quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um dia na praia


Praia da Foz do Arelho -Junho de 2009

Hoje li que tinham proibido, na praia, a venda de Bolas de Berlim e de gelados.
Recordei, com alguma nostalgia, um tempo de praia que passava mais devagar. Como se rebobinasse um filme no qual já fui actor – integrando rituais familiares na organização de expedições à praia, repetidos diariamente durante os meses de Verão. Uma praia que tanto podia ser na Riviera, na linha do Estoril, em S. Martinho ou aqui na Foz do Arelho.
Entravam sempre, todos os anos, personagens típicos como se tivessem saído das “Férias do Sr. Hulot”. Havia uma baronesa mumificada, de cão miniatura ao peito, em pose de diva (tipo Sunset Boulevard), o grupo de atletas que fazia forças combinadas em pleno areal, o intelectual de cachimbo, o casal de estrangeiros, as avós a fazerem tricô sem parar, as “vamps” sempre com a última moda vestida que o tenista galã tentava despir, o grupo dos piqueniques no pinhal, o cabo de mar e os nadadores olímpicos, crianças chilreando em redor da tenda dos fantoches ou entre baldes, bóias e construções de areia para o mar desfazer pouco depois.
No meio da calma e do calor ecoavam os pregões da preta das Bolas de Berlim e dos pacotes de batas fritas, do homem dos Barquilhos, do vendedor de “Rajá fresquinho” e do “Estica e chocolate prá menina e pró menino”. Como figuras de cal percorriam a praia de lés a lés sobre a tremulina do calor como figurantes de um filme de Felinni.
As senhoras e as meninas jogavam ao prego e ao ringue, enquanto os rapazes liam primeiro a “colecção Joaninha” e depois as aventuras do Zorro e do Capitão Marvel – mais saborosas durante as manhãs enevoadas.
Tudo aparentemente certo como previsto. Ninguém falava sobre qualquer tipo de preocupação. Tudo estava bem, sentíamo-nos rodeados de segurança naquele Presente e tínhamos poucas interrogações sobre o Futuro. Como se alguém supervisionasse e controlasse tudo e todos de modo a evitar qualquer tipo perturbação que nos incomodasse – desde que continuássemos a desempenhar bem, “ao ralenti”, os nossos personagens, dentro de uma redoma de cristal onde estávamos a salvo. Afinal um filme que sinto cada vez mais longe à medida que me aproximo.
Hoje o Presente não é o Futuro que nós, ingénuos e ignorantes, pensávamos no Passado. Hoje julgamos que já não há redomas que nos aprisionam mas cada vez temos mais dúvidas sobre o Futuro neste planeta. Como será que os jovens de hoje sonharão o Futuro neste filme da praia de agora, rodeados de vendedores ambulantes de pulseiras, relógios e óculos de sol de marca que substituíram a preta das bolas de Berlim?
VT

Estate – João Gilberto

Sem comentários: