Praça da Republica das Caldas da Rainha (Dezembro de 2009)
-
Limelight (Charles Chaplin)
A Praça da República nas Caldas da Rainha, hoje, fica praticamente deserta após a hora do jantar. Antes era palco constante de famílias e grupos de amigos passearem-se (fazendo “piscinas” para cima e para baixo) e convivendo de noite após uma bebida no Café Central.
Como também para muitas outras Praças e ruas por esse País fora, tudo começou, provavelmente, em sete de Março de 1957 quando a Rádio Televisão Portuguesa iniciou as suas emissões de um modo regular desde os Estúdios do Lumiar. A partir desta data, em Portugal, progressivamente, os espaços modificaram-se e as pessoas começaram a ficar em casa. Em 1977, famílias inteiras viam "Gabriela Cravo e Canela". Durante a transmissão dos últimos episódios dessa telenovela, algo de inusitado e premonitório ocorreu em Portugal: as ruas ficaram desertas no país inteiro porque a população assistia empolgada, em frente ao ecrã televisivo, ao final daquela série brasileira. Desde esse ano, a televisão passou a ser uma concorrente dos cinemas e dos teatros que iniciaram uma crise de frequência. Na década de 1980, novos factos, porém, viriam a surgir em favor da televisão e em desfavor da convivialidade nas ruas e praças: o aparecimento das transmissões televisivas com imagem “a cores”, um maior número de programas recreativos transmitidos pela RTP e os preços cada vez mais baratos dos televisores, levou a que a maior parte dos portugueses passasse a ter televisão em casa. Em consequência, as novas gerações, que nasceram já à luz do vídeo, começaram a ser habituadas a telesonharem, frequentando o programa da televisão em vez de frequentarem centros de convivialidade. Na década de 1990, o aparecimento de estações privadas de TV com a consequente oferta de um maior leque de programas e disputa de audiências, acentuou, ainda mais, a ligação entre o indivíduo e o ecrã da televisão.
Em 1994, os lisboetas passavam 15 horas e 27 minutos por semana (em média) em frente à televisão e 90,3% viam regularmente TV. Nesse ano, 95,9% dos lares portugueses possuía TV. Hoje, na Europa, o nosso país é, provavelmente, o que possui a população mais teledependente. Hoje diminuiu-se significativamente, nos espaços públicos, a função de local de noticiário directo porque a televisão é que (des) informa, mantendo as pessoas em casa, propiciando uma vida cada vez menos social e isolando o indivíduo em andares.
Hoje diminuíram as relações entre os indivíduos e as ruas e Praças das nossas cidades, que de noite são, essencialmente, “canais” de passagem para os automóveis que atravessam o deserto urbano iluminado pelas janelas das habitações reflectindo o brilho próprio das televisões em frente das quais as pessoas estão demasiado “prisioneiras”.
As luzes da cidade, à noite, continuam à nossa espera.
7 comentários:
Mas é engraçado que as pessoas sentem falta desses momentos de estar com outros.
A Praça da Fruta só teria a ganhar se ocorressem vários eventos: Natal, Verão, Carnaval...
Gostava muito de ver esta praça com mais movimento!
Enquanto isso não acontece, vou ver televisão!!!
Un blanco y negro precioso...muy llamativo...el toque de luz de las farolas es genial.
Besos
E não só...
Esperemos que 2010 seja muito BOM e que a esperança não morra.
Abraço e Bom ANo
Maria
Linda esta sua fotografia, conheço esta Praça
Maria
Gosto deste post!
Tambem eu noto uma grande diferenca na Praça e na Cidade, embora eu pouco a frequente!Falta-lhe vida e é um pouco triste sempre que me confronto com esta imagem deserta. Contudo acompanhada desta musica linda que eu adoro a imagem transforma-se e parece-me uma praça completamente diferente!
Um Abraço
Olá Vasco,
Your foto da praça e a musica que escolheu provocam uma nostalgia quase dolorosa. Acelera o bater do coração, causa tristeza, e ao mesmo tempo prazer. You certainly know how to stir people's feelings.
Always your admirer.
Libania (Lee) Lewis
Linda fotografia,a preto e branco,desta Praça que deserta ou não tem sempre uma especial magia.Magnífica perspectiva que realça a luz,principalmente a dos candeeiros que conferem muita beleza a esta imagem,e"esconde"um prédio desadequado.
RP
Agradeço os comentários de todos e de facto a luz dos farois dos carros (velocidade lenta no disparo da câmara) em conjunto com o enquadramento fazem-nos redescobrir uma dignidade e magia nesta Praça.
Bem hajam
VT
Enviar um comentário