segunda-feira, 15 de julho de 2013

Outra Medicina

Foto colhida, em meados da década de 1970, do interior de uma antiga Enfermaria do Hospital de. S. José.


Short Angel meditation - Angèlia Grace

Tenho saudade de outros tempos na Medicina. Apesar de ter sido exercida muitas vezes em más condições logísticas (antigos colégios ou conventos adaptados) e de não existirem os equipamentos para diagnóstico e terapêutica tão avançados como nos dias de hoje.
Sobretudo durante o Século XX viveram-se tempos históricos na Medicina Portuguesa com a existência de verdadeiras Escolas de excelência Médica. Aprendi, nos recentemente extintos Hospitais Civis de Lisboa, tempos da clínica sempre ao lado do Doente. Clínica dos olhos que curam em vez da clínica de olhos no computador. Medicina de ouvir e observar o Doente em vez de sobretudo ler relatórios de exames complementares (sem menorizar o papel que possam ter). Tempos de saber, mérito, dedicação, respeito e compaixão em vez de atenção focada na ”eficiência”, nas estatísticas, na produtividade e sobretudo no economicismo. Saudade em que o Doente não era um número que segue um protocolo de procedimentos predeterminado. Saudade em que as decisões sobre os Doentes eram inspiradas por uma verdadeira clínica também atenta às angústias, às dúvidas e não só aos sinais e sintomas. Assisti muitas vezes a diagnósticos e decisões certas sem o auxílio sequer de uma análise. Saudade de uma Medicina em que o Médico era o Amigo e conselheiro e não mais uma pessoa em quem não se confia. Saudade de uma Medicina em que imperava o rigor - independente de grupos económicos ou políticos em busca de bons negócios e em que o Doente não era mais um na cadeia de produção na qual se tenta desesperadamente poupar. Mas como se fala pouco tempo com o Doente - porque a quantidade é mais importante - quantas vezes não se repara que o Doente está a repetir o mesmo medicamento ou a tomar medicamentos desnecessários ou antagónicos. Saudade de uma Medicina com tempo - sobretudo para o Doente. Como foi possível perder-se muito do Humanismo que enriquecia o passado da Medicina em Portugal. Saudade de ensinar a ensinar os mais novos na Arte de fazer Medicina - que vai ficando cada vez mais longe com um crescente sufoco para com os sobreviventes que querem sempre ser exigentes consigo próprios e fazer mais e melhor.

5 comentários:

Anónimo disse...

A dor da solidão pousando sobre o horizonte, onde os telhados de mil lares, abrigam gestos de afectos ausentes neste olhar de criança que reclama a vida..
Ana Voigt

Anónimo disse...

Muito bom.
Maria Bela Taborda

Anónimo disse...

Um pouco surreal esta foto, onde a nostalgia e o "gueto" em que está o Doente, nos deixa a pensar: somos todos dependentes de alguma coisa.
Luísa Barbosa

Anónimo disse...

Excluindo o resto e o principal, (doença)...a foto esta muito significativsa, cheia de pontos fotografados interessantemente .. parabens Dr mais uma bela foto, habituada q estou a ver-lhe a Lagoa, esta é diferente.
Lina Mary

Anónimo disse...

Por muito precárias que fossem as condições físicas dos edifiçios, as condições fragilizadas dos doentes, simultâneamente eram colmatadas com o saber fazer Medicina com os olhos, com as mãos,com o ouvir e falar.tantas vezes o único sinal de atenção que reconheciam e quantas vezes era o único afecto demonstrado que alguma vez lhe tenham feito. Saúdo-o pelos sentimentos revelados e como não podia deixar de ser pela magnitude das suas fotografias.

IM