A fonte dos desejos está seca, vestida de ilusões e de hieróglifos que ninguém lê.
As folhas caiem devagar através do silêncio lilás e rosa.
O movimento da luz nas palavras do vento é também lento.
No lugar dos peixes vermelhos e dos nenúfares acumulam-se detritos e restos das sombras da noite.
No meio do lixo a mesa posta com folhas parece esperar um último sacrifício.
No nicho vazio apenas a memória dos dias de água fresca apaziguando lábios sedentos.
Como se estivéssemos no princípio e fosse possível novamente conceder desejos.
Deixei o meu pensamento em cima da mesa.
VT
I think of you – Seigen Ono
7 comentários:
Não me lembro exactamente da última vez que estive calmamente aqui sentado... Mas passaram cerca de quarenta anos!
Entre a evocação das imagens e a nostalgia das palavras, este blogue está pois a ser, ocasionalmente, doloroso de visitar.
De qualquer forma, obrigado pela música e pelas recordações...
Como qualquer outra coisa que se revisite passados 40 anos... Quer músicas dos anos 60... Quer recordações da Escola ou Liceu... Quer a nós próprios. São ciclos alternando a glória com a degenerescência e que devemos aceitar com naturalidade... com saudade ou nostalgia... e mesmo poesia... mas procurando vê-los com outra perspectiva. Por outro lado não é nossa intenção provocar estados "dolorosos" mas antes tirar partido estético do que nos rodeia. E é inegável que há muitas vezes Beleza agarrada a situações de decadência (que não há que ocultar).
VT
Tudo isto e muito mais,
Porque negar amores escondidos,
Porque a Cidade não os queria, condenava.
Se a fonte foi testemunha, ainda é mais bela,
Não fala, guarda segredo, cumpre o seu dever
Respeita o amor e a paixão que viu.
João Ramos Franco
Os comentários de JJ e de João Ramos Franco sugerem-me Luis de Camões, que imortalizou no Canto III d’ Os Lusíadas os amores de Inês de Castro e D. Pedro.
Numa alusão às ninfas do Mondego que choraram copiosamente a morte de Inês e, dizem, as suas lágrimas ainda hoje lá correm… na Fonte dos Amores-Quinta das Lágrimas, em Coimbra-e há séculos guarda segredos...
"As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores."
Luís de Camões
Apesar de decadente,abandonada e seca,a "Fonte da Boneca" não deixa de suscitar o sentido do BELO!Concordo consigo,VT.
MV
Ohhh...esta fonte...lembro-me dela cheia de estrelinhas de sol reflectindo na agua, onde os peixes vermelhos nadavam entre o lodo...Imagem esta tão nostálgicamente linda que num flash me levou 45 anos de volta ao passado!
Obrigado Vasco!
Bjs
olá, eu e um grupo de amigos meus somos das caldas e de vez em quando vamos á quinta da boneca, e sempre que lá vamos ficamos a pensar em como seria aquele lugar ha uns anos, e se o senhor me puder contar um pouco da história daquele lugar, e como era antigamente, ou indicar-me alguem que me possa esclareçer, por favor contacte-me por: joao___branca@hotmail.com
obrigado joao oliveira
Passei aqui bons "pedaços de tempo" era um caminho normal quando eramos miúdos,o Sr.Martins Pereira tinha a quinta muito bem arranjada e sempre muito limpa,dava gosto ir à quinta da boneca,com se chamava por lá ter uma boneca.Manuel Leal
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