quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As Pessoas e o futuro da Praça da Fruta

A Sra Rosa Conceição Costa tem 79 anos de idade. Vem, diariamente, com os produtos da sua lavra na freguesia de Alvorninha, até à Praça da Fruta das Caldas da Rainha. Tal como a Sra Hermínia Joana (75 anos) do lugar de Lagoa Parceira, e como a Sra Assunção Fialho (73 anos) oriunda da freguesia de Salir de Matos. Todas portanto residentes no Concelho onde é realizado o mercado. Pertencem à geração de vendedores/produtores mais antigos que vendem na Praça (começaram entre os 7 e 18 anos). Com nostalgia e tristeza relatam tempos em que a Praça se enchia com produtores/vendedores da região e regurgitava de visitantes. Hoje são poucos os que resistem à chegada de vendedores/intermediários e à concorrência de produtos que não são da região (alguns do estrangeiro). Como referimos anteriormente (post de 2 de Outubro 2009) a Praça tem uma enorme importância (e mais-valia) histórica e uma originalidade que advém da sua cobertura celeste. Mas a Praça não se faz apenas com o empedrado do tabuleiro e com a pontualidade do céu aberto. Faz-se também com as Pessoas. Uma das suas características e atractivos essenciais, foi sempre a possibilidade de aquisição de produtos hortícolas mais frescos, mais baratos e directamente ao produtor. No entanto, com a extinção progressiva dos agricultores que vendem os seus produtos, interrogamo-nos sobre o que tem sido feito, e ainda sobre o que fazer, para não se perder o “capital” humano que contribui diariamente para a manutenção da personalidade própria de uma Praça – através de uma das suas características essenciais – diferente de todas as outras do País. Os representantes autárquicos falam com as Pessoas que vendem na Praça da Fruta? Os representantes autárquicos regulamentaram medidas para salvaguardar o futuro deste Ex-líbris das Caldas da Rainha? Que futuro (próximo) para a Praça da Fruta sem os verdadeiros vendedores/produtores da região? Uma Praça igual a tantas outras e repleta de intermediários jamais será a reconhecidamente “célebre” Praça da Fruta das Caldas. No meu modesto entender, é URGENTE que, para além da preservação do espaço, haja investimento nas Pessoas que lá trabalham. Ou seja, a criação de incentivos exclusivos: para os produtores que vêm vender directamente na Praça e ainda para a agricultura biológica, recrutando assim novas gerações de agricultores que, assegurem a viabilidade futura da tradição da Praça e que sigam o exemplo da D. Rosa, da D. Hermínia e da D. Assunção – que hoje aproveitamos para homenagear.
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Soria Maria - Jan Garbarek

domingo, 25 de outubro de 2009

Just another sunset

Richard Harris (1 Outubro 1930 – 25 Outubro 2002) nasceu na Irlanda. Era filho de um moleiro mas foi educado na Sagrado Coração de Jesus Colégio dos Jesuítas, e mais tarde estudou na Academia de Londres de Música e Arte Dramática. Foi conhecido sobretudo como um grande actor. Desempenhou papéis inesquecíveis em “Camelot” (1967 - como Rei Arthur), Cromwell (1970), “A Man called horse” (1970), “Unforgiven” (1992), “Gladiator” (2000), até aos recentes filmes de Harry Potter (na personagem de Dumbledore). No final da década de 1960 foi no entanto, talvez o actor mais popular na história da música popular, quase rivalizando com os Beatles. O seu disco “MacArthur Park” (canção de Jimmy Webb que atingiu o “top ten” em ambos os lados do Atlântico) em conjunto com o filme “A Man called horse” transformaram-no num ícone da cultura popular de então. Após o enorme êxito como “actor-cantor” em “Camelot”, com a sua voz atraente e com dicção impecável (semelhante à de Rex Harrison), foi convidado por Jimmy Webb, um ano depois, para gravar (1967) uma canção com cerca de 7 minutos “épicos”: “MacArthur Park” – que se tornaria uma das suas imagens de marca. Em 1968 seriam editados “Tramp Shining” (um álbum conceptual, sofisticado e muito bem produzido) e “Yard Went on Forever” (também com Webb). Apesar de não terem o sucesso comercial do anterior, continham temas com interpretações fortes. Sucederam-se “My Boy”, “The Love Album”(com algumas das melhores faixas dos discos anteriores), “Slides” (1972), “His Greatest Performances” (1973), "Jonathan Livingston Seagull" (1973), “ The Prophet” (1974), “I, in the Membership of My Days” (1974) e “Camelot” (Original 1982 London Cast Soundtrack) (1982). As suas interpretações têm a mais-valia de, para além de cantadas, conterem a emoção e a voz de um grande "diseur". Apesar da qualidade dos discos anteriores ficou para sempre gravada na minha memória a canção “Slides” (do LP com o mesmo nome) em que Harris alterna a voz do cantor com a do actor. Só recentemente saiu em CD, permitindo que eu a colocasse no Youtube. Um clássico guardado no armário das grandes canções românticas de sempre.
Slides – Richard Harris

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Stormy Weather

Praia da Foz do Arelho às 18h30m de 21/10/2009


Stormy Weather – Billie Holiday

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Lonely tree at sunset

It Never Entered My Mind
(Lyrics by Lorenz Hart, music by Richard Rodgers)
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Once I laughed when I heard you saying
That I'd be playing solitaire
Uneasy in my easy chair
It never entered my mind
And once you told me I was mistaken
That I'd awaken with the sun
And ordered orange juice for one
It never entered my mind
You had what I lack, myself
Now I even have to scratch my back myself
Once you warned me that if you scorned me
I'd say a lonely prayer again
And wish that you were there again
To get into my hair again
It never entered my mind
Once you warned me that if you scorned me
I'd say a lonely prayer again
And wish that you were there again
To get into my hair again
It never entered my mind
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It never entered my mind - Coleman Hawkins and Ben Webster

terça-feira, 13 de outubro de 2009

The Waiting

Paisagem paralela na Lagoa
O deserto do dia ecoa em tons de castanho
Um silêncio âmbar cai vertical sobre a escuridão ardente da ondulação
Como se algo de extraordinário estivesse para acontecer
A qualquer momento
Alguém vai emergir e nadar
Na minha direcção


Song to the Siren - This Mortal Coil

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Reverie

Vladimir Horowitz foi (1/10/1903 a 5 /11/1989) um pianista clássico, com um estilo muito próprio (“Horowitziano”), de grande virtuosismo e considerado como um dos mais brilhantes de todos os tempos, devido à sua excepcional técnica aliada às suas actuações contagiantes. Foi considerado por muitos o indiscutível mestre em Scriabin e Rachmaninoff. Deixou a Rússia em 1925, sob a promessa de não se esquecer da mãe-pátria. Viria a naturalizar-se americano em 1942 e esteve mais de 60 anos sem regressar à sua terra natal. Aos 82 anos sucumbiu ao desejo de ver por uma última vez a Rússia antes de morrer. Ao abrigo de um acordo entre os USA e a URSSR, pediu para regressar como “embaixador da Paz”, considerando a tensão política que se vivia na altura (a aviação americana atacara a Líbia). Assim, em 20 de Abril de 1986, Horowitz tocou o seu Steinway pessoal perante uma audiência “electrizada”. A sessão foi alvo de gravação televisiva e em CD. Uma multidão que não conseguiu lugar no auditório ficou durante o concerto à porta do Conservatório de Moscovo – como quem diz: presente! As palmas e os “Bravos!” sucederam-se num ambiente de rara emoção. Havia quem dissesse que aquela interpretação “era sobre humana e vinha do céu” e um pianista russo conhecido exclamava que Horowitz “era o único pianista que conseguia tocar as cores”. Quando num dos “encores” o filho pródigo amado por toda aquela gente tocou Traumerei (“Reverie”) de Schumann… Sentiu-se que algo de mágico e poderoso se estava a passar. Uma corrente de ternura colectiva “explodiu” em direcção àquele velhote franzino, ao piano, que morreria em breve (3 anos depois) mas que antes quis dar o melhor que a sua alma guardava, naquele preciso momento, ao seu país de origem. As notas de Traumerei caíam cristalinas num silêncio total. As pessoas não estavam tristes, antes exultavam em poder assistir a algo de inimaginável. A câmara da televisão mostrava (vale a pena ver no Youtube) rostos emocionados no público suspenso daqueles 2 minutos e 27 segundos. As lágrimas que escorriam pelas faces dos espectadores são também as nossas. Não por acaso, escolhi uma fotografia “a preto e branco”, de um grupo de árvores junto ao lago do Parque das Caldas, para acompanhar a música de hoje porque estou certo que as notas tocadas por Horowitz irão colori-la com as cores dos sonhos. Enjoy…

Horowitz plays SchumannTraumerei in Moscow (1986)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Caminhando sobre as estrelas

O Mercado das Caldas realizava-se inicialmente no Largo da Copa em frente ao Hospital Termal e passou, durante o século XVIII, para esta praça (então Praça Nova). Em 1886-7 passou a ser denominada de D. Maria para, após o 5 de Outubro de 1910, ficar definitivamente: da República. Sobre este empedrado construido, em 1883, consoante projecto de Celestiano Rosa (tendo o proprietário Fauistino da Gama contribuiu com 2 contos de réis), continua a realizar-se diariamente e tal como no início - a céu aberto, o famoso Mercado da Fruta das Caldas da Rainha. Tem surgido periodicamente, desde o início do século XX, a polémica de a substituir por um Mercado Fechado, com os argumentos da maior ou menor facilidade na higienização da praça, de se pagar o imposto de Terrado, e de uma eventual vocação para Passeio Público. Felizmente tem-se mantido a tradição em que a cobertura é o céu. Este facto é uma mais-valia porque dá uma beleza e colorido próprio aos vegetais (julgo que as cores serão mais vivas e saturadas devido a serem iluminadas pela temperatura de cor do sol em vez da proveniente de luzes artificiais), tal como defendia, em 1926, Luis Teixeira nas páginas da Gazeta das Caldas, com receio que se tornasse igual a tantas outras encerradas em edifícios construídos para o efeito. Será desejável que a Praça assim se mantenha e que continuemos a caminhar sobre as suas estrelas - mas debaixo da abóbada celeste.


What are you doing the rest of your life - Chris Botti e Sting