Todos acordamos tristes e impacientes: que melancolia desceu na chuva da noite? Que sonhos teve cada um de nós, já esquecidos e ainda actuantes? Que anjos amargos ficaram à nossa cabeceira? Todos acordamos com o coração pesado e os lábios aflitos. Que bebida acerba nos foi vertida dos céus? Que confidências nos fizeram os mortos e os Santos? Nossos olhos abriram-se a custo, sob muito sal. Nossos braços estavam sem força, ao despertar do dia. Por que montanhas caminhamos, de íngreme pedra? Que desertos atravessamos, de vento e areia? Em que mares deixamos a sombra do nosso vulto? Acordamos despojados, divididos, dolentes, e, exaustos, começamos a recompor aquilo que, sem nenhuma certeza, supomos, no entanto, ser, em alma e esperança. Cecília Meireles
3 comentários:
Great!!!
Grande preto e branco!
Todos acordamos tristes e impacientes:
que melancolia desceu na chuva da noite?
Que sonhos teve cada um de nós,
já esquecidos e ainda actuantes?
Que anjos amargos ficaram à nossa cabeceira?
Todos acordamos com o coração pesado
e os lábios aflitos.
Que bebida acerba nos foi vertida dos céus?
Que confidências nos fizeram os mortos e os Santos?
Nossos olhos abriram-se a custo, sob muito sal.
Nossos braços estavam sem força, ao despertar do dia.
Por que montanhas caminhamos, de íngreme pedra?
Que desertos atravessamos, de vento e areia?
Em que mares deixamos a sombra do nosso vulto?
Acordamos despojados, divididos, dolentes,
e, exaustos, começamos a recompor
aquilo que, sem nenhuma certeza,
supomos, no entanto, ser, em alma e esperança.
Cecília Meireles
Belíssimo B&W. Parabéns!!
FC
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