Muitos de nós
conhecemos pela primeira vez o aroma de patchouli na década de 1970, e
associamos o cheiro à época dourada do movimento hippie e de Woodstock. No
entanto a Oficina Perfumaria-Farmacêutica Santa Maria Novella (que celebrou
recentemente 400 anos de actividade) - situada em Florença -, já comercializava
a sua colónia de Patchouli durante o século XIX. De facto esta farmácia
descobriu as propriedades aromáticas da planta quando reparou que os capitães
de navios que vinham das Indias usavam folhas frescas de patchouli para cobrir
as cargas valiosas (geralmente seda) que transportavam, porque o aroma de
cânfora do Patchouli as protegiam de infestações durante longas viagens. Ou
seja o Patchouli desta marca era proveniente da Índia e da Malásia. A
respectiva fragrância foi pois lançada há mais de 100 anos e teve um grande
sucesso na transição dos séculos XIX e XX. Actualmente é um clássico que se
redescobre. Citado por muitos “especialistas” como o melhor e ou o “Holy Graal”
das fragrâncias com dominância de Patchouli – que neste caso é de altíssima
qualidade e a única nota.
Com surpresa
descobri há dias que afinal existe numa pequena povoação do Portugal profundo
uma loja que vende os produtos desta marca. De imediato adquiri um frasco de
Patchouli que chegou hoje.
Hoje quando a
chuva está mais forte e há um cheiro forte a terra húmida que emana do meu
quintal. Tempo de usar o Patchouli SMN e de uma viagem ao centro da terra - não
pela escrita do Júlio Verne mas por um aroma primitivo e profundo.
Afinal sou
feito de terra. Da terra vim e para a terra vou. Com uma abertura de grande
intensidade – e surpreendente para EDC - mergulha-se em terra recentemente
molhada pela chuva guiados por um Patchouli de cor vermelha. Após cerca de 30
minutos os estratos geológicos passam a castanho claro e o aroma é picante,
almiscarado, amadeirado e discretamente cânforado (mas não “medicinal”).
Finalmente, aos 60 minutos, desembarcamos numa
ilha rodeada de lava dourada. O aroma é quente tóxico / exótico, oriental e
almiscarado. O centro da Terra. Onde nos sentimos como parte integrante da
calma que reina no coração do planeta. Os ombros finalmente descansam por
dentro. Durante 24 horas contemplamos as maravilhas de um silêncio mineral desabitado
há milénios. Apesar de ligeiramente assustadora no início a paisagem é redentora
no final quando redescobrimos a sensação doce e sensual dos chocolates da nossa
infância. Um regresso a outra dimensão parada no tempo - de onde serei
projectado - ainda com um “scent skin”, por um qualquer vulcão, na próxima manhã,
novamente para a loucura da Humanidade que grassa à superfície. Uma experiência
única. A experimentar e obviamente a repetir.
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