Este conjunto imagem/música é um excelente retrato de uma certa visão da solidão, até pela qualidades de ambos os componentes. Mas há também na solidão um elemento de libertação, de auto-conhecimento, de "instrumento" para analisarmos o mundo e as pessoas que nos rodeiam que não é assim tão negativo...
Começam por ser nada. Pouco a pouco se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo. Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos, e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se. Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores, e então crescem as flores, e as flores produzem frutos, e os frutos dão sementes, e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas. Sem verem, sem ouvirem, sem falarem Sós. De dia e de noite. Sempre sós.
Os animais são outra coisa. Contactam-se, penetram-se, trespassam-se, fazem amor e ódio, e vão à vida como se nada fosse.
As árvores, não. Solitárias, as árvores, exauram terra e sol silenciosamente. Não pensam, não suspiram, não se queixam. Estendem os braços como se implorassem; com o vento soltam ais como se suspirassem; e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós. Nas planícies, nos montes, nas florestas, a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós e entretanto dar flores.
António Gedeão, Novos Poemas Póstumos
Magnífica Foto, muito bem acompanhada pela excelente música, como habitualmente.
Belissima poesia do A. Gedeão que FC nos traz. JJ tem razão... o isolamento e o silêncio podem proporcionar momentos importantes (e belos) de reflexão ou de meditação. Podem tornar-se ocasiões para aperfeiçoamento. O simbolismo das àrvores e o tema musical articulam-se proporcionando um interpretação diversas consoante cada pessoa. Podemos interpretar o tema como a Eva (ou de outro modo). As caminhadas solitárias são aliás muito saudáveis. Bem hajam VT
4 comentários:
Este conjunto imagem/música é um excelente retrato de uma certa visão da solidão, até pela qualidades de ambos os componentes.
Mas há também na solidão um elemento de libertação, de auto-conhecimento, de "instrumento" para analisarmos o mundo e as pessoas que nos rodeiam que não é assim tão negativo...
Poema das árvores
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.
António Gedeão, Novos Poemas Póstumos
Magnífica Foto, muito bem acompanhada pela excelente música, como habitualmente.
FC
A solidão do tema musical, eu associo a uma caminhada solitária, introspectiva por entre as arvores, e não às próprias :) Maybe it's just me...
Belissima poesia do A. Gedeão que FC nos traz. JJ tem razão... o isolamento e o silêncio podem proporcionar momentos importantes (e belos) de reflexão ou de meditação. Podem tornar-se ocasiões para aperfeiçoamento. O simbolismo das àrvores e o tema musical articulam-se proporcionando um interpretação diversas consoante cada pessoa. Podemos interpretar o tema como a Eva (ou de outro modo). As caminhadas solitárias são aliás muito saudáveis.
Bem hajam
VT
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