quarta-feira, 17 de julho de 2013

A Visita médica

Conferência médica na cabeceira da Doente (Visita diária) na Enfermaria do Serviço de Medicina 2 do H. de Sº António dos Capuchos em 1975


Life is beautiful - Keb Mo

Nos antigos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) uma das vertentes da actividade clínica mais importantes era a passagem da Visita médica aos Doentes das enfermarias. Autênticas conferências médicas à cabeceira dos internados eram também um ponto alto de exigência da Arte Médica apesar das dificuldades logísticas evidentes. Aí tinham lugar discussões, “sabatinas”, interrogatórios dificílimos em que os mais novos eram bombardeados com múltiplas questões e postos à prova na observação dos Doentes. Tínhamos que saber tudo do Doente e da doença. Procurávamos estar actualizados com os últimos conhecimentos da Medicina. Havia quem aproveitasse a boa vontade de familiares - que gravavam os resumos dos últimos artigos médicos publicados nas revistas de referência, para ouvir os tópicos “up to date” de matéria médica, em cassetes no automóvel, aproveitando o caminho para casa ou para o Hospital. Era um privilégio ouvir finalmente as opiniões de alguns grandes vultos da medicina discorrendo sobre os casos e os Doentes. Era uma autêntica escola selectiva em que procurávamos ser “adoptados” pela “família” dos grandes médicos dos HCL ao mesmo tempo que os Doentes beneficiavam de uma grande atenção.

Para se compreender melhor este “Espírito” de exigência nos HCL, vale a pena contar uma pequena história, relatada por um médico no livro recentemente publicado sobre os agora extintos HCL. O colega tinha acabado de ingressar no Internato dos HCL e logo no seu 2º dia a sua equipa ficou escalada para fazer Consulta Externa - onde ele ficou a ver e a aprender. Quando saía da Consulta pelas 15h para almoçar (a hora de saída era às 13h) encontrou o Director do Serviço onde trabalhava, que também se dirigia para fazer a mesma refeição. O Director (figura prestigiada da Medicina Portuguesa) perguntou-lhe como correra a manhã ao que o Interno respondeu que tinha aprendido bastante com os colegas mais velhos. “ - Muito bem, muito bem! E os Doentes da Enfermaria? - Mas senhor doutor, hoje foi dia de consulta, e ocupou-me para além do horário normal… - Não, não - replicou o Director - Os Doentes são para ser observados todos e todos os dias! Vamos passar visita!”. E lá foram os dois sem almoçar com o Director pela 2ª vez a passar a Visita do dia, desta feita exclusiva para o Interno, aos Doentes da Enfermaria. Foi ao mesmo tempo uma lição sobre o modo como se entendia que os Médicos devem sempre estar ao lado dos seus Doentes. Era assim que se vivia o “espírito” dos antigos HCL.

7 comentários:

Anónimo disse...

bons tempos Dr Vasco...
Laura Andréa Freitas

Anónimo disse...

Belo espirito que estou em crer, ainda se manterá na generalidade.
Jorge Paulo Gonçalves

Anónimo disse...

Bom não perder todo esse trabalho humano, para que outros possam aprender.
Rosa Rodrigues

Anónimo disse...

Uma Profissão exercida com Paixão, diria mesmo, a tocar a Devoção!!
Isabel Eleutério

Anónimo disse...

"arte de amor ao próximo.........Amor a Medicna......... amor......
Laura Andréa Freitas

Anónimo disse...

Foi um Filme bem bonito, a vida de um médico.
Cesaltina Da Costa Silva

Anónimo disse...

Será caso para dizer que "mudam-se os tempos..." fascinante exemplo de verticalidade e devoção à arte.
Jorge Pinto Guedes II