quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010

Cosmic light. Acrílico sobre tela. 1m X 1m. VT/2006
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May your days be bright and your heart be light through the coming New Year!
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Life in The Gravity Well - Michael Stearns

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Luzes da Cidade

Praça da Republica das Caldas da Rainha (Dezembro de 2009)
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Limelight (Charles Chaplin)

A Praça da República nas Caldas da Rainha, hoje, fica praticamente deserta após a hora do jantar. Antes era palco constante de famílias e grupos de amigos passearem-se (fazendo “piscinas” para cima e para baixo) e convivendo de noite após uma bebida no Café Central. Como também para muitas outras Praças e ruas por esse País fora, tudo começou, provavelmente, em sete de Março de 1957 quando a Rádio Televisão Portuguesa iniciou as suas emissões de um modo regular desde os Estúdios do Lumiar. A partir desta data, em Portugal, progressivamente, os espaços modificaram-se e as pessoas começaram a ficar em casa. Em 1977, famílias inteiras viam "Gabriela Cravo e Canela". Durante a transmissão dos últimos episódios dessa telenovela, algo de inusitado e premonitório ocorreu em Portugal: as ruas ficaram desertas no país inteiro porque a população assistia empolgada, em frente ao ecrã televisivo, ao final daquela série brasileira. Desde esse ano, a televisão passou a ser uma concorrente dos cinemas e dos teatros que iniciaram uma crise de frequência. Na década de 1980, novos factos, porém, viriam a surgir em favor da televisão e em desfavor da convivialidade nas ruas e praças: o aparecimento das transmissões televisivas com imagem “a cores”, um maior número de programas recreativos transmitidos pela RTP e os preços cada vez mais baratos dos televisores, levou a que a maior parte dos portugueses passasse a ter televisão em casa. Em consequência, as novas gerações, que nasceram já à luz do vídeo, começaram a ser habituadas a telesonharem, frequentando o programa da televisão em vez de frequentarem centros de convivialidade. Na década de 1990, o aparecimento de estações privadas de TV com a consequente oferta de um maior leque de programas e disputa de audiências, acentuou, ainda mais, a ligação entre o indivíduo e o ecrã da televisão. Em 1994, os lisboetas passavam 15 horas e 27 minutos por semana (em média) em frente à televisão e 90,3% viam regularmente TV. Nesse ano, 95,9% dos lares portugueses possuía TV. Hoje, na Europa, o nosso país é, provavelmente, o que possui a população mais teledependente. Hoje diminuiu-se significativamente, nos espaços públicos, a função de local de noticiário directo porque a televisão é que (des) informa, mantendo as pessoas em casa, propiciando uma vida cada vez menos social e isolando o indivíduo em andares. Hoje diminuíram as relações entre os indivíduos e as ruas e Praças das nossas cidades, que de noite são, essencialmente, “canais” de passagem para os automóveis que atravessam o deserto urbano iluminado pelas janelas das habitações reflectindo o brilho próprio das televisões em frente das quais as pessoas estão demasiado “prisioneiras”. As luzes da cidade, à noite, continuam à nossa espera.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

When you wish upon a star

Foto colhida na Mata das Caldas da Rainha em Dezembro de 2009
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Hoje o “post” pretende homenagear todos quantos nos acompanharam, ao longo destes primeiros 8 meses de vida do Heavenly, quer através de visitas (cerca de 25.900) quer com comentários enriquecedores deste espaço. Tem sido um privilégio ter vindo a contar com o apoio e carinho manifestados. Aproveito para desejar e retribuir os Votos de Boas Festas, entretanto recebidos, e dedicar a todos um tema clássico – apropriado para o momento que atravessamos - desta feita interpretado pelo Keith Jarrett Trio no Memorial Hall de Tokyo em Outubro de 1986. Bem hajam
VT
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When You Wish Upon a Star – Keith Jarrett 

When you wish upon a star
Makes no difference who you are
Anything your heart desires
Will come to you
If your heart is in your dream
No request is too extreme
When you wish upon a star
As dreamers do
Fate is kind
She brings to those who love
The sweet fulfillment of
Their secret longing
Fate steps in and sees you through
When you wish upon a star
Your dreams come true

domingo, 20 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Geometrias

Detalhe do Centro Cultural e de Congressos (CCC) das Caldas da Rainha
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Spleen - Enrico Rava And Richard Galliano

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Grandella - Sinopse para um filme

Vestígios da muralha que delimitava, há cerca de 1 século, o Palacete Grandella no Monte do Facho, Foz do Arelho


Fool on the hill – The Beatles

1940... As primeiras imagens desenrolam-se durante as escavações nas fundações do antigo palacete Grandella para adaptação a uma Colónia de Férias (a FNAT, e que mais tarde se viria a denominar INATEL). Chove torrencialmente... Subitamente é encontrado, pelos trabalhadores, nas fundações do antigo palácio, um canudo de metal com uma mensagem no interior... Grandella, o homem que gostava de surpreender tinha deixado enterrada uma última surpresa... Seis anos após o seu falecimento... surgia um último documento que de imediato, levantou celeuma, porque se julgou indicar o local onde teria escondido algum dos seus fabulosos tesouros... O homem que viajava em 3ª classe porque – dizia: “que era filho de gente pobre" e colocava os filhos em 1ª classe "porque eram filhos de gente rica", mantendo uma personalidade rica de contrastes, previu ainda uma última palavra... Antes de se desenrolar e decifrar o que estava escrito no documento, a objectiva foca a assinatura: FAG (Francisco de Almeida Grandella)... ... A mesma que se lê agora num quadro... estamos em 1923... Grandella tem 70 anos e está a acabar de pintar um quadro sobre a lagoa de Óbidos e a falésia do “gronho” que se estendem em frente da janela manuelina do seu palacete – que erigira entre 1898 e 1907... Reflecte longamente... O seu mundo pessoal está em vias de extinção (morreria 11 anos depois) em paralelo com o desaparecimento do outro mundo lá fora... a sociedade com que se identificava, como a conheceu, sonhou e... de certo modo moldou. Resolve interromper a pintura para escrever mais uma carta ao seu amigo e companheiro de tantos projectos e aventuras: o arquitecto Rosendo Carvalheira. Enquanto escreve a sua voz vai-nos contando que o Dr. Pulido Valente lhe diagnosticou Diabetes, que decidira escrever um livro autobiográfico e lamenta-se que vai ter que hipotecar as fábricas de Benfica porque a casa Grandella enfrenta graves problemas financeiros... Grandella apostara numa curta duração para a Grande Guerra, adiando o pagamento aos fornecedores estrangeiros, esperando que o conflito passasse depressa, de molde a vir a pagar com um câmbio favorável. Como tal não aconteceu teve que suportar juros elevadíssimos e, em 1921, surgiu o 1º balanço negativo dos seus armazéns. Era o início da queda do seu império. Do seu refúgio predilecto na Foz do Arelho, inicia então o relato da sua própria história descrevendo a sua partida para Lisboa, em Outubro de 1865, com 12 anos... o filme “materializa” então o discurso de Grandella com as imagens da sua viagem para Lisboa, acompanhado pela prima Miquelina, e a chegada à capital onde o esperava uma chuva torrencial (que reapareceria sempre nos grandes momentos da vida de Grandella) dando início e continuidade a todo o percurso de Grandella. ... As imagens passam a descrever a criança após a chegada a Lisboa e, pouco depois, o início da sua vida comercial, e os episódios que foram pontos marcantes do seu êxito comercial... e durante os quais chovia sempre, como por exemplo em 1881 quando, em consequência dos seus preços serem os mais baixos, e de outros comerciantes o terem acusado de vender artigos de contrabando, ter colocado, de imediato, letreiros à porta anunciando: "chegaram mais fazendas de contrabando" e acabar por vender ainda muito mais para desespero dos concorrentes que tinham posto o boato a circular... Descrevem ainda o homem de múltiplas facetas, cuja vida foi uma aventura empolgante e cuja personalidade carismática foi extremamente popular; que fora um comerciante genial construindo um império da moda, quase a partir do nada, tendo sido pioneiro de técnicas de publicidade e de venda (do “mail order business”) só exploradas no final do Sec.XX, surpreendendo frequentemente com a sua imaginação e sentido de oportunidade; que desempenhou um papel significativo - integrado nos movimentos republicano e maçónico - no derrube da Monarquia (Lei da separação do Estado e Igreja executada por Afonso Costa, em 1911, na sua casa da Foz do Arelho); que ao salvaguardar os direitos, dos seus empregados, ao descanso semanal e à educação, bem como ao proporcionar boas condições de trabalho - apoiadas pela construção de uma creche, de uma escola, de um bairro operário e de uma Caixa de Socorros -, deu um exemplo de eficiência e justiça e mostrou o que a Monarquia vigente poderia ter feito e não fez; que deu uma especial atenção aos problemas da Educação, sobretudo ao analfabetismo, em Portugal construindo várias escolas – que ofereceu mais tarde ao Estado; que era simultaneamente austero, simples e hospitaleiro mas vivia por vezes no meio de certo espalhafato; que era um "gourmet" da vida que "cegava" quando as paixões (foram várias as mulheres na vida de FAG) o tocavam; que era perseverante nas suas acções filantrópicas apesar dos frequentes impulsos de fantasia, mas possuidor de uma enorme generosidade e ao mesmo tempo implacável na vingança; que procurara criar, constantemente, paraísos artificiais nos quais colocava animais que importava de outos países e que tinha sido fundador do lendário grupo gastronómico: "Os Makavenkos", onde pontuavam as grandes figuras da transição dos séculos XIX-XX, como Bordalo Pinheiro e outros... ... Regressamos à cena de 1923... Enquanto Grandella dá os últimos retoques na pintura, vão saindo as notícias nos jornais de então sobre os acontecimentos da sua última década (Em 1927, a hipoteca de 5500 contos sobre as fábricas de Benfica; em 1928 adoece gravemente e escreve o seu curiosíssimo testamento, enquanto a Casa Grandella solicita empréstimo de 3 mil contos; em 1929 novo empréstimo, de 1200 contos, e FAG deixa indicações para o seu próprio funeral; em 1931 escreve possuído de uma enorme nostalgia o Auto do Cipreste; em 1932 a administração da Casa Grandella passa a ser exercida pelo Banco Porto Covo & e Cª; em 20 de Setembro às 20h de 1934 – morre no alto do seu monte do Facho na Foz do Arelho)... Finalmente o filme regressa ao seu início... desvendando-se então o documento... A mensagem afinal reflectia sobre o facto de a terem encontrado. Era sinal que tinham destruído o seu património, o seu mundo, o império que Grandella tinha construído com tanto entusiasmo e amor... No entanto recomendava aos novos donos, à Foz do Arelho e em geral, a sua divisa de sempre “Sempre por bom caminho e segue”... Desejava, ainda para a Foz do Arelho (com quem tinha uma relação de amor) um desenvolvimento turístico, que desejava harmonioso, e para o qual via a necessidade de um "plano geral" que evitasse futuros "aleijões" urbanísticos... Desejava uma nova Veneza – com palacetes por entre os quais serpenteavam brilhando as águas da lagoa de Óbidos...

sábado, 12 de dezembro de 2009

The wind and the trees (and the birds)

Em Maio de 1889, Rodrigo Berquó, então Administrador do Hospital Termal das Caldas da Rainha, encomendou mil Eucaliptus Globulus, que foram plantados a sul dos Pavilhões do Parque D. Carlos I e a nascente da Mata, ladeando a alameda que terminava no célebre miradouro denominado: “Pinheiro da Rainha”. Os exemplares que restaram foram referenciados pelo Professor Caldeira Cabral, em 1983, como os únicos exemplares desta espécie na península ibérica. São bens patrimoniais, entre outras espécies vegetais, a preservar num espaço que merece ser classificado. Ainda hoje existem alguns exemplares, atingindo em alguns casos mais de 50m de altura, que emergem bem acima das outras árvores da Mata Rainha D. Leonor, inclinando-se ao sabor do vento. Vento que, acompanhado pelos pássaros, vai soprando uma música – feita de profundidade – que passa de ramo em ramo e apetece ficar a ouvir, demoradamente, tentando perceber a dança das folhas. Nota: Este vídeo, que gravei com a máquina fotográfica, foi publicado no YouTube. Assim há duas “bandas sonoras” opcionais.

Wild is the Wind – Johnny Mathis

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

The Season before (and about B&W Photography)

Praia da Foz do Arelho em Agosto de 2009
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Os 2 últimos “posts” motivam-me a escrever algumas reflexões sobre a fotografia “em Branco e Preto”. Para além da Arte fotográfica ter “nascido” a Branco e Preto, constatamos que esta “roupagem” não só resistiu ao aparecimento das "versões coloridas”, em meados do Sec. XX, mas continua a competir com estas em plena era do registo digital. Hoje, as fotos, depois de colhidas a cores nas máquinas digitais actuais, são modificadas para Preto&Branco no pós-processamento. Ao ser neutralizado o impacto da cor, sobressai uma estética assente não só no realce das formas e texturas, mas num modo de “ver”, muito próprio, a luz e os seus contrastes. Em consequência a composição monocromática pode ser mais interpretativa e subtil acerca da realidade. A fotografia documental pode tornar mais profunda a análise da relação entre as coisas e ou as pessoas, desmontando o burlesco e as incongruências de determinadas situações, hábitos ou cultura. A denúncia social e a poesia ficam mais tangíveis. Uma realidade quase “paralela” (na qual mal se repara no dia a dia) pode surgir com novas questões na janela do enquadramento. Simulacros, novos sinais do afrontamento da Natureza pela Humanidade, gentes e paisagens misturam-se de modo diferente no Preto&Branco desvendando um outro lado dos lugares. Não foi por acaso que Cartier Bresson, Sebastião Salgado ou Tony Ray Jones (entre muitos outros) optaram exclusivamente pelo Preto&Branco. Mas atenção! As fotografias não dão respostas. Apenas colocam questões. Será adequada a baliza de futebol ou o barco de “brincar” no meio da paisagem natural das nossas praias? Ou serão antes elementos dissonantes e vestígios do eterno confronto entre o Homem e a Natureza? Que paisagens deixaremos para trás no futuro com ou sem “day after”?
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Retrato em Branco e Preto - Elis Regina

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

sábado, 28 de novembro de 2009

Un matin de tendresse


Maintenant Je sais –Jean Gabin

Quand j'étais gosse, haut comme trois pommes, J'parlais bien fort pour être un homme J'disais, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS C'était l'début, c'était l'printemps Mais quand j'ai eu mes 18 ans J'ai dit, JE SAIS, ça y est, cette fois JE SAIS Et aujourd'hui, les jours où je m'retourne J'regarde la terre où j'ai quand même fait les 100 pas Et je n'sais toujours pas comment elle tourne ! Vers 25 ans, j'savais tout : l'amour, les roses, la vie, les sous Tiens oui l'amour ! J'en avais fait tout le tour ! Et heureusement, comme les copains, j'avais pas mangé tout mon pain : Au milieu de ma vie, j'ai encore appris. C'que j'ai appris, ça tient en trois, quatre mots : Le jour où quelqu'un vous aime, il fait très beau, j'peux pas mieux dire, il fait très beau ! C'est encore ce qui m'étonne dans la vie, Moi qui suis à l'automne de ma vie On oublie tant de soirs de tristesse Mais jamais un matin de tendresse ! Toute ma jeunesse, j'ai voulu dire JE SAIS Seulement, plus je cherchais, et puis moins j' savais Il y a 60 coups qui ont sonné à l'horloge Je suis encore à ma fenêtre, je regarde, et j'm'interroge ? Maintenant JE SAIS, JE SAIS QU'ON NE SAIT JAMAIS ! La vie, l'amour, l'argent, les amis et les roses On ne sait jamais le bruit ni la couleur des choses C'est tout c'que j'sais ! Mais ça, j'le SAIS... !

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Rain on the window

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
(Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" )

 
Gentle rain – Astrud Gilberto 

We both are lost and alone in the world
Walk with me in the gentle rain
Don't be afraid,
I've a hand for your hand
And I will be your love for a while
I feel your tears as they fall on my cheek
They are warm like the gentle rain
Come little one you have me in the world
And our love will be sweet
Very sweet
Come little one, you got me in the world
And our love will be sweet
Very sweet, very sad
Like the gentle rain
Like the gentle rain

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A ponte


Escadas de acesso à ponte sobre o lago do Parque D. Carlos I nas Caldas da Rainha

"Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra. - Mas qual é a pedra que sustém a ponte? – pergunta Kublai Kan. - A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra – responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam. Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo.
Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa. Polo responde: - Sem pedras não há arco."
(In: As Cidades Invisíveis de Italo Calvino)


Bridge over Troubled Water - Simon and Garfunkel

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Blue in Green

"Blue in Green" é uma balada do Album “Kind of Blue” (gravado em Março e Abril de 1959) de Miles Davis, cujas sessões de registo contaram (além de Miles) com um elenco de “luxo”: Bill Evans e Wynton Kelly (ambos no piano), Jimmy Cobb (bateria), Paul Chambers (baixo) e os saxofonistas John Coltrane e Cannonbal Adderley. “Kind of Blue” tem vindo a ser citado, desde então, como o disco de Jazz mais vendido de sempre e, em Outubro de 2008, recebeu a “quádrupla platina” em vendas – atribuída pela Record Industry Association. Tem sido classificado por inúmeros críticos e especialistas como o melhor álbum da história do Jazz e a grande obra-prima de Miles, e a revista “Rolling Stone” classifica-o (em 2003) como 12º entre os 500 melhores discos de sempre, influenciando inúmeros músicos não só de Jazz mas também de Rock e de Música clássica. “Blue in Green” é uma pérola luminosa no meio deste disco sensacional e uma das 10 músicas que muita gente escolheria para levar para uma ilha deserta. Tem sido especulado ao longo do tempo se a autoria de “Blue in Green” era de Miles ou antes de Bill Evans – outro “gigante” do Jazz que participara no disco. Depois de vários livros atribuírem a autoria a Miles, ou a Miles e Evans, ficou esclarecido numa entrevista (1978) que foi de facto o génio de Bill Evans a compor o tema para aquele que viria a ser um dos mais fantásticos improvisos de Miles e da história do Jazz. Mais espantoso é o facto de que o disco foi gravado sem antes ter existido qualquer ensaio. A espontaneidade no seu estado mais puro. Uma enorme profundidade. Como o oceano. Também ele “Blue in Green”.
Blue in Green – Miles Davis

domingo, 15 de novembro de 2009

Líquens

Micro cidades estreladas Labirintos micelares Polígonos e prismas Entrançam-se Expandem-se No calor entorpecente Esporos explodem Sobre um mar de musgos e de sementes vermelhas O fundo sempre igual As raízes da árvore Sobre o planeta Terra

Where breathing starts - Tord gustavsen trio

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Certos sinais

Certas palavras podem dizer muitas coisas; Certos olhares podem valer mais do que mil palavras; Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora; Certos gestos, parecem sinais guiando-nos pelo caminho; Certos toques parecem estremecer todo nosso coração; Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais, Assim como você, que deixarão belas lembranças para todo o sempre. (Vinicius de Moraes)
Adagio - Secret Garden

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Leituras


Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
(Inscrição - Sophia de Mello Breyner Andresen)


Let There be Love - Laura Fygi

sábado, 7 de novembro de 2009

O Pescador e o Mar

Praia da Foz do Arelho

Eu pescador
Eu pescador que pesco por um instinto antigo
e procuro não sei se o peixe se o desconhecido
e lanço e recolho a linha e tantas vezes digo
sem o saber o nome proibido.
Eu de cana em punho escrevo o inesperado
e leio na corrente o poema de Heraclito
ou talvez o segredo irrevelado
que nunca em nenhum livro será escrito.
Eu pescador que tantas vezes faço
a mim mesmo a pergunta de Elsenore
quais águas que passam sei que passo
sem saber resposta.
Eu pescador.
Ou pecador que junto ao mar me purifico
lançando e recolhendo a linha e olhando alerta
o infinito e o finito e tantas vezes fico
como o último homem na praia deserta.
Eu pescador de cana e de caneta
que busco o peixe o verso o número revelador
e tantas vezes sou o último no planeta
de pé a perguntar.
Eu pescador.
Eu pecador que nunca me confesso
se não pescando o que se vê e não se vê
e mais que o peixe quero aquele verso
que me responda ao quando ao quem ao quê.
Eu pescador que trago em mim as tábuas
da lua e das marés e o último rumor
de um nome que alguém escreve sobre as águas
e nunca se repete.
Eu pescador.
Oitavo Poema do Pescador In "Senhora das Tempestades" de Manuel Alegre
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Somewhere Beyond The Sea - Bobby Darin

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

The secret life of plants

Casta Diva, che inargenti queste sacre antiche piante, a noi volgi il bel sembiante senza nube e senza vel... Tempra, o Diva, tempra tu de’ cori ardenti tempra ancora lo zelo audace, spargi in terra quella pace che regnar tu fai nel ciel...

Casta Diva (from Norma / Bellini) - Angela Gheorghiu

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As Pessoas e o futuro da Praça da Fruta

A Sra Rosa Conceição Costa tem 79 anos de idade. Vem, diariamente, com os produtos da sua lavra na freguesia de Alvorninha, até à Praça da Fruta das Caldas da Rainha. Tal como a Sra Hermínia Joana (75 anos) do lugar de Lagoa Parceira, e como a Sra Assunção Fialho (73 anos) oriunda da freguesia de Salir de Matos. Todas portanto residentes no Concelho onde é realizado o mercado. Pertencem à geração de vendedores/produtores mais antigos que vendem na Praça (começaram entre os 7 e 18 anos). Com nostalgia e tristeza relatam tempos em que a Praça se enchia com produtores/vendedores da região e regurgitava de visitantes. Hoje são poucos os que resistem à chegada de vendedores/intermediários e à concorrência de produtos que não são da região (alguns do estrangeiro). Como referimos anteriormente (post de 2 de Outubro 2009) a Praça tem uma enorme importância (e mais-valia) histórica e uma originalidade que advém da sua cobertura celeste. Mas a Praça não se faz apenas com o empedrado do tabuleiro e com a pontualidade do céu aberto. Faz-se também com as Pessoas. Uma das suas características e atractivos essenciais, foi sempre a possibilidade de aquisição de produtos hortícolas mais frescos, mais baratos e directamente ao produtor. No entanto, com a extinção progressiva dos agricultores que vendem os seus produtos, interrogamo-nos sobre o que tem sido feito, e ainda sobre o que fazer, para não se perder o “capital” humano que contribui diariamente para a manutenção da personalidade própria de uma Praça – através de uma das suas características essenciais – diferente de todas as outras do País. Os representantes autárquicos falam com as Pessoas que vendem na Praça da Fruta? Os representantes autárquicos regulamentaram medidas para salvaguardar o futuro deste Ex-líbris das Caldas da Rainha? Que futuro (próximo) para a Praça da Fruta sem os verdadeiros vendedores/produtores da região? Uma Praça igual a tantas outras e repleta de intermediários jamais será a reconhecidamente “célebre” Praça da Fruta das Caldas. No meu modesto entender, é URGENTE que, para além da preservação do espaço, haja investimento nas Pessoas que lá trabalham. Ou seja, a criação de incentivos exclusivos: para os produtores que vêm vender directamente na Praça e ainda para a agricultura biológica, recrutando assim novas gerações de agricultores que, assegurem a viabilidade futura da tradição da Praça e que sigam o exemplo da D. Rosa, da D. Hermínia e da D. Assunção – que hoje aproveitamos para homenagear.
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Soria Maria - Jan Garbarek

domingo, 25 de outubro de 2009

Just another sunset

Richard Harris (1 Outubro 1930 – 25 Outubro 2002) nasceu na Irlanda. Era filho de um moleiro mas foi educado na Sagrado Coração de Jesus Colégio dos Jesuítas, e mais tarde estudou na Academia de Londres de Música e Arte Dramática. Foi conhecido sobretudo como um grande actor. Desempenhou papéis inesquecíveis em “Camelot” (1967 - como Rei Arthur), Cromwell (1970), “A Man called horse” (1970), “Unforgiven” (1992), “Gladiator” (2000), até aos recentes filmes de Harry Potter (na personagem de Dumbledore). No final da década de 1960 foi no entanto, talvez o actor mais popular na história da música popular, quase rivalizando com os Beatles. O seu disco “MacArthur Park” (canção de Jimmy Webb que atingiu o “top ten” em ambos os lados do Atlântico) em conjunto com o filme “A Man called horse” transformaram-no num ícone da cultura popular de então. Após o enorme êxito como “actor-cantor” em “Camelot”, com a sua voz atraente e com dicção impecável (semelhante à de Rex Harrison), foi convidado por Jimmy Webb, um ano depois, para gravar (1967) uma canção com cerca de 7 minutos “épicos”: “MacArthur Park” – que se tornaria uma das suas imagens de marca. Em 1968 seriam editados “Tramp Shining” (um álbum conceptual, sofisticado e muito bem produzido) e “Yard Went on Forever” (também com Webb). Apesar de não terem o sucesso comercial do anterior, continham temas com interpretações fortes. Sucederam-se “My Boy”, “The Love Album”(com algumas das melhores faixas dos discos anteriores), “Slides” (1972), “His Greatest Performances” (1973), "Jonathan Livingston Seagull" (1973), “ The Prophet” (1974), “I, in the Membership of My Days” (1974) e “Camelot” (Original 1982 London Cast Soundtrack) (1982). As suas interpretações têm a mais-valia de, para além de cantadas, conterem a emoção e a voz de um grande "diseur". Apesar da qualidade dos discos anteriores ficou para sempre gravada na minha memória a canção “Slides” (do LP com o mesmo nome) em que Harris alterna a voz do cantor com a do actor. Só recentemente saiu em CD, permitindo que eu a colocasse no Youtube. Um clássico guardado no armário das grandes canções românticas de sempre.
Slides – Richard Harris

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Stormy Weather

Praia da Foz do Arelho às 18h30m de 21/10/2009


Stormy Weather – Billie Holiday

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Lonely tree at sunset

It Never Entered My Mind
(Lyrics by Lorenz Hart, music by Richard Rodgers)
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Once I laughed when I heard you saying
That I'd be playing solitaire
Uneasy in my easy chair
It never entered my mind
And once you told me I was mistaken
That I'd awaken with the sun
And ordered orange juice for one
It never entered my mind
You had what I lack, myself
Now I even have to scratch my back myself
Once you warned me that if you scorned me
I'd say a lonely prayer again
And wish that you were there again
To get into my hair again
It never entered my mind
Once you warned me that if you scorned me
I'd say a lonely prayer again
And wish that you were there again
To get into my hair again
It never entered my mind
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It never entered my mind - Coleman Hawkins and Ben Webster

terça-feira, 13 de outubro de 2009

The Waiting

Paisagem paralela na Lagoa
O deserto do dia ecoa em tons de castanho
Um silêncio âmbar cai vertical sobre a escuridão ardente da ondulação
Como se algo de extraordinário estivesse para acontecer
A qualquer momento
Alguém vai emergir e nadar
Na minha direcção


Song to the Siren - This Mortal Coil

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Reverie

Vladimir Horowitz foi (1/10/1903 a 5 /11/1989) um pianista clássico, com um estilo muito próprio (“Horowitziano”), de grande virtuosismo e considerado como um dos mais brilhantes de todos os tempos, devido à sua excepcional técnica aliada às suas actuações contagiantes. Foi considerado por muitos o indiscutível mestre em Scriabin e Rachmaninoff. Deixou a Rússia em 1925, sob a promessa de não se esquecer da mãe-pátria. Viria a naturalizar-se americano em 1942 e esteve mais de 60 anos sem regressar à sua terra natal. Aos 82 anos sucumbiu ao desejo de ver por uma última vez a Rússia antes de morrer. Ao abrigo de um acordo entre os USA e a URSSR, pediu para regressar como “embaixador da Paz”, considerando a tensão política que se vivia na altura (a aviação americana atacara a Líbia). Assim, em 20 de Abril de 1986, Horowitz tocou o seu Steinway pessoal perante uma audiência “electrizada”. A sessão foi alvo de gravação televisiva e em CD. Uma multidão que não conseguiu lugar no auditório ficou durante o concerto à porta do Conservatório de Moscovo – como quem diz: presente! As palmas e os “Bravos!” sucederam-se num ambiente de rara emoção. Havia quem dissesse que aquela interpretação “era sobre humana e vinha do céu” e um pianista russo conhecido exclamava que Horowitz “era o único pianista que conseguia tocar as cores”. Quando num dos “encores” o filho pródigo amado por toda aquela gente tocou Traumerei (“Reverie”) de Schumann… Sentiu-se que algo de mágico e poderoso se estava a passar. Uma corrente de ternura colectiva “explodiu” em direcção àquele velhote franzino, ao piano, que morreria em breve (3 anos depois) mas que antes quis dar o melhor que a sua alma guardava, naquele preciso momento, ao seu país de origem. As notas de Traumerei caíam cristalinas num silêncio total. As pessoas não estavam tristes, antes exultavam em poder assistir a algo de inimaginável. A câmara da televisão mostrava (vale a pena ver no Youtube) rostos emocionados no público suspenso daqueles 2 minutos e 27 segundos. As lágrimas que escorriam pelas faces dos espectadores são também as nossas. Não por acaso, escolhi uma fotografia “a preto e branco”, de um grupo de árvores junto ao lago do Parque das Caldas, para acompanhar a música de hoje porque estou certo que as notas tocadas por Horowitz irão colori-la com as cores dos sonhos. Enjoy…

Horowitz plays SchumannTraumerei in Moscow (1986)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Caminhando sobre as estrelas

O Mercado das Caldas realizava-se inicialmente no Largo da Copa em frente ao Hospital Termal e passou, durante o século XVIII, para esta praça (então Praça Nova). Em 1886-7 passou a ser denominada de D. Maria para, após o 5 de Outubro de 1910, ficar definitivamente: da República. Sobre este empedrado construido, em 1883, consoante projecto de Celestiano Rosa (tendo o proprietário Fauistino da Gama contribuiu com 2 contos de réis), continua a realizar-se diariamente e tal como no início - a céu aberto, o famoso Mercado da Fruta das Caldas da Rainha. Tem surgido periodicamente, desde o início do século XX, a polémica de a substituir por um Mercado Fechado, com os argumentos da maior ou menor facilidade na higienização da praça, de se pagar o imposto de Terrado, e de uma eventual vocação para Passeio Público. Felizmente tem-se mantido a tradição em que a cobertura é o céu. Este facto é uma mais-valia porque dá uma beleza e colorido próprio aos vegetais (julgo que as cores serão mais vivas e saturadas devido a serem iluminadas pela temperatura de cor do sol em vez da proveniente de luzes artificiais), tal como defendia, em 1926, Luis Teixeira nas páginas da Gazeta das Caldas, com receio que se tornasse igual a tantas outras encerradas em edifícios construídos para o efeito. Será desejável que a Praça assim se mantenha e que continuemos a caminhar sobre as suas estrelas - mas debaixo da abóbada celeste.


What are you doing the rest of your life - Chris Botti e Sting

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Rua da Mata

“… Os divertimentos de dia são de manhã na copa, de tarde nas partidas de prazer em cavalgaduras pequenas ao Senhor da Pedra, a Óbidos à lagoa, ao Convento dos padres Arrábidos das Gaeiras, ou passear na cerca e quinta do Hospital; onde há, além de pomar, horta, jardim e vinhas, um delicioso bosque cortado de várias e compridas ruas, nas quais somente se conhece o artifício. Há também outras quintas ao redor da Vila, e uma rua de loureiros à entrada dela para os exercícios mais moderados…” Joaquim Inácio de Seixas Brandão in Memorias dos anos 1775 a 1780 para servirem de Historia à análise, e virtudes das águas termais da vila das Caldas da Rainha.

Behind The Gardens/Under the tree - Andreas Vollenweider