segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

My dog was not a dog

O meu cão não era um cão.
Durante mais de oito anos ensinou-me a falar sem abrir a boca. Numa linguagem de olhares e de pequenas expressões ambos sabíamos o que o outro pensava e sentia.
O meu cão não era um cão.
O seu olhar doce e atento foi-me mostrando que é possível amar incondicionalmente ao mesmo tempo que me ensinava a rir e a brincar como um cão.
Mas o meu cão não era um cão.
Era como se nos entendessemos numa frequência de onda especialmente sintonizada para nós. Assim, sabíamos que precisávamos um do outro e fomos companheiros das cumplicidades do dia-a-dia. A paz invadia-nos quando sabíamos que o outro estava perto e a alegria dos gestos amenizava os temporais da vida.
O meu cão não era um cão.
Confiávamos a cem por cento um no outro porque sabíamos com quem não podíamos contar.
A pouco e pouco foi-se instalando um processo mimético. Cada vez mais ia ficando parecido comigo e eu com ele. Os outros foram os primeiros a reparar. Só agora vejo que tinham razão.
O meu cão não era um cão.
Era um outro eu. Para melhor. Como um alter-ego especialmente desprendido dos valores materiais e dotado de sentidos e intuições especiais e de afectos sem reservas.
Por isso no processo de mútua transferência de características fiquei a ganhar. Fiquei uma pessoa também melhor. Coisa que, naturalmente, só um ser muito especial pode fazer. Por isso digo: o meu cão não era um cão. Era o meu irmão gémeo que me acenava com a cauda – do outro lado do espelho.
O meu cão não era um cão...

26 comentários:

haideé disse...

:)

Maria Virgínia Machado disse...

Um dia a dor dará lugar à saudade mas essa não passará nunca...

Anónimo disse...

Vasco, não quero sequer pensar no dia em que, também eu, perderei o meu cão, o meu Freud. O que escreveu, o que sentiu, o que ainda sente, só mostra que é uma pessoa melhor, como são melhores todas as pessoas que estabelecem laços com aqueles que serão os seus companheiros de Vida. Com eles tudo é simplicidade, tudo é feito da mais honesta, sincera e genuína partilha, não há o "quem deu menos, quem dá mais", tão característico do ser humano, há simplesmente o dar, dar sempre, em todos os momentos, incondicionalmente. E depois há toda aquela felicidade estampada no rosto e no corpo todo, há toda aquela alegria de Vida, toda aquela simpatia e amizade que só nos pode mesmo, tornar pessoas melhores. Só deixa saudades aquilo que foi bom na nossa Vida, sei que faz falta, que fará falta sempre, mas sei também que deixou um enorme legado aí dentro, onde tantos humanos tentam chegar e não chegam e que numa parte da sua Vida, lhe arrebatou o coração e o tornou num ser melhor, o cão, o seu, que não é cão.
Catarina Paramos

Anónimo disse...

Um escrito sentido. Uma homenagem muito bonita ao que foi um grande amigo teu (um dos melhores de certamente). Um grande abraço de solidariedade.
Pedro Paulino de Noronha

Anónimo disse...

Belíssimo texto. Transporta-nos para dentro do grande mistério, onde o Amor reina incondicionalmente.
Dina Baltazar

Anónimo disse...

Maravilhosa homenagem ao seu incondicional amigo.
Maria Filipe R

Anónimo disse...

No seu lugar está o vazio, o silêncio e a dor. Mas teve uma existência feliz, quando se é acompanhado por alguém que o considera como um membro da familia. Um irmão gémeo que o acenava do outro lado do espelho. Que privilégio! Embora na saudade e na dor, lembra-te de toda a sabedoria que ele deixou, do enriquecimento como ser humano que isso teve em ti e recordá-lo-ás para sempre no coração de forma serena e com um sorriso no rosto. Deixo esta frase que tudo diz. “A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem."
Anita Martins

Anónimo disse...

Cuánta tristeza por ya no tenerlo .... pero cuánto amor compartido q no morirá jamás en vos VASCO !!!!
Clerici María M

Anónimo disse...

‎... estava doente, o "cão de Tintim grande" (nunca soube o nome dele e chamava-lhe assim)?
... há uns dias que tenho sentido a falta dele, e de nos cumprimentarmos quando vou trabalhar...
... vou continuar a sentir a tua falta "cão de Tintim grande"...
Cláudia Tonelo

Anónimo disse...

Que pena que ele se foi, mas que bom que te deixou tantas lembranças boas e com certeza ele te ensinou muitas coisas que só eles mesmo é que sabem fazer !!!!!
Simone Torres C Herrera

Anónimo disse...

Lamento muito Vasco! Muito, muito, um beijinho para ti e pensa que ele está no céu dos cãezinhos.
Cristina Ramos Horta

Anónimo disse...

Dão-nos os animais o que certas pessoas não conseguem
Isilda Querida Leal Marques

Anónimo disse...

Um mundo de recordaçōes que ajudarão a mitigar a dor. Mas , realmente , o nosso cão é um amigo insubstituível!
Salette Saraiva

Anónimo disse...

Lamento e entendo perfeitamente o que é perder um cão que não foi cão. Mas estou certa que continuará a ser um amigo, companheiro, uma alma gémea.
Isabel Gomes Ferreira Cunha

Anónimo disse...

Linda mensagem de homenagem ao melhor amigo do homem!...
Gracinda Abreu

Anónimo disse...

Era mesmo lindo, é mais uma estrelinha lá em cima e vai continuar consigo mesmo muito longe que esteja
Manuela Nascimento

Anónimo disse...

Gosto de cães que são cães. e nos mostram comoo ha caes que não são cães :).. passam muito aéem de serem só cães!..
Ana Silveira E Lorena

Anónimo disse...

Lamento muito Vasco! Era um cãozinho lindo...acredito que te continuará a acompanhar...vais ver! Um beijinho para ti.
São Caixinha

Anónimo disse...

Adorei e obrigado pelo que escreveu pois as pessoas parecem olhar-nos de lado quando amamos tanto os nossos "Animais",eu tive esse prazer com os meus,já cá não estão e fazem-me falta,obrigado.
Fernanda Carvalho

Anónimo disse...

Já tinha comentado este texto através de uma partilha de um amigo comum. Grandes palavras, grande verdade. A grande diferença entre o homem e os animais, é que os animais estão sempre disponíveis para nos dar um carinho, não importa a hora nem o local... Eu também já tive um amigo assim...
Ze Luis Silva

Anónimo disse...

Saudades das suas boas-vindas afectuosas.
Margarida Araújo

Anónimo disse...

Linda declaraçao ♥
Margarida Ferreira

Anónimo disse...

Lindo....
Isabel Lucena

Anónimo disse...

Por isso ...quanto mais conheço os humanos......
Nélinha Santos

Anónimo disse...

Olá Igor!
desculpa só a esta distancia, mas há sentimentos que primeiro temos de interiorizar.(não te posso negar, as lágrimas correram na minha face!) Logo tu,forte,possante, truante, mas simultãneamente terno.Recordas concerteza as vezes que pousavas a tua enorme cabeça, so para te fazerem uma festa, e, uma outra vez, ao passar por ti,comendo uma bolacha "Maria" tu ma roubaste!? as patas em cima dos meus ombros e foram tantas as lambidelas... Outras vezes se repetiu esta cena mas agora já sem bolacha, cheguei a pensar se me farias tudo isso à procura de uma bolacha ou simplesmente porque gostavas de mim!? Mas foste embora e sinto saudades tuas. Sabes quando eu for também, espero não me esquecer de pôr uma bolacha no bolso, sim , porque nunca se sabe!!Um grande Abraço.
IM

nica disse...

Esta declaração de amor a um cão só é compreensível de quem tenha tido cães e que lhes tivesse um amor incondicional que, escusado será dizer seria sempre retribuído.

Queria pôr fotografias porque também tive IGORES e AINDA NÃO SEI COMO.
Dommage.
nica