Rua Augusta. Lisboa.
Intervenção que fiz aquando do lançamento da Antologia Luso-Brasileira de Fotografia 2015 no passado dia 16 - que integra três fotografias minhas:
Se esta minha intervenção
ocorresse há alguns anos atrás provavelmente começaria por dizer: sou médico e
faço fotografia… o que ajuda a desenvolver o olho clínico.
Mas hoje, após a reforma, fará
mais sentido dizer, ao contrário, que sou fotógrafo e que é o clínico que contribui
para o olhar fotográfico.
De facto, no decorrer dos
últimos seis anos, foram acontecendo mudanças no fotógrafo e no médico em mim. Progressivamente
foram trocando de lugar. Hoje, por exemplo, é o médico que ajuda o fotógrafo na
abordagem psicológica das situações e das pessoas a retratar.
Após uma primeira fase mais
contemplativa, dedicada sobretudo a fotografia de paisagens urbanas ou naturais
(representada nas 3 imagens publicadas nesta Antologia), passei a interessar-me
cada vez mais em fotografar as pessoas em vez de ficar submetido à hegemonia
das coisas. Passei a arriscar mergulhar mais frequentemente nos labirintos
urbanos fascinado com o imprevisível. Fiquei viciado no risco e na aventura de
descodificar sinais aparentemente ocultos e na necessidade de celeridade nas
decisões.
Acabei por criar uma rotina
diária, percorrendo as ruas e tentando ler, fotograficamente, nas entrelinhas
do tecido social enquanto procuro “agarrar” instantes irrepetíveis e
significativos.
Procuro na subtileza dos
enquadramentos um melhor recenseamento dos hábitos e costumes dos meus
conterrâneos.
Actualmente é o meu dia-a-dia de
fotógrafo não profissional que me resgata da modorra depressiva destes tempos
de reformado. Uma saudável e salvífica obsessão.
Hoje entendo que, tal como
escrever, fotografar pode ser uma maneira de pensar.
Hoje percebi que afinal nada
se repete e por isso fotografar é olhar e depois voltar a olhar – e descobrir
sempre.
Descobrir no exterior os
momentos mágicos que podem finalmente, através da fotografia, adquirir
visibilidade perante todos e, ao mesmo tempo, descobrir-me dentro de mim.
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