domingo, 4 de dezembro de 2022
Little Song (2018) by Meo Fusciuni
Tudo pode começar na cozinha de uma casa feita com madeiras antigas e com o aroma de um montículo de grãos de café no centro de uma mesa iluminada por um feixe de luz.
Há uma aura melancólica e introspectiva. O aroma é delicado e não projecta com bombas químicas.
Há pequenas nuvens poeirentas no ar e ao fundo abre uma porta enorme por onde entramos para uma biblioteca. As prateleiras de livros e as escadas sobre escadas conduzem a uma cúpula distante. Tão distante que temos dificuldade em perceber onde acaba o espaço surreal onde paira um perfume místico de madeiras e pergaminhos. Uma fragrância leve, suave e intimista. Um sítio de solidão e recordações doces.
Na atmosfera permanece a nota de café (em grão e não já feito na chávena) profunda e realista, repousando sobre pétalas de rosas cor de nostalgia. Este namoro poético entre o café e a rosa cede lugar gradualmente ao calor crescente do tabaco e dos tons amadeirados e resinosos. Alguém passou recentemente por aqui fumando um Cohiba.
Finalmente no drydown passa uma brisa de musk, labdanum e vetiver.
Tudo numa semiobscuridade com discretos acordes alcoólicos que convidam a um estado meditativo e abstracto. É aconchegante, “earthy” e silenciosa.
Sentamo-nos junto a uma mesa num canto escuro e misterioso. Em cima está uma máquina de escrever antiga onde dorme uma folha de papel com algumas linhas escritas. Ao lado há uma máquina de projectar. Acendo-a e num ecrã distante surge a imagem de Nick Cave. Pouco depois o som de uma das suas canções convida-nos a ficar.
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