sábado, 25 de abril de 2015

As ruas da amargura

Cada vez são mais as pessoas, que passam por nós na rua, com expressões de angústia, descontentamento, tristeza, amargura ou indignação. Em grande parte consequência óbvia da actual conjuntura económica e social. E o meu sentido fotográfico cada vez mais procura retratá-las tal e qual como figuras de verdade e não como uma colecção de expressões ocas e falsamente sorridentes apenas para a fotografia e que nada têm a ver com o que realmente sentem. Alguns vagabundos já estão habituados a fazer um sorriso por um euro. Em vez de uma veracidade vazia e fabricada prefiro decididamente a busca do espanto perdido. Nesta viagem ao centro do descontentamento neste retrato de rua fotografei aqui os dias da raiva. Neste dia comemorativo do 25 de Abril faz sentido. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Rua da Amargura
A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge
E tem casas baixas que ficam me espiando de noite
Quando a minha angústia passa olhando o alto.
A minha rua tem avenidas escuras e feias
De onde saem papéis velhos correndo com medo do vento
E gemidos de pessoas que estão eternamente à morte.
A minha rua tem gatos que não fogem e cães que não ladram
Tem árvores grandes que tremem na noite silente
Fugindo as grandes sombras dos pés aterrados.
A minha rua é soturna…
(…)
É a impossibilidade de fuga diante da vida
É o pecado e a desolação do pecado
É a aceitação da tragédia e a indiferença ao degredo
Como negação do aniquilamento.

É uma rua como tantas outras
Com o mesmo ar feliz de dia e o mesmo desencontro de noite.
É a rua por onde eu passo a minha angústia
Ouvindo os ruídos subterrâneos como ecos de prazeres inacabados.
É a longa rua que me leva ao horror do meu quarto
Pelo desejo de fugir à sua murmuração tenebrosa
Que me leva à solidão gelada do meu quarto...

Rua da amargura…

Vinicius de Moraes

São muitas as ruas da amargura que deambulam pela nossa cidade, vestidas de gente que não se sente gente.
Um Retrato belo, apesar da amargura…
FC