O Verão e a Juventude sempre
ficaram bem de mãos dadas com o vento a sublinhar o milagre.
Esta imagem, feita no Verão que acabou de passar, fez-me transportar para um tempo de aromas e de sabores mágicos - que me atrevo a partilhar:
"Houve um Verão longínquo
em que quase habitei, durante cerca de 2 meses, numa praia solitária. O areal
imenso e desértico era ponteado pelas minhas pegadas e por algumas rochas que,
na maré vazia, se organizavam em piscinas naturais. Nu, percorria o passeio de
areia molhada num ritual de conchas e sal. Ao fim da manhã ia até um pequeno
restaurante-cabana de madeira e colmo, construído pelos pescadores locais no
sopé da falésia onde as escadas de terra batida desaguavam na praia, e ali
acabava por almoçar. O ar era invadido, então, pelos odores de moreia frita,
sargo na brasa e outros peixes cozinhados logo após a pescaria diária. Nas
horas de maior calor refugiava-me na frescura de uma ravina entre falésias –
onde pinheiros e figueiras estendiam silêncios. Sob o aroma de resina, de
pinhões e das folhas das figueiras deliciava-me com pêssegos suculentos - cujo
mel escorria abundante pelo meu rosto enquanto os trincava com volúpia. O
silêncio era interrompido apenas pela vibração das cigarras e pelo eco
longínquo da cavalgada das ondas. Tempo infinito, em frente do horizonte,
saboreado minuto a minuto sem necessidade de abrir a caixa dos sonhos
ficcionados - porque o sonho estava lá. Mergulhava no dourado do sol no oceano
e quando a noite chegava: apanhava-me a flutuar na cintilação do luar na
superfície da água do mar – à espera das estrelas cadentes. Mais tarde no meio
do deserto da noite, enquanto esperava o oásis do amanhecer, o meu corpo
escurecia mais (como o mar) deitado na cama da areia. E o vento do Verão vinha
suavemente acariciar os sentidos...".