quinta-feira, 14 de abril de 2016

D. Luzia

Hoje conheci a D. Luzia. Numa pequena loja de vão de escada, perto da Praça da Fruta das Caldas da Rainha, de nome “Bongosto” – provavelmente inaugurada na década de 1950. D. Luzia fez questão de me revelar que era nonagenária mas não parecia. Arranja meias, vende perfumes, produtos de beleza e ” frivolidades”. Mas sobretudo vai por lá todos os dias para falar com as amigas e ver quem passa através do vidro da montra.
Julgo que muitos dos produtos ainda são de meados do século XX. Pareceu-me ver por lá o Pitralon e a Acqua Velva que eram essenciais para quem fazia a barba com Gillete Azul. Nessa altura as senhoras deviam usar produtos Ponds ou Tokalon, depilar-se com Taky e frequentar os salões de Madame Campos para manterem a beleza, até porque o Tide lavava e as donas descansavam enquanto o Omo lavava mais branco. Aliás as senhoras eram certamente todas elegantes porque a obesidade parecia ter os dias contados com Obesyl, apesar das sopas Maggi e Knorr terem sido apresentadas como novidade e das Margarinas Vaqueiro e Chefe começarem a fazer parte da culinária dos portugueses.
As ceras Johnnson e Galo deixavam os soalhos perfumados e a fragrância mais vendida, para senhora, era Femme de Marcel Rochas. Para os dentes a pasta medicinal Couto, Kolynos e Gibbs com clorofila eram as marcas mais vendidas.
O Creme Nívea e o Talco Ausónia faziam parte das casas de banho modernas onde tinham lugar os sabonetes: Feno de Portugal, Musgo Real, Patti e Lux (1 de cada 10 estrelas usavam), enquanto se afugentavam resfriados com pastilhas Aspro, Formitrol ou Mentholatum, as doenças de estômago não existiam com Magnésia Bisurada e Pó Maclean, os pés cansados beneficiavam com Saltratos, os sais de frutos Eno curavam tudo e o Fósforo Ferrero resolvia o problema a qualquer candidato a Alzheimer. Rejuvenescia-se com Apiserum e Kiniol resolvia as quedas de cabelo mais renitentes.
Na loja da D. Luzia respira-se ainda um ambiente misto das antigas revistas “Modas e Bordados” e “Plateia” ou quiçá do “Capricho” com folhetins do Corin Tellado.

São histórias como esta que me deliciam e são uma das razões porque faço Fotografia de rua.  

2 comentários:

tia Natacha disse...

Interessante a referência a tantas coisas que faziam parte do século passado.

tia Natacha disse...

Interessante a referência a tantos e tantos artigos do século passado.