quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Rua da Mata

“… Os divertimentos de dia são de manhã na copa, de tarde nas partidas de prazer em cavalgaduras pequenas ao Senhor da Pedra, a Óbidos à lagoa, ao Convento dos padres Arrábidos das Gaeiras, ou passear na cerca e quinta do Hospital; onde há, além de pomar, horta, jardim e vinhas, um delicioso bosque cortado de várias e compridas ruas, nas quais somente se conhece o artifício. Há também outras quintas ao redor da Vila, e uma rua de loureiros à entrada dela para os exercícios mais moderados…” Joaquim Inácio de Seixas Brandão in Memorias dos anos 1775 a 1780 para servirem de Historia à análise, e virtudes das águas termais da vila das Caldas da Rainha.

Behind The Gardens/Under the tree - Andreas Vollenweider

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tropical Mood

Nesta semana de Setembro em que, inesperadamente, se faz sentir um calor quase digno dos trópicos, lembrei-me de aqui trazer um tema a condizer. "Begin the Beguine" foi mais um dos temas famosos escritos por Cole Porter (1891–1964), que o compôs ao piano no bar do Hotel Ritz de Paris. Em Outubro de 1935, faria a sua 1ª aparição pública através da voz de June Knight num musical da Broadway, “Jubilee” no Teatro imperial de Nova York. O tema viria a tornar-se um dos maiores sucessos da era do “Swing” e tem vindo a ser interpretado por inúmeros cantores de grande craveira – incluindo recentemente os REM que jogando com as palavras chamaram-lhe “Begin the Begin” no disco “Lifes Rich Pageant”. Fred Astaire e Eleanor Powell dançaram uma célebre versão instrumental no filme “Broadway Melody” (1940), Deanna Durbin cantou-o, em 1943, noutra fita (“Hers to Hold”) e, em 1946, foi a vez de Carlos Ramirez interpretar a canção na longa-metragem “Night and Day”. Curiosamente "Begin the Beguine” surge, em 1968, no filme “Yellow Submarine”, com os Beatles, durante uma conversa entre John e Jeremy. Mas para hoje escolhi uma soberba interpretação (2001) do grande pianista cubano Pepesito Reyes que, para além de ser o responsável pela linha melódica principal de “Guantanamera”, acompanhou nomes como Benny Moré, Duke Ellington, Nat King Cole e Tito Puente. Com 85 anos, Reyes continuava a tocar e encantar pelo mundo inteiro com o seu estilo marcado por um sabor tropical. É difícil resistir e não dançar este tema embalado pelo ritmo caloroso do “pianar” mágico de Pepesito Reyes (“even the palms seem to be swaying…”).
VT
...
When they begin the beguine
it brings back the sound
of music so tender
it brings back a night
of tropical splendor
it brings back a memory of green
I'm with you once more
under the stars
and down by the shore
an orchestra´s playing
and even the palms
seem to be swaying
when they begin the beguine
to live it again
is past all endeavor
except when that tune
clutches my heart
and there we are swearing to love forever
and promising never
never to part
a moments divine
what rapture serene
to clouds came along
to disperse the joys we had tasted
and now when I hear people curse the chance that was wasted
I know but too well what they mean
so don´t let them begin the beguine
let the love that was once a fire
remain an ember
let it sleep like the dead desire I only remember
when they begin the beguine
oh yes let them begin the beguine
make them play
till the stars that were there before
return above you
till you whisper to me
once more darling I love you
and we suddenly know what heaven we're in
when they begin the beguine

Begin the Beguine – Pepesito Reyes

sábado, 26 de setembro de 2009

A Árvore e o Espírito de Lugar.

Tal como as duas anteriores esta árvore tem mais de 300 anos, pertencendo a uma fase inicial da Mata das Caldas da Rainha da responsabilidade dos provedores dos séc. XVI e XVII. Situa-se logo abaixo (Poente) e à direita de quem desce vindo da captação AC2. Tem mais de 25m de altura e uma copa muito larga, destacando-se o diâmetro do seu tronco - muito superior ao dos outros Carvalhos em volta. Ficamos com ideia, dada a abundância desta espécie na Mata, que houve intenção de a previlegiar. Talvez porque possui uma madeira muito forte e resistente (daí a ser muitas vezes associado à representação da longevidade, e da sabedoria), ou devido às referências anteriores da sua ligação ao Sagrado. De facto, a Cultura Celta acreditava existir dentro do Carvalho um poderoso e benéfico espírito, possuidor de grande Força, Sabedoria e Resistência. Cada Carvalho funcionaria como um portal natural aberto para os demais seres para além das fadas que os habitavam. Sempre que se encontrasse um Carvalho viçoso, com certeza ali haveria um grande número de Fadas a proteger o Local e a Árvore. A Bíblia usa esta árvore como referência pelo menos 23 vezes e os romanos consagraram-na a Júpiter tecendo, a partir da sua folhagem, as coroas dos heróis. Na Idade Média era objecto de culto (era a árvore de Robin dos Bosques) e ao longo dos séculos, o carvalho foi a árvore florestal mais importante da Europa, protegida e cultivada sempre que possível. Actualmente já não existe este cuidado mesmo que se sinta uma mudança de mentalidades. Os carvalhos produzem uma madeira mais valiosa que todas as outras e formam uma floresta, do ponto vista ecológico, preferível. São árvores admiráveis que podem atingir os 400, 500 anos e, por vezes, os 800 anos de idade. Os japoneses têm um provérbio que diz que o "carvalho leva 300 anos a crescer, 300 anos a manter-se adulto e 300 anos a morrer". Os carvalhos têm vindo a rarear na flora europeia e perderam, neste momento já, a gloriosa importância de outrora. E os carvalhos seculares, como as grandes jóias da arquitectura que mãos piedosas carinhosamente ergueram, pertencem ao passado. Se desaparecerem jamais se substituem. O carvalho permanece, no entanto, como um símbolo com significado espiritual e um bem valioso.
Bem gostaríamos que o efeito protector que os antigos acreditavam existir se manifestasse agora. De facto este é um tempo decisivo para todo o Património Termal das Caldas da Rainha – que inclui a Mata, e cujo futuro irá, certamente, ser estudado e equacionado tal como anunciado pelo Ministério da Saúde. Fala-se em fim de ciclo. Mas será então importante que em novo ciclo se procure manter toda uma herança patrimonial, transmitida ao longo de gerações durante mais de cinco séculos, que tem como origem o legado da Rainha D. Leonor e sucessivas doações da própria população. E essas doações, e respectivas intervenções urbanísticas, obedeceram quase sempre a uma estratégia global e integrada para todo o Património Termal, articulando, ao longo do tempo, de um modo complementar e sinérgico as diferentes peças que compõe a actual Estância Termal das Caldas da Rainha. Aquele princípio que se tem transmitido, desde os antigos Provedores até à actualidade, em que a manutenção da unicidade física e funcional de todo o actual Património Termal das Caldas da Rainha é uma herança a preservar – é afinal uma mais-valia fundamental para a estratégia termal e concelhia. Assim os Caldenses o compreendam.
VT
O Fortuna (Carmina Burana) – Carl Orff

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um Bom Gigante

Este pinheiro manso, de porte fora do comum (tem mais de 30m de altura quando em geral esta espécie não ultrapassa os 20m) , situado na Mata das Caldas logo acima (nascente) da captação AC2, tal como o cedro do “post” anterior, deverá ter mais de 300 anos, De facto, tal foi a opinião dos especialistas, como o Professor Fernando Catarino durante visita que efectuou a este espaço verde - quando ainda era responsável pelo Jardim Botânico de Lisboa. Isto torna-o mais um caso único já que habitualmente esta espécie não ultrapassa os 250 anos de vida. Teria sido portanto, durante o Sec. XVII que este bom gigante iniciou a sua vida. Um século em que a vila tinha apenas 193 fogos e cerca de 800 habitantes (1656), em que o Infante D. Afonso e D. João IV vinham tratar-se com as água termais, e em que o Hospital Termal era administrado por Provedores, como Frei Jorge de São Paulo que viria a falecer, em 1664, depois de nos ter deixado uma obra fundamental: “História da Fundação deste Hospital Real”. Frei Jorge de S. Paulo que descreve, deste modo, os terrenos arborizados que rodeavam, então, o Hospital e às quais se tinha acesso através de uma “escadaria a norte da sala dos Reis”: “… Dilatados bosques, alegres jardins (…) depositado tudo no coração do grandioso circuito deste generoso Hospital, cercado todo em torno de fortes muros capazes de sua segurança e guarda dos frutos que a natureza produzir e a humana industria beneficiar; recreação ordinária dos religiosos que nem sempre ocupam os oratórios com suas pessoas pois se reservam horas para descanso da humanidade que para esse honesto fim se plantam amenos bosques e bem sombreadas alamedas, se cultivam jardins e se buscam as correntes das cristalinas águas… ”. Recentemente houve que libertar este venerável pinheiro de vários arbustos “infestantes” que tinham surgido em sua volta impedindo a sua adequada iluminação. Imaginamos pois que antes de estender os seus braços como tentáculos ao vento e as suas raízes descerem por entre constelações subterrâneas e outros mistérios na profundidade da terra, a sua juventude atravessou o segredo do bosque das Caldas, embalada pelo eco dos sinos da Igreja do Hospital nas manhãs que entravam pelos campos adentro.
VT


Bells Across The Meadows - Albert W. Ketelbey

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Árvore Centauro

Este cedro imponente, qual centauro de madeira, é uma das mais antigas e importantes da Mata das Caldas da Rainha. Terá mais de 300 anos e só algumas pessoas de mãos dadas conseguem abranger o seu tronco. Faz parte de um núcleo restrito de árvores ilustres e mais “veneráveis” que integra aquele espaço verde de grande importância local (o aquífero de água termal com características singulares – à escala planetária – percorre o seu subsolo), e que serão tema de futuros “posts”, onde merecerão destaque, também, um pinheiro manso e um carvalho que já existiam desde a mesma altura, portanto muito antes da requalificação efectuada pelo Administrador do H. Termal, Rodrigo Berquó, no final do séc. XIX. Situa-se junto ao topo norte do jardim da Rainha e é, certamente, um dos “tesouros” a respeitar e acarinhar de um modo especial dentro da Mata Rainha D. Leonor. Há quem diga que o cedro cresceu tanto porque conversa, lá de cima, com os deuses. Quem o abraça fica convencido.
VT

Mythodea, Movement 5 – Vangelis com Kathleen Battle

domingo, 20 de setembro de 2009

Claridade

Janis Ian (n. em 1951) foi uma das compositoras e intérpretes norte-americanas mais interessantes das décadas de 1960 e 1970, continuando a actuar e a gravar até aos dias de hoje. Ella Fitzgerald considerou, Janis, na altura, a melhor jovem intérprete dos EUA. De facto, Janis, que começou a carreira aos 13 anos, tinha um enorme talento e era uma autêntica “força da Natureza”. As suas actuações ao vivo eram apaixonantes. A audiência ficava submergida por uma emoção que levava muita gente às lágrimas perante a paixão que Janis colocava nas suas interpretações. Um sopro mágico varria o auditório quando ela cerrava os olhos e começava a cantar, entrando nos silêncios mais profundas de cada ouvinte. Julgo que não foi suficientemente apreciada em Portugal e hoje quase ninguém a conhece (com excepção de um reduzido número de apreciadores – entre as quais me incluo). Por isso hoje trouxe Janis interpretando ao vivo (não podia deixar de ser) aquele que foi talvez o seu maior sucesso: “At Seventeen” - foi nº 1 no Billboard Adult Contemporary chart e nº 3 no Pop Singles chart em Setembro de 1975, vencendo o Grammy Award for Best Female Pop Vocal Performance em 1976, à frente de Linda Ronstadt e de Olivia Newton-John, tendo sido ainda nomeado como "Record of the Year" e "Song of the Year". Trata-se de uma canção, escrita durante 1973 e gravada no ano seguinte, sobre o sofrimento de uma adolescente que se sente incompreendida e só, julgando que ninguém repara nela e nunca viria a ser cortejada (“love was meant for beauty queens”) por algum colega do liceu (“Valentines that never comes”). Como se existisse, para ela, apenas um caminho sem saída e onde se descortinava apenas o nevoeiro das desilusões. Não reparava ainda que afinal há uma claridade âmbar iluminando um espaço sépia sem tempo que habita dentro de nós. Brilha mais quando ouvimos "At Seventeen" cantado por Janis Ian.
VT
“To those of us who knows…”
At Seventeen – Janis Ian

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

The only road

Richard Hawley (n. em 17 de Janeiro de 1967 – Sheffield, UK) é um excelente guitarrista, cantor e compositor. O seu talento é amplamente reconhecido no estrangeiro. A sua voz impressiona, sendo quase uma “actualização” de Roy Orbison, e as suas canções sumptuosas têm tido merecido destaque no estrangeiro. O seu talento e influência têm sido referenciados pelos consagrados REM, Coldplay, Radiohead e outros. Como em Portugal é praticamente (e injustamente) um desconhecido entendi por bem divulgar mais um dos seus sucessos como forma de alertar os meus visitantes e amigos para este intérprete (já em posts anteriores coloquei outros 2 exitos de Hawley: “Valentine” em 10/5 e “The ocean” em 19/6). Após fundar algumas bandas enquanto estudante, Richard tocou com os credenciados Pulp que descobriram as suas qualidades através de um dos seus elementos (Jarvis Cocker). Impressionados por uma gravação caseira das suas canções, Jarvis e Steve Mackey, “empurraram-no” para um álbum (2000) que viria a ser o 1º dos cinco que até agora publicou. Com o nome de “Richard Hawley” o disco foi notado sobretudo devido à canção “Coming Home”. Em 2001 sairia Late Night Final (com o “hit”: "Baby, You're My Light") que recebeu os melhores comentários dos críticos musicais. O disco seguinte: “Lowedges” (“Run for me” e The only road” foram os grandes temas desse disco) sairia em 2003. O NME nomeou-o como o 1º grande álbum de 2003 e ficou no top dos melhores do ano segundo a Virgin Radio. Por todo o lado a crítica rendeu-se ao trabalho de Richard. Em 2005 o seu álbum “Cole´s Corner” (“The Ocean”, "Just Like the Rain", "Born Under a Bad Sign", "Coles Corner", "Hotel Room") foi nomeado para o “Mercury Prize” (os Arctic Monkeys que viriam a ganhar esse galardão exclamaram “someone call 999 – Richard Hawley has been robbed!”). Em 2007 sai outro álbum fantástico: Lady´s Bridge (Lady´s Bridge , "Tonight the Streets Are Ours", "Serious", "Valentine", “Lady´s Bridge” e em 2008 Hawley foi nomeado: “O melhor intérprete inglês”. Está prevista a edição, em 21 de Setembro deste ano (mal podemos esperar) do seu 6º disco “Truelove´s Gutter”. Todos os discos têm composições originais, do próprio Hawley, atravessadas por uma nostalgia feita de estradas solitárias e de amores nunca alcançados. A canção que escolhi é uma das minhas preferidas (tive que fazer o “upload” para o Youtube – onde não constava) e na qual se destaca um fabuloso solo de guitarra… que desperta uma vontade enorme de dançar… VT “So, please keep me in your heart…”
The only road – Richard Hawley

sábado, 12 de setembro de 2009

Sinais


There's a summer place
Where it may rain or storm 
Yet I'm safe and warm
For within that summer place
Your arms reach out to me
And my heart is free from all care
For it knows
There are no gloomy skies
When seen through the eyes
Of those who are blessed with love
And the sweet secret of
A summer place
Is that it's anywhere
Where two people share
All their hopes
All their dreams
All their love
There's a summer place
Where it may rain or storm
Yet I'm safe and warm
In your arms, in your arms
In your arms, in your arms
In your arms, in your arms.

Words by Mack Discant, music by Max Steiner. From the 1959 film, A Summer Place, starring Sandra Dee and Troy Donahue. #1 hit instrumental for Percy Faith in 1960. Lyrics as recorded by The Lettermen in 1965 (#6)


A Summer Place - The Lettermen

Prémio II

É sempre ingrato atribuir prémios quando tantos Blogs de qualidade existem. Há muitos que o mereceriam também. No entanto na impossibilidade de incluir mais, e na sequência do post anterior devo atribuir o "Vale a pena..." apenas a 10 Blogs. Não considerei Blogs de autores consagrados e ou de venda de fotografias, serigrafias, etc. Por outro lado há Blogs que me parecem excelentes mas só como agora os estou a começar a seguir necessito de os conhecer melhor.
Pedindo desculpa de não conseguir nomear todos os que desejaria indico:
O que eu andei ... Alice atrás do espelho EXTERNATO RAMALHO ORTIGÃO - ANTIGOS ALUNOS Toque d´Alma amatamari Céu Aberto Miradas y Palabras mariabesuga Momentos de la Vida Primeiramente

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Prémio I

O excelente blogue Catharsis que vos convido a visitar, atribuiu ao "Heavenly" um prémio que me sensibilizou. O "ficar de olho" é uma distinção que vai passando de Blog em Blog. Como? Cada Blog nomeado, por sua vez tem que nomear outros 10 que mereçem a melhor atenção dos viajantes da Blogosfera... O meu muito obrigada à Ana Paula por este gesto, o qual constitui um estímulo para continuar e melhorar esta experiência chamada "Heavenly".
Na sequência desta nomeação, devo indicar 10 blogues que considere "valer a pena ficar de olho" como diz o "selo" recebido. Vou ponderar... Os Blogs nomeados pelo "Catharsis" foram: Branco no Branco Heavenly Ferreira de Castro Um Mundo Infestado de Demónios Continuando Assim Contracenar Deserto do Mundo Pretérito mais-que-perfeito Triunfo d'Arte Paul Auster

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Praia solitária II

Houve um Verão longínquo em que quase habitei, durante cerca de 2 meses, numa praia solitária. O areal imenso e desértico era ponteado pelas minhas pegadas e por algumas rochas que, na maré vazia, se organizavam em piscinas naturais. Nu, percorria o passeio de areia molhada num ritual de conchas e sal. Ao fim da manhã ia até um pequeno restaurante-cabana de madeira e colmo, construído pelos pescadores locais no sopé da falésia onde as escadas de terra batida desaguavam na praia, e ali acabava por almoçar. O ar era invadido, então, pelos odores de moreia frita, sargo na brasa e outros peixes cozinhados logo após a pescaria diária. Nas horas de maior calor refugiava-me na frescura de uma ravina entre falésias – onde pinheiros e figueiras estendiam silêncios e sombras. Sob o aroma de resina, de pinhões e das folhas das figueiras deliciava-me com pêssegos suculentos - cujo mel escorria abundante pelo meu rosto enquanto os trincava com volúpia. O silêncio era interrompido apenas pela vibração das cigarras e pelo eco longínquo da cavalgada das ondas. Tempo infinito, em frente do horizonte, saboreado minuto a minuto sem necessidade de abrir a caixa dos sonhos ficcionados - porque o sonho estava lá. Mergulhava no dourado do sol no oceano e quando a noite chegava: apanhava-me a flutuar na cintilação do luar na superfície da água do mar – à espera das estrelas cadentes. Mais tarde no meio do deserto da noite, enquanto esperava o oásis do amanhecer, o meu corpo escurecia mais (como o mar) deitado na cama da areia. A brisa nocturna vinha suavemente acariciar os sentidos transportando o sonho no qual uma desconhecida, que esperava, me encontraria finalmente. A paisagem tornou-se, com o passar dos dias, cada vez mais transparente, permitindo-me entrar dentro dela ao mesmo tempo que a sentia dentro de mim. O eco da praia morava na serenidade especial que se instalou no meu peito.
Hoje no lugar daquela praia solitária existem aldeamentos desordenados, turistas, barulho e muito lixo. As praias solitárias estão a desaparecer na paisagem – dentro de nós também. A brisa, essa… continua.
VT
Light as the breeze - Leonard Cohen

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Atmosfera

Melancolia de néon verde na vertigem da noite de açúcar
Na cidade das estátuas que sonham
Navios que partem quando chegam
Brisa quente e perfumada de especiarias
Pedaços de lua nos olhos dos amantes
Tâmaras maduras no sabor dos corpos
Beijos cintilando na atmosfera tropical
Eco de desejos na transparência do ar
Flores escritas no crepúsculo com aparo antigo
Estrelas que caiem no mar iluminado pelos pássaros
Murmúrio de conchas no silêncio das lendas e dos seixos
Sob o suave acenar das folhas das palmeiras
Dancemos… 


Dance Me To The End of Love - Leonard Cohen

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O sabor da noite

a noite chega na respiração da maré anunciada pelo rumor das luzes da cidade ao longe invade suavemente o espelho da areia molhada ao lado do Silêncio o entendimento é perfeito porque hoje não há palavras nos lábios do mar tempo de redescobrir a magia de ficar de mãos dadas cheias de pétalas por dentro do sabor da noite os dedos por cima e dentro de outros assim… como se fossemos os únicos habitantes de uma ilha deitada sobre a eternidade
VT

Stand by me – Ben E. King