sábado, 6 de agosto de 2016

Sketches from the beach I

No fim de uma tarde enevoada passei pela praia da Foz do Arelho onde fiz alguns registos. Ao fotografar um vendedor de bolas de berlim não pude impedir-me de recordar, com alguma nostalgia, um tempo de praia que passava mais devagar. Como se rebobinasse um filme no qual já fui actor – integrando rituais familiares na organização de expedições à praia, repetidos diariamente durante os meses de Verão. Entravam sempre, todos os anos, personagens típicos como se tivessem saído das “Férias do Sr. Hulot”. Havia uma baronesa mumificada, de cão miniatura ao peito, em pose de diva (tipo Sunset Boulevard), o grupo de atletas que fazia forças combinadas em pleno areal, o intelectual de cachimbo, o casal de estrangeiros, as avós a fazerem tricô sem parar, as “vamps” e o tenista galã, o grupo dos piqueniques no pinhal, o cabo de mar e os nadadores olímpicos, crianças chilreando em redor da tenda dos fantoches ou entre baldes, bóias e construções de areia para o mar desfazer pouco depois.
No meio da calma e do calor ecoavam os pregões da preta das bolas de berlim e dos pacotes de batas fritas, do homem dos barquilhos, do vendedor de “Rajá fresquinho” e do “estica e chocolate prá menina e pró menino”. Como figuras de cal percorriam a praia de lés a lés sobre a tremulina do calor, junto á areia, como figurantes de um filme de Fellini.
As senhoras e as meninas jogavam ao prego e ao ringue, enquanto os rapazes liam primeiro a “colecção Joaninha” e depois as aventuras do Zorro e do Capitão Marvel – mais saborosas durante as manhãs enevoadas.
Tudo aparentemente certo como previsto. Ninguém falava sobre qualquer tipo de preocupação. Tudo estava bem, sentíamo-nos rodeados de segurança naquele Presente e tínhamos poucas interrogações sobre o Futuro. Algo que sinto estar cada vez mais longe neste mundo "suicidário" em que hoje vivemos.

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