segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Os Concursos nos antigos Hospitais Civis de Lisboa

Detalhe do Hospital de Sº António dos Capuchos em 1976


Tears - Headsrong and Stine Grove

Tendo como ponto de partida a herança vinda do antigo Hospital de Todos os Santos, três grandes nomes da Medicina Portuguesa lançaram as fundações de uma grande Escola Médico-Cirúrgica nos antigos Hospitais Civis de Lisboa (HCL): Pulido Valente, Reinaldo dos Santos e o Prof. Wohlwill (Anatomia Patológica). Segue-se toda uma geração dos seus discípulos mais brilhantes (Fernando da Fonseca, José Gentil, Celestino da Costa, Cascão de Anciães, etc.) que consolidam o edifício da grande Escola Médico-Cirúrgica dos HCL - que viria a atingir o seu apogeu em meados do século XX.
Uma das vertentes mais importantes e célebres desta escola eram os Concursos quer de acesso quer para progressão na Carreira Médica. Era quase lendária a sua grande dificuldade e o prestígio inerente daqueles que ultrapassavam aquelas provas com êxito. Raramente se “passava” na 1ª tentativa. Muitos médicos submetiam-se a tais “torneios de cavalaria científica” (nome com que foram baptisados por René Lariche - prestigiado cirurgião de Estrasburgo), procurando a aura de prestígio de ter ficado aprovado nos Concursos dos HCL - antes de enveredarem por uma carreira noutros Hospitais ou na Faculdade de Medicina de Lisboa (no H. Sª Maria) ou ainda para aproveitarem essa mais-valia conquistada arduamente para inscreverem na tabuleta à porta dos seus consultórios particulares as 3 letras mágicas: HCL. Consultórios de prestígio anunciavam, daquele modo: Ex Interno dos HCL, Médico dos HCL, etc.
Estes Concursos plenos de exigência (sobre os quais existem inúmeras histórias plenas de humor ou de dramatismo) filtravam assim a Qualidade clínica que vinha ao de cima como a “nata” da Medicina Portuguesa. Escolhiam-se os melhores entre os melhores. Eram, em conjunto com as Carreiras Médicas, uma das “pedras de toque” do espírito dos HCL e do seu Património Científico. Duravam várias semanas empolgantes, onde assistíamos a situações com grande polémica e eram vistos, por vezes, por uma assistência muito numerosa que mal cabia nas salas solenes e que era composta por colegas que “torciam” pelo seu candidato favorito ou amigo, e por famílias da elite lisboeta da altura - quando eram mais mediáticas porque estavam em causa nomes sonantes ou com “pedigree”,- onde não era raro verem-se senhoras de chapéu e vestido de cerimónia ,com flores no regaço, sentadas na 1ª fila.
Para além das provas clínicas escritas (após observação de 2 Doentes - durante o tempo limite de 3 horas) e sua leitura com interrogatório subsequente, existiam provas teóricas com interrogatório (Júris de 5 elementos) e outras em que as mais difíceis eram a “prova de caras” (em frente de todo o Júri eram observados 2 Doentes com 1 hora para observação e outra para exposição) e a terrível prova de cadáver. O facilitismo progressivo que progressivamente se veio a instalar nos Concursos dos HCL, a partir do final da década de 1970 e início da década de 1980, e as alterações nas Carreiras Médicas foram as 2 “machadadas” finais na alma da Escola dos HCL.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom este p&b...
Virgilio Photografia

Anónimo disse...

Excelente apontamento, com a particularidade das crianças no recanto das escadas!
Isabel Eleutério

Anónimo disse...

Bonita foto.
Maria Teresa David Marques