Con toda palabra – Lhasa de Sela
Não posso deixar de me solidarizar vivamente com todas as evocações que têm surgido após o falecimento de Lhasa de Sela, uma cantora de grande qualidade que era, ao mesmo tempo, um ser humano extraordinário. É inesquecível “o choque emocional” que me provocou o seu excepcional 1º CD (La Llorona) - que lhe grangeou de imediato uma onda de admiração em todos os países. Aliás, gravados entre 1998 e 2009, os três álbuns de Lhasa - La Llorona, The Living Road e Lhasa - venderam cerca de um milhão de exemplares em todo o mundo.
Portanto a notícia do falecimento (cancro da mama), em 1 de Janeiro deste ano, de Lhasa de Sela (n. 27 de Setembro de 1972 no estado de Nova Iorque) não deixou de provocar uma grande tristeza em todo o mundo mas com particular incidência em Portugal - onde possuía muitos amigos e admiradores não só do seu talento mas também da sua personalidade muito afável, simpática e humilde. Era uma artista de culto, tendo-se apresentado numerosas vezes nos palcos nacionais. De ascendência mexicana e americano-judeu-libanesa era pouco convencional. Percorreu os EUA e o México na infância, de maneira nómada, juntamente com os pais e as suas três irmãs e a sua obra musical mescla tradição mexicana, klezmer e rock é cantada em três idiomas: espanhol, francês e inglês.
Num comunicado assinado pelo manager de Lhasa de Sela, escreve-se que a autora de La Llorona deixa "incontáveis amigos, músicos e colegas que a acompanharam ao longo da carreira, para não falar dos inúmeros admiradores em todo o mundo"… terminando com a informação de que “Nevou mais de 40 horas em Montreal desde a partida de Lhasa ". Por seu turno, Vasco Sacramento, da promotora de espectáculo Sons em Trânsito, escreveu num comunicado que, das centenas de concertos com artistas estrangeiros que já organizou, "Lhasa de Sela foi claramente a que mais [o] marcou". "Não só pela sua voz única ou pela qualidade óbvia das suas canções, mas antes pela sua atitude desprendida e diferente do que é habitual assistir em muitos artistas", explica Vasco Sacramento. "Lhasa de Sela não estava interessada no estrelato, na fama ou no dinheiro”. Lhasa era diferente. Parecia que cantava apenas por imperativo de consciência, sem grandes preocupações com estratégia de mercado. Vasco Sacramento lembra ainda a "inesquecível ligação" de Lhasa a Portugal: "Amava o fado, principalmente, claro, Amália, que cantou nos seus concertos em Portugal. Lembro-me das ovações em pé que a sua interpretação de 'Meu amor, Meu amor' lhe rendeu. Foi emocionante. Lhasa adorava Lisboa! Bairro Alto, Alfama, mas também Sintra, Coimbra, etc. Falava-me sempre do bacalhau que gostava de comer em Xabregas, quando cá estava. E o público português sempre lhe dedicou enorme afecto, esgotando todas as salas onde a Lhasa actuou no nosso país". "Fora dos palcos, Lhasa de Sela era simples e densa. Simples no trato, na forma como lidava carinhosamente com todos. Densa pela profundidade e maturidade que revelava, provavelmente fruto do nomadismo que marcou toda a sua vida", acrescenta ainda Vasco Sacramento, terminando da seguinte forma a sua mensagem: "A Lhasa partiu como sempre viveu. Sem grandes alaridos. Partiu livre. Como sempre viveu".
Vamos continuar a ouvir muitas vezes Lhasa de Sela.
12 comentários:
Bonita homenagem, existem pessoas assim, que não permitem que ninguém as modifique que lhes roube a sue essência e Lhasa assim será por todo o sempre,que o caminho de luz a conduza nesta nova viagem
beijos
esta tem ambiente um tanto ou quanto gótico, mas como até tenho um gosto imagético abrangente e liberal, gosto desta foto tb!
*beijnhos
Mágnifica e oportuna fotografia para esta merecida homenagem a Lhasa de Sela, que eu não conhecia! Oportuna também me parece a seguinte citação de J.K. Rowling
"After all , to the well organized mind, death is but the next great adventure" Como eu também acredito que seja!
Vamos ouvir Lhasa mais vezes!!
Bjs,
São
Este post foi o excelente comentário com que o autor deste blogue brindou o Blogue dos Ex Alunos ERO.
Conciso e preciso, este texto transmite o essencial da pessoa especial e da grande artista que Lhasa era e que nós, os seus admiradores, vamos continuar a ouvir cantar.
Também me pareceu apropriada a foto.
Obrigado,VT.
VT:
Não conhecia Lhasa de Sela, é natural que a tenha ouvido cantar muitas vezes, mas por vezes é a canção em si e não a cantora que me diz algo, porque para mim formam um bloco de sons tristes ou alegres que me marcam, e não fixo nomes, porque teria de fixar muitos.
É merecida esta homenagem, mas não só como cantora... mas como mais uma vítima duma doença que ceifa tantas mulheres. Entre amigas minhas ontem vime rodeada de cinco... elas não sabem como será o dia de amanhã...!
Abraço VT
Bom ANO para si
Bj
Maria
PS - Gosto muito da fotografia, muito o meu género.
Não me é possível ficar indiferente a esta belíssima fotografia,à voz de Lhasa de Sela e ao tema "Con toda palabra".
A libertação e a paz..."cobertas" por uma lindíssima mantilha,ante-câmara do céu .
Quanta beleza,naturalidade e simplicidade,mas...quanta densidade!!!
O post que mais me impressionou e sensibilizou,até hoje,em Heavenly.
MV
É difícil ficar indiferente a este post…O Autor prestou aqui a sua homenagem a Lhasa de Sela e gerou o efeito multiplicador em nós…
.
Recordei o poema de Fernando Pessoa :
.
“Deus costuma usar a solidão
Para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva para que possamos
Compreender o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio, quando quer
nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar
sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço, para que possamos
Compreender o valor do despertar.
Outras vezes usa a doença, quando quer
Nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo,para nos ensinar a andar sobre a água.
Às vezes, usa a terra, para que possamos
Compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte, quando quer
Nos mostrar a importância da vida.”
.
De facto, nos momentos em que perdemos “alguém” ou “algo” importante na Vida, reflectimos sobre a atitude tida e a ter perante os mesmos, e atribuímos significante valoração nesse momento, à real perda.
.
A morte é algo de difícil aceitação… por mais que tentemos encontrar um sentido para ela, a argumentação parece não ser convincente…
.
Quando a morte acontece quando uma pessoa “cumpriu” 100 anos, ainda que não bem vinda, “aceita-se” que “ o sonho dê lugar ao sono “ e o que o “eterno descanso” possa advir…
.
Mas antes de viver quase tudo? Quando ainda os sonhos se acotovelam na mente, em fila de espera, aguardando “mergulho vigoroso” em “águas límpidas” ???
Quando tanto ficou por realizar ??? As mortes “antecipadas ao tempo” são inaceitáveis! São transgressões à lei natural da vida… Há “multas” aplicadas “por menos”…
.
De facto ainda, há que viver “tudo” o “mais possível” e não relevar o irrelevante…
.
Fátima
hola!que tal?mui bonitas las fotos
Agradeço todos os comentários reagindo a uma emoção com outra emoção. Também gosto em especial desta foto. Por um lado o desenho dos ramos das àrvores "abraçando" dum lado e do outro " a revoada. Depois o contraste do branco das pombas com o fundo escuro. Se tivessem voado mais alto ( a nível da luz entre as àrvores) a foto já não seria interessante.
Bem hajam
VT
Lhasa passou ao lado de muitos, que bom que ficou em tantos assim...MM
Lhasa vai permanecer na minha vida.
encontrei (finalmente!) uma versão "soft" da canção que ma apresentou, e que não existe em nenhum dos cds editados:
http://www.youtube.com/watch?v=I3A50PfvOY0
Lhasa - La Ilorona - TV5 Acoustic - 02.04.2004
É bom partilhar e ouvir La Lhorona que, provavelmente, por questões de direitos nunca foi gravada, mas que teve a importância suficiente para dar nome a um albúm.
Talvez um dia consiga encontrar a outra que provocou a minha paixão fulminante...
Espero que lhe goste!
Laurinda
Lhasa de Sela, não vou esquecer, voz e poema lindissimos - não conhecia. Quanto á fotografia, sem comentário..., em perfeita harmonia, "a partida", um outro momento, unico.
AC
Enviar um comentário