Conferência médica na cabeceira da Doente (Visita diária) na Enfermaria do Serviço de Medicina 2 do H. de Sº António dos Capuchos em 1975
Life is beautiful - Keb Mo
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Nos antigos Hospitais Civis de
Lisboa (HCL) uma das vertentes da actividade clínica mais importantes era a
passagem da Visita médica aos Doentes das enfermarias. Autênticas conferências
médicas à cabeceira dos internados eram também um ponto alto de exigência da
Arte Médica apesar das dificuldades logísticas evidentes. Aí tinham lugar
discussões, “sabatinas”, interrogatórios dificílimos em que os mais novos eram bombardeados
com múltiplas questões e postos à prova na observação dos Doentes. Tínhamos que
saber tudo do Doente e da doença. Procurávamos estar actualizados com os
últimos conhecimentos da Medicina. Havia quem aproveitasse a boa vontade de
familiares - que gravavam os resumos dos últimos artigos médicos publicados nas
revistas de referência, para ouvir os tópicos “up to date” de matéria médica, em
cassetes no automóvel, aproveitando o caminho para casa ou para o Hospital. Era
um privilégio ouvir finalmente as opiniões de alguns grandes vultos da medicina
discorrendo sobre os casos e os Doentes. Era uma autêntica escola selectiva em
que procurávamos ser “adoptados” pela “família” dos grandes médicos dos HCL ao
mesmo tempo que os Doentes beneficiavam de uma grande atenção.
Para se compreender melhor
este “Espírito” de exigência nos HCL, vale a pena contar uma
pequena história, relatada por um médico no livro recentemente publicado sobre
os agora extintos HCL. O colega tinha acabado de ingressar no Internato dos HCL
e logo no seu 2º dia a sua equipa ficou escalada para fazer Consulta Externa -
onde ele ficou a ver e a aprender. Quando saía da Consulta pelas 15h para almoçar
(a hora de saída era às 13h) encontrou o Director do Serviço onde trabalhava, que
também se dirigia para fazer a mesma refeição. O Director (figura prestigiada
da Medicina Portuguesa) perguntou-lhe como correra a manhã ao que o Interno
respondeu que tinha aprendido bastante com os colegas mais velhos. “ - Muito
bem, muito bem! E os Doentes da Enfermaria? - Mas senhor doutor, hoje foi dia
de consulta, e ocupou-me para além do horário normal… - Não, não - replicou o
Director - Os Doentes são para ser observados todos e todos os dias! Vamos
passar visita!”. E lá foram os dois sem almoçar com o Director pela 2ª vez a passar a Visita do dia, desta feita exclusiva para o Interno, aos Doentes da
Enfermaria. Foi ao mesmo tempo uma lição sobre o modo como se entendia que os
Médicos devem sempre estar ao lado dos seus Doentes. Era assim que se vivia o “espírito”
dos antigos HCL.
7 comentários:
bons tempos Dr Vasco...
Laura Andréa Freitas
Belo espirito que estou em crer, ainda se manterá na generalidade.
Jorge Paulo Gonçalves
Bom não perder todo esse trabalho humano, para que outros possam aprender.
Rosa Rodrigues
Uma Profissão exercida com Paixão, diria mesmo, a tocar a Devoção!!
Isabel Eleutério
"arte de amor ao próximo.........Amor a Medicna......... amor......
Laura Andréa Freitas
Foi um Filme bem bonito, a vida de um médico.
Cesaltina Da Costa Silva
Será caso para dizer que "mudam-se os tempos..." fascinante exemplo de verticalidade e devoção à arte.
Jorge Pinto Guedes II
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