sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O Cheiro da Floresta


Continuo a celebrar a minha recuperação do olfacto dedicando-me um pouco à análise e ao gosto pelos perfumes. Mas como um pescador de pérolas (poucas) que vão aparecendo e que se afirmam categoricamente como fragrâncias “outstanding” que se destacam da banalidade actual de um continuum de fragrâncias medíocres.
Desta vez trata-se da “Papillon Artisan Perfumes” fundada em 2011 por Liz Moores que, neste momento, colhe a unanimidade dos elogios dos grandes críticos e especialistas honestos. Pelo que li tem um perfil independente, artesanal (Liz colhe muitos dos produtos na floresta onde vive – New Forest em Inglaterra) e no seu Site e na sua página do Facebook (#PapillonPerfumery) respira-se honestidade e integridade.
As 5 fragrâncias que criou nos seus 8 anos de existência (Anubis, Tobacco Rose, Salome, Angélique e Dryad) são muito aplaudidas e premiadas e Liz é considerada a grande revelação actual na arte de fazer fragrâncias.
A sua empresa está ainda representada apenas em 7 países (10 perfumarias) europeus não contando com a Inglaterra. Não envia encomendas on-line para fora do UK. Por isso tive que encomendar “Dryad” (uma Eau de Parfum que demorou 2 anos a ser concebida) na Alemanha.

O Site informa:
“Narcissus. Oakmoss. Jonquil. Cedrat. Galbanum. Benzoin. Vetiver. As vibrant emerald Galbanum weaves with the delicate flesh of Bergamot, the nomadic wanderings of Dryad begin. Beneath jade canopies, sweet-herbed Narcissus nestles with gilded Jonquil. Shadows of Apricot and Cedrat morph radiant greens to a soft golden glow. Earthed within the ochre roots of Benzoin, heady Oakmoss entwines with deep Vetiver hues.”

Depois de o experimentar na pele fiquei “agarrado” pelo aroma suave, acolhedor e misterioso de um “chypre” que não parece um “chypre”, com uma classe e complexidade quase indescritível (sinal que as notas estão muito bem “entrelaçadas”). É daquelas fragrâncias em que parece que estamos sempre a encontrar novos acordes. Confesso, por exemplo, que também me pareceu detectar uma nota de rizoma de lírio – que não vem descrita na informação supra. Mas um lírio muito especial. Um lírio de beijos e não um lírio funerário. Outras vezes pareceu-me descobrir uma nuvem sensual de musk formatado para amantes intemporais.
Se o aroma tivesse cor seria verde - como as florestas e os Dryads que são os espíritos das árvores (duendes ou ninfas). Mas há, simultaneamente, um lado profundo, super romântico, “antigo” e obscuro que fascina. Algo “retro feel made modern”. Ou um “vintage Guerlain” fabricado no séc. XXI.

É um perfume definitivamente masculino que parece ter sido feito para o Peter Pan. Mas com a condição de que, ao fim de algumas horas, este se transforme num adulto com “look” à Rodolfo Valentino - e, finalmente, tenha o romance, que todos esperam, com a fada “Sininho” ao som do Moonlight Serenade.
Ou em alternativa podemos imaginar Aragorn viajar no tempo e deixar a saga do “Senhor dos Anéis” para abraçar de novo Arwen - a sua amada Princesa Élfica – em pleno séc. XXI, num terraço “chic” sobre as luzes de Paris.

Obviamente uma fragrância sofisticada para ocasiões muito muito especiais.

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