado no meio da rua. Ouvem-se tangos antigos e o Puttin' On The Ritz do Irving Berlin. Como numa comédia italiana, do século passado, há vários Fred Astaire e Ginger Rogers lusitanos, a dançar loucamente num palco improvisado, como uma trupe Felliniana de personagens caricaturais.
A assistência é representada por uma menina especada e isolada bem em frente ao frenesim. Há umas pernas que emergem da esquerda prolongando a história para além do enquadramento. Talvez por lá passeie o senhor Hulot. Há um rapaz curioso que espreita da parede no lado direito.
Um documento típico da “portuguese way of life”. Lembro-me do trabalho de Tony Ray Jones e de Martin Parr que nos deram um legado fotográfico surreal sobre a típica vida britânica. Estas cenas passam-nos despercebidas porque: não só estamos habituados como estamos também dentro delas. Aqui o exercício é observar como se fossemos um extraterrestre que subitamente visita este cenário pela 1ª vez. Então o surreal e a poesia do momento nascem e comovem-nos. Regressamos também à aldeia da nossa infância. A um Amarcord pessoal onde revisitamos memórias, desta vez projetando sensações e cenários da nossa adolescência.
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