Uma vez houve umas férias, numa praia distante, em Itália, no tempo em que os Verões eram mais longos.
Após uma passagem por Sorrento, onde deambulámos, pela parte antiga da cidade, enebriados, simultaneamente, connosco e com os “limoncello” que beberamos, ficámos hospedados junto a um porto de pesca, sobre o qual se debruçava um penhasco semeado de casario branco e de palácios suspensos.
Nessa altura tudo em volta parecia estar em harmonia connosco. Muito sol, muito azul e o aroma morno dos pinheiros, a servirem de fundo ao romance daquele Verão, em que grupos de borboletas pequenas e azuis insistiam, inexplicavelmente, em dançar à nossa volta...
Tempo de longos passeios, junto às linhas de espuma que as ondas deixavam na areia, ao longo da praia, com o eco encantado do mar ao lado e de descobrir os reflexos especiais das gotas de água salgada no cetim da pele de Verão...
Julgávamos que o mundo nos pertencia. Enquanto as emoções ainda não eram controladas pela razão, tentávamos atingir o desconhecido fintando as regras estabelecidas. E, para continuar a acreditar, líamos Rimbaud, Baudelaire e outros poetas malditos, à tarde na praia, por entre troncos ressequidos que a maré deixava. Enquanto olhávamos, em silêncio, o sol a baixar no horizonte, envolvia-nos o aroma doce e quase infantil a limão e baunilha do “Eau d´Hadrien” que compráramos em Paris e que ambos usávamos.
Acima de tudo era tempo em que éramos capazes de sentir com facilidade as coisas mágicas em volta... fora de nós... e dentro de nós. Tínhamos a noção, muitas vezes, que pensávamos em simultaneidade – como se falássemos sem palavras. As palavras mais importantes, e as letras das canções, eram simples, tinham ligação directa ao coração e genuinas... e diziam com uma força e certeza interior inexplicáveis: "Forever"… "Sincerely"... Eram tremendamente belas porque, "a força estava connosco"...
Sabia que eras tu novamente pelos beijos suspensos com o pôr-do-sol entre os lábios. Pela suavidade e ternura especial no encontro mágico dos lábios… que se acariciavam... se tocavam levemente... intensamente... prolongadamente... acompanhando o ritmo da voz do Elvis com o “Love me Tender” que o gira-discos tocava sem parar.
Só agora, muito tempo depois, é que me apercebo que aqueles momentos eram muito mais importantes do que julgava na altura em que os disfrutava plenamente. Durante aquelas férias em Itália, não sabia então que um dia, mais tarde, agora, voltaria à mesma disponibilidade mágica, numa outra praia, em frente do oceano... Dreaming with the touch of your lips… Next to mine… The thrill is so divine…With all these things that make you mine.
VT
All these things - Harry Connick Jr.
Love me tender – Elvis Presley
2 comentários:
É sempre assim: "Só agora, muito tempo depois, é que me apercebo que aqueles momentos eram muito mais importantes do que julgava na altura em que os disfrutava plenamente."
A ignorância e o desconhecimento de que a vida é feita de poucos momentos destes faz parte da própria vida e do prazer destes momentos.
Incrivel a facilidade com que consegues realizar os textos que apresentas, (historias reais ou imaginárias, textos informativos, descritivos etc).Comunicação existe sempre,(é impossivel não comunicar - Lei da Comunicação) bastando para isso que existam "emissor e receptor e canal". Mas a boa comunicação exige bem mais.... conseguir fazer com que quem lê, visualize o momento, o enredo e assim mais facilmente recebe tambem as emoções implicitas,é caracteristica do Bom Escritor. Com textos simples, claros e leve (like Heaven), tudo flui naturalmente. Isto é Arte de Comunicar....mais uma revelação da tua inteira responsabilidade.
Tudo é perfeitamente adequado.
Mais uma vez parabens.
AC
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