quarta-feira, 15 de maio de 2013

Sobre o Futuro do Termalismo Caldense

A change in the weather - John Foxx and Harold Budd

Every Moment,
a voice, out of this world
Calls on our soul,
to wake up, and rise.
(Rumi)

NOVAS ASAS

Sobre o Futuro do Termalismo Caldense 
(palestra realizada no dia 4 de Maio de 2013)
1 - O Futuro do Termalismo Caldense tem sido um tema recorrente ao longo dos últimos séculos mas que se tem tornado sobremaneira mais frequente nas 2 últimas décadas. E, em geral, o Governo tem ficado, quase sempre, sem decidir ou aprovar as inúmeras Propostas ou Projectos sobre o Termalismo que foram surgindo não só para resolver crises financeiras ou estruturais, mas também para o relançar com competitividade a nível europeu, entre as quais se distinguiram sobretudo 3 excepções: as obras de D. João V, as de Berquó e, na década de 1930, as do Balneário novo. Curiosamente, o mesmo Poder Central, foi contrariando a partir do final do séc. XIX toda uma estratégia local feita de séculos de agregação de doações - pondo e dispondo ocasionalmente do Património Termal (Pavilhões com refugiados, RI5, Escolas, Bibiotecas, Tribunal no Palácio Real (1914), Correios (antiga Albergaria 1914-1940), GNR. PSP, H. Sº Izidoro, alargamento das ruas de Camões, D. Manuel da Câmara e D. Notícias).
Ou seja, O Hospital Termal já enfrentou ao longo de séculos de existência desafios muito difíceis, crises financeiras bem grandes e com interrupções muito prolongadas de actividade - mas continua, hoje, presente na equação para se encontrar o futuro do Termalismo Caldense.
Equação na qual tem havido sempre variáveis que se alteram e têm vindo a aumentar e a surgirem com mais frequência e a torná-la cada vez mais complexa. Desde a forte componente técnica sempre em mudança e naturalmente muitas vezes incompreendida, até aos sucessivos enquadramentos sociais, jurídicos, económicos e institucionais de cada momento que tornaram necessário a consequente adaptação com outras propostas diferentes.
Assim, e falando só a partir do início do Séc. XX, foram elaborados para a Estância Termal das C. Rainha, quatro Planos de Reforma, como tentativas de impor nova estratégia de revitalização termal, três delas com expressão legislativa própria para o Hospital Termal, datando o último de 1917. Até ao final desse mesmo século (XX) foi defendida e proposta por quatro vezes (1860, 1893, 1965, 1999) a separação física entre estância termal e hospital, e por quatro vezes surgiram propostas de arrendamento, concessão ou privatização da estância balnear e ou dos seus anexos (1899, 1904, 1917, 1996), que nunca viriam a ser contemplados.
Já no Século XXI, ao mesmo tempo em que se verificava uma frequente rotatividade das equipas ministeriais - que dificultava a celeridade e as decisões - surgiram novas propostas para Concessão em 2003 e em 2007. Note-se que em 2003 o processo passou ainda pelo Grupo de Missão Parcerias em Saúde onde esteve durante cerca de 2 anos em busca de solução. Finalmente, em 2008, surgiu mais um dado novo que alterava a equação e, em consequência, o seu resultado: A eminente fusão do CHCR com os H. de Peniche e Alcobaça – dando origem ao CHON, ou a eventual construção de um novo hospital em local distante do actual. Em consequência de este cenário poder vir a fragilizar o H. Termal, foi feita proposta para a criação de uma Fundação Público-Privada integrando múltiplos agentes e Entidades Locais, Nacionais e Internacionais, Públicas e Privadas. Posteriormente apareceu mais um dado novo: a instalação de uma grave crise Económica e Financeira global com gravíssima repercussão nacional. É portanto já com o início deste novo cenário que surgiu ainda um Estudo do ISCTE-IUL propondo uma única Entidade gestionária para o Património Termal. O agravamento da Crise económica e a adopção pelo M. Saúde de um endurecimento da sua postura cega e surda perante as potencialidades do Termalismo Caldense, com eventual afectação à Câmara de Património Termal, são factores ainda mais recentes que acrescentam mais novos dados à tal equação já referida e que nos obrigam agora a fazer, mais uma vez, as contas de modo diferente. Mas fazer contas tendo em atenção a importância identitária de Espírito de Lugar e todas as restantes mais-valias inerentes à Estância Termal das Caldas da Rainha bem como a importância para o desenvolvimento económico e social na estratégia concelhia, na qual pode constituir-se como um dos principais factores impulsionadores de um actual Turismo de Saúde. E estas contas obrigam-nos a tudo fazermos, não só para salvar o Património Termal mas para o requalificar, modernizar e relançar com possibilidades - finalmente - concorrenciais, contrariando tudo o que o impediu de tal no passado.
Curiosamente toda a actividade turística ligada à Saúde e ao Bem-estar volta a ser uma ideia com um grande potencial de desenvolvimento (70 milhões elegíveis em fundos estruturais) sobretudo num local especialmente vocacionado para isso como as C. da Rainha.

2 - Assistimos hoje a um período da História em que estão a também a ocorrer transformações muito importantes e que todos sentimos, de um modo quase intuitivo, que vivemos tempos de grandes mudanças. Com a actual crise económica como pano de fundo, assistimos a grandes alterações de paradigmas económicos, sociais, ambientais e políticos. Quer numa perspectiva mundial, nacional ou local.
Mas assistimos também, perante este novo tempo, que cada vez mais, em outros países se resolvem melhor a nível periférico - nas localidades - as suas próprias equações sobre o Futuro, gastando menos, utilizando criatividade, inovação e cooperação - em vez de esperarem, neste momento, que a Providência, “atada” pela Crise, lhes possa acudir.
Caldas da Rainha não foge à regra e está confrontada com a necessidade de salvaguardar o seu futuro, perante uma encruzilhada decisiva - relativamente ao devir da sua Estância Termal. No entanto teremos de estar preparados para aceitar eventuais mudanças importantes - mas que salvem o Termalismo Caldense. O agravamento da indiferença do Ministério da Saúde que não foi sensível à importância de investir num recurso singular a nível mundial com possibilidades de ajudar a diminuir os gastos em Saúde e em alavancar a economia - criando emprego em consequentes indústrias de lazer, a montante e a jusante - faz-nos compreender que não podemos deixar “cair” o H. Termal e não podemos deixar de fazer o que o Ministério da Saúde não fez. Porque há aqui nesta terra algo que transcende individualismos e nos une desde a raiz: o H. Termal.
Ou seja estou a propor que os Caldenses assumam com as próprias mãos o Relançamento do SEU Termalismo.

3 - Na minha modesta opinião há um primeiro passo a dar, antes que surjam decisões apressadas, precipitadas ou desajustadas:
Neste processo há que obter o mais amplo consenso concelhio possível sobre as linhas de orientação a respeitar durante o caminho para o Relançamento do Termalismo. Deveriam ser criadas condições para serem auscultadas todas as Entidades representativas, as Forças Vivas da cidade (Conselho da Cidade. Comissão de Utentes do Hospital, Partidos Políticos, a ACCRO, a AIRO, D. R. de Turismo, Associação PH, Misericórdia, Montepio R. D. Leonor, Inatel, Órgãos Autárquicos e outras que se vierem a constatar necessárias) bem como individualidades de reconhecido mérito e conhecimentos sobre a matéria - de modo a se construir uma base, o mais alargada possível, acerca dos Valores essenciais sobre os quais se deverá reerguer o Termalismo e respectivo Património. Estamos convencidos que não será difícil conseguirmos obter uma Carta de Compromisso em que ficariam estabelecidas as linhas gerais orientadoras, supramencionadas, acordadas entre todo o Concelho. 
Com base nessas linhas gerais encontradas deveria, em consequência, com toda a transparência e seriedade, ser encomendado um Estudo de Mercado (considerando a frequência de termalistas de outros países) e de Viabilidade Económica comparando os prós e contras das diversas hipóteses de modelo jurídico que serão possíveis aplicar. Temos que pisar terra firme e não podemos correr o risco de um determinado modelo por mais atraente que pareça - vir a falhar após a sua execução. Obviamente, esse Estudo e as suas conclusões poderão ser objecto de ampla apreciação e de contributos entendidos como essenciais para se chegarem a conclusões finais - possibilitando que se implementem as medidas decorrentes.
Se todos, mas mesmo todos, os que sentem as Caldas e o H. Termal no coração, puserem de lado preconceitos individuais ou colectivos e divergências face à actual situação, bem como maniqueísmos Partidários, e se ganhássemos no âmbito do Termalismo um sentido do colectivo - então a Estância Termal das Caldas da Rainha poderá voar, como Entidade autónoma, com as suas próprias asas - no Futuro.

1 comentário:

Anónimo disse...

A Change in Weather

The sky is suddenly dark,
and there is wind,
harsh,
with the first cry of winter
hidden in it's bursts,
cutting and cold,
angry, dark and sad,
erasing in it's darkness
memories of summer,
and worse,
your heart
darkens with the sky,
forgetting that all weather
is fleeting.
Tom Atkins

God save this stately hospital and heritage! Thanks.
FC