Hoje conheci a D. Luzia. Numa
pequena loja de vão de escada, perto da Praça da Fruta das Caldas da Rainha, de
nome “Bongosto” – provavelmente inaugurada na década de 1950. D. Luzia fez
questão de me revelar que era nonagenária mas não parecia. Arranja meias, vende
perfumes, produtos de beleza e ” frivolidades”. Mas sobretudo vai por lá todos
os dias para falar com as amigas e ver quem passa através do vidro da montra.
Julgo que muitos dos produtos
ainda são de meados do século XX. Pareceu-me ver por lá o Pitralon e a Acqua
Velva que eram essenciais para quem fazia a barba com Gillete Azul. Nessa
altura as senhoras deviam usar produtos Ponds ou Tokalon, depilar-se com Taky e
frequentar os salões de Madame Campos para manterem a beleza, até porque o Tide
lavava e as donas descansavam enquanto o Omo lavava mais branco. Aliás as
senhoras eram certamente todas elegantes porque a obesidade parecia ter os dias
contados com Obesyl, apesar das sopas Maggi e Knorr terem sido apresentadas
como novidade e das Margarinas Vaqueiro e Chefe começarem a fazer parte da
culinária dos portugueses.
As ceras Johnnson e Galo
deixavam os soalhos perfumados e a fragrância mais vendida, para senhora, era
Femme de Marcel Rochas. Para os dentes a pasta medicinal Couto, Kolynos e Gibbs
com clorofila eram as marcas mais vendidas.
O Creme Nívea e o Talco
Ausónia faziam parte das casas de banho modernas onde tinham lugar os
sabonetes: Feno de Portugal, Musgo Real, Patti e Lux (1 de cada 10 estrelas
usavam), enquanto se afugentavam resfriados com pastilhas Aspro, Formitrol ou
Mentholatum, as doenças de estômago não existiam com Magnésia Bisurada e Pó
Maclean, os pés cansados beneficiavam com Saltratos, os sais de frutos Eno
curavam tudo e o Fósforo Ferrero resolvia o problema a qualquer candidato a
Alzheimer. Rejuvenescia-se com Apiserum e Kiniol resolvia as quedas de cabelo
mais renitentes.
Na loja da D. Luzia respira-se
ainda um ambiente misto das antigas revistas “Modas e Bordados” e “Plateia” ou
quiçá do “Capricho” com folhetins do Corin Tellado.
São histórias como esta que me
deliciam e são uma das razões porque faço Fotografia de rua.