quarta-feira, 31 de julho de 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Mas as crianças...

Urgência Pediátrica no Hospital da Estefânia em 1976


The song which gives - David Sylvian 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

As antigas Enfermarias dos HCL


Enfermaria do Hospital dos Capuchos em 1976


Lacrimosa - Mozart

Na sequência de anteriores posts sobre o “Espírito” dos antigos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) - assunto sobre o qual foi recentemente publicado um livro - e também acerca da notícia da recente extinção daquela Entidade, bem como de serem públicas as intenções do Estado em transformar o conjunto hospitalar dos HCL em hotéis e habitação (criticado por instituições internacionais e entendido por muitos como uma agressão histórica, urbana e científica, de quem não consegue retirar ensinamentos e potenciar a experiência dos HCL ou de outros hospitais antigos integrados e funcionais na malha citadina como os casos de Londres, Paris, Badajoz, etc.), atrevo-me a continuar a colocar aqui no blogue mais alguns apontamentos sobre aquela prestigiada Instituição.
Tendo como ponto de partida o triângulo: Pulido Valente, Reinaldo dos Santos e o Prof. Wohlwill (Anatomia Patológica), nas primeiras décadas do século XX, formou-se um conjunto de discípulos destes com uma enorme qualidade (Celestino da Costa, Fernando da Fonseca, Cascão de Anciães, etc.) que, a partir da década de 1920, ajudam a solidificar as bases de uma grande Escola Médico Cirúrgica nos antigos HCL, que viria a completar-se (tornando-se quase lendária) a partir da década de 1940.
Colocado nos HCL durante o início da década de 1970 testemunhei ainda aquele “Espírito” onde todos ensinavam e todos queriam aprender num ambiente de grande camaradagem em que dávamos o máximo das nossas capacidades como que tentando, ao mesmo tempo, “sublimar” as deficientes condições logísticas. Situação que se prestava à vivência de experiências inusitadas e de fantásticas “peripécias” clínicas.
A particular atenção que mereciam as Visitas aos Doentes das Enfermarias era um dos pontos principais da actividade clínica. Muitas delas eram quase medievais e estavam sempre atulhadas de Doentes com as mais diversas doenças (inclusive infecciosas), sofrendo e morrendo em simples catres, muitas vezes sem privacidade e ou dignidade. Em compensação as Equipas de profissionais da Saúde ultrapassavam-se a si próprias desdobrando-se em cuidados e atenção aos seus Doentes. Quer os Internos (a quem eram ditribuídos grupos de camas que eram denominadas: "Tiras" - em gíria hospitalar) quer os colegas mais graduados estudavam Doente a Doente com meticulosidade e grande empenho. Depois de pesquisas aturadas na literatura mundial todos procuravam mostrar as suas aptidões e saberes - integrando uma “filosofia” própria dos HCL, que os mais velhos transmitiam e preservavam - para benefício dos Doentes que eram observados “ombro a ombro” com regras de excelência - desde o modo como eram colhidas e escritas as suas “histórias” até às respectivas “marchas” diagnóstica e terapêutica. A aprendizagem contínua e intensiva, bem como o aperfeiçoamento de uma Ética profissional rigorosa foram contributos que não só fizeram escola nos antigos HCL mas também constituíram ponto alto na modulação de comportamentos profissionais que influenciaram gerações que posteriormente difundiram a “diáspora” dos HCL por muitos Hospitais Distritais do País. Um modo muito particular de estar ao lado dos Doentes.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Consulta

Consulta Externa do Hospital dos Capuchos em 1976.
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Ma la vita continua - Nino Rota

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Balcão de Mulheres

Balcão de Mulheres do S. Urgência do H. S. José na década de 1970


Veni Sancte Spiritus - Benedictine Monks of St. Michael´s

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A Visita médica

Conferência médica na cabeceira da Doente (Visita diária) na Enfermaria do Serviço de Medicina 2 do H. de Sº António dos Capuchos em 1975


Life is beautiful - Keb Mo

Nos antigos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) uma das vertentes da actividade clínica mais importantes era a passagem da Visita médica aos Doentes das enfermarias. Autênticas conferências médicas à cabeceira dos internados eram também um ponto alto de exigência da Arte Médica apesar das dificuldades logísticas evidentes. Aí tinham lugar discussões, “sabatinas”, interrogatórios dificílimos em que os mais novos eram bombardeados com múltiplas questões e postos à prova na observação dos Doentes. Tínhamos que saber tudo do Doente e da doença. Procurávamos estar actualizados com os últimos conhecimentos da Medicina. Havia quem aproveitasse a boa vontade de familiares - que gravavam os resumos dos últimos artigos médicos publicados nas revistas de referência, para ouvir os tópicos “up to date” de matéria médica, em cassetes no automóvel, aproveitando o caminho para casa ou para o Hospital. Era um privilégio ouvir finalmente as opiniões de alguns grandes vultos da medicina discorrendo sobre os casos e os Doentes. Era uma autêntica escola selectiva em que procurávamos ser “adoptados” pela “família” dos grandes médicos dos HCL ao mesmo tempo que os Doentes beneficiavam de uma grande atenção.

Para se compreender melhor este “Espírito” de exigência nos HCL, vale a pena contar uma pequena história, relatada por um médico no livro recentemente publicado sobre os agora extintos HCL. O colega tinha acabado de ingressar no Internato dos HCL e logo no seu 2º dia a sua equipa ficou escalada para fazer Consulta Externa - onde ele ficou a ver e a aprender. Quando saía da Consulta pelas 15h para almoçar (a hora de saída era às 13h) encontrou o Director do Serviço onde trabalhava, que também se dirigia para fazer a mesma refeição. O Director (figura prestigiada da Medicina Portuguesa) perguntou-lhe como correra a manhã ao que o Interno respondeu que tinha aprendido bastante com os colegas mais velhos. “ - Muito bem, muito bem! E os Doentes da Enfermaria? - Mas senhor doutor, hoje foi dia de consulta, e ocupou-me para além do horário normal… - Não, não - replicou o Director - Os Doentes são para ser observados todos e todos os dias! Vamos passar visita!”. E lá foram os dois sem almoçar com o Director pela 2ª vez a passar a Visita do dia, desta feita exclusiva para o Interno, aos Doentes da Enfermaria. Foi ao mesmo tempo uma lição sobre o modo como se entendia que os Médicos devem sempre estar ao lado dos seus Doentes. Era assim que se vivia o “espírito” dos antigos HCL.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Outra Medicina

Foto colhida, em meados da década de 1970, do interior de uma antiga Enfermaria do Hospital de. S. José.


Short Angel meditation - Angèlia Grace

Tenho saudade de outros tempos na Medicina. Apesar de ter sido exercida muitas vezes em más condições logísticas (antigos colégios ou conventos adaptados) e de não existirem os equipamentos para diagnóstico e terapêutica tão avançados como nos dias de hoje.
Sobretudo durante o Século XX viveram-se tempos históricos na Medicina Portuguesa com a existência de verdadeiras Escolas de excelência Médica. Aprendi, nos recentemente extintos Hospitais Civis de Lisboa, tempos da clínica sempre ao lado do Doente. Clínica dos olhos que curam em vez da clínica de olhos no computador. Medicina de ouvir e observar o Doente em vez de sobretudo ler relatórios de exames complementares (sem menorizar o papel que possam ter). Tempos de saber, mérito, dedicação, respeito e compaixão em vez de atenção focada na ”eficiência”, nas estatísticas, na produtividade e sobretudo no economicismo. Saudade em que o Doente não era um número que segue um protocolo de procedimentos predeterminado. Saudade em que as decisões sobre os Doentes eram inspiradas por uma verdadeira clínica também atenta às angústias, às dúvidas e não só aos sinais e sintomas. Assisti muitas vezes a diagnósticos e decisões certas sem o auxílio sequer de uma análise. Saudade de uma Medicina em que o Médico era o Amigo e conselheiro e não mais uma pessoa em quem não se confia. Saudade de uma Medicina em que imperava o rigor - independente de grupos económicos ou políticos em busca de bons negócios e em que o Doente não era mais um na cadeia de produção na qual se tenta desesperadamente poupar. Mas como se fala pouco tempo com o Doente - porque a quantidade é mais importante - quantas vezes não se repara que o Doente está a repetir o mesmo medicamento ou a tomar medicamentos desnecessários ou antagónicos. Saudade de uma Medicina com tempo - sobretudo para o Doente. Como foi possível perder-se muito do Humanismo que enriquecia o passado da Medicina em Portugal. Saudade de ensinar a ensinar os mais novos na Arte de fazer Medicina - que vai ficando cada vez mais longe com um crescente sufoco para com os sobreviventes que querem sempre ser exigentes consigo próprios e fazer mais e melhor.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A neblina

Corredor do Serviço de Observações do S. Urgência do antigo Hospital de S. José na década de 1970 (a propósito do livro recentemente editado sobre o “espírito” dos antigos Hospitais Civis de Lisboa).

Sleep - Lisa Gerrard

Às vezes durante os sonhos regresso lá. Como se nunca de lá tivesse saído. E continuo a ouvir a dor nos olhos do Doentes no S. Urgência do H. de S. José onde fazia “Banco”. Um pesadelo de côr negra e ao vivo que pouca gente, hoje, imaginaria. Sem condições logísticas parecia um Hospital de Campanha onde se operava de porta aberta para o corredor do S. de Observações (S.O.) que mais parecia um campo de refugiados de guerra onde as macas se amontoavam lado e a lado e os Doentes ficavam deitados ao lado do sofrimento do vizinho. Eram os que já não cabiam em 4 pequenos cubículos, ao lado do corredor central, que se denominavam também S.O. de Homens e Mulheres. Sombras na penumbra cheirando a sangue, suor e miséria. Regresso às noites sozinho escalado num dos Balcões (de Homens e de Mulheres) que atendiam a grande Lisboa e o Sul inteiro do país numa sala subdividida em 3 espaços, na companhia de bêbados, sem abrigo, traumatizados diversos, asmáticos, etc. Como foi possível conseguirmos tratar aquelas pessoas todas só com a vontade de fazer o melhor e quase o impossível durante 24 horas seguidas de descida ao inferno da dor humana encerrada nos antigos claustros do edifício. Nos sonhos regresso à neblina que invadia os corredores escuros no frio dos Invernos para distribuir mais cobertores aos que aguardavam o veredicto do seu Destino.
Mas o extraordinário era o “espírito” de toda uma equipa de médicos e enfermeiros que com saber e um enorme profissionalismo davam de si o melhor num ambiente de rigor vigiado por grandes “Mestres” na Arte Médica. E apesar de tudo - todos os que lá trabalhavam sorriam com uma disposição positiva e contagiante. É uma fase que fica na História da Medicina e da Saúde em Portugal. Nunca mais assisti a exemplos de tão grande profissionalismo. Hoje as condições logísticas e tecnológicas melhoraram mas nunca mais encontrei aquele “espírito” que unia aqueles profissionais naquela altura (décadas de 1960 e 1970) no “Banco” de S. José. A não ser nos quadros sempre a preto e branco que rebobino, durante os meus sonhos, nos quais descortino a minha figura ainda ao lado de Doentes cuja história sei de cor no Banco de S. José. Como se tivesse ficado lá.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Listen

Perhaps when we met before we did not saw each other. Perhaps we were lost in thoughts just passing by - walking someplace. Maybe we will see each other at last next time we´ll met - somewhere at right time - when we will no longer imagine that can happens. Then we can say: for a moment I thought we are not going to find each other.

L´Amore che - Paolo Conte

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Dreamcatching

Clouds come floating into my life, 
no longer to carry rain or usher storm, 
but to add color to my sunset sky.
~ Rabindranath Tagore ~

Dreamcatcher - Secret Garden