sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Viagem ao Centro da Terra

Muitos de nós conhecemos pela primeira vez o aroma de patchouli na década de 1970, e associamos o cheiro à época dourada do movimento hippie e de Woodstock. No entanto a Oficina Perfumaria-Farmacêutica Santa Maria Novella (que celebrou recentemente 400 anos de actividade) - situada em Florença -, já comercializava a sua colónia de Patchouli durante o século XIX. De facto esta farmácia descobriu as propriedades aromáticas da planta quando reparou que os capitães de navios que vinham das Indias usavam folhas frescas de patchouli para cobrir as cargas valiosas (geralmente seda) que transportavam, porque o aroma de cânfora do Patchouli as protegiam de infestações durante longas viagens. Ou seja o Patchouli desta marca era proveniente da Índia e da Malásia. A respectiva fragrância foi pois lançada há mais de 100 anos e teve um grande sucesso na transição dos séculos XIX e XX. Actualmente é um clássico que se redescobre. Citado por muitos “especialistas” como o melhor e ou o “Holy Graal” das fragrâncias com dominância de Patchouli – que neste caso é de altíssima qualidade e a única nota.
Com surpresa descobri há dias que afinal existe numa pequena povoação do Portugal profundo uma loja que vende os produtos desta marca. De imediato adquiri um frasco de Patchouli que chegou hoje.
Hoje quando a chuva está mais forte e há um cheiro forte a terra húmida que emana do meu quintal. Tempo de usar o Patchouli SMN e de uma viagem ao centro da terra - não pela escrita do Júlio Verne mas por um aroma primitivo e profundo.
Afinal sou feito de terra. Da terra vim e para a terra vou. Com uma abertura de grande intensidade – e surpreendente para EDC - mergulha-se em terra recentemente molhada pela chuva guiados por um Patchouli de cor vermelha. Após cerca de 30 minutos os estratos geológicos passam a castanho claro e o aroma é picante, almiscarado, amadeirado e discretamente cânforado (mas não “medicinal”).
Finalmente, aos 60 minutos, desembarcamos numa ilha rodeada de lava dourada. O aroma é quente tóxico / exótico, oriental e almiscarado. O centro da Terra. Onde nos sentimos como parte integrante da calma que reina no coração do planeta. Os ombros finalmente descansam por dentro. Durante 24 horas contemplamos as maravilhas de um silêncio mineral desabitado há milénios. Apesar de ligeiramente assustadora no início a paisagem é redentora no final quando redescobrimos a sensação doce e sensual dos chocolates da nossa infância. Um regresso a outra dimensão parada no tempo - de onde serei projectado - ainda com um “scent skin”, por um qualquer vulcão, na próxima manhã, novamente para a loucura da Humanidade que grassa à superfície. Uma experiência única. A experimentar e obviamente a repetir. 

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