Trata-se de uma variante da
Arte Fotográfica (talvez a mais antiga, mais “libertadora” e a mais difícil)
executada apenas em lugares públicos (Ruas, Museus, Parques, Praias, etc.)
feita espontaneamente (sem pose) e não “encomendada”por órgãos de comunicação
social (fotojornalismo). Daí que há cada vez mais consenso que deveria antes
denominar-se “Public Candid Photography”. O seu valor documental fica reduzido
quando há pose, encenação ou manipulação excessiva (over editing).
A fotografia de rua é como uma
terceira faixa de uma autoestrada - separada, mas paralela às faixas do fotojornalismo
e da fotografia apenas documental (com aqual é frequentemente confundida). Embora
existam fotógrafos que se dedicam exclusivamente à fotografia de rua, há outros
que para além de fotografia de rua também podem fazer fotografia documental ou de
reportagem – passando temporariamente para a faixa ao lado. O próprio Henri
Cartier-Bresson fez fotografia de rua e também de reportagem. No entanto os
géneros não devem ser confundidos apesar de o fotógrafo ser o mesmo.
É claro que uma fotografia
«encenada» em que haja uma «direção» e uma «coreografia» dos “actores” que
passam na rua também pode ser extraordinária como Arte, mas não é Fotografia
de Rua - que deve ter o maior grau de espontaneidade possível (discutível o
denominado “eye contact”). Há autores conhecidos (por exemplo: Diane
Arbus) que fizeram fotografia documental e “encenaram” com tanta qualidade que
agora integram a história da fotografia em si – mas as suas imagens são apenas documentais
e não são classificadas como fotografia de rua. A qualidade da fotografia
não depende do género praticado.
Portanto a fotografia de rua
não é apenas documental / descritiva ou de reportagem. Enquanto uma fotografia apenas
documental pode transmitir hábitos e costumes (p.ex. o que as pessoas vestem em
determinada época), a fotografia de rua tem uma filosofia própria que privilegia
a possibilidade de, através do enquadramento encontrarmos alguma história nas
entrelinhas das expressões e ou situações dos vários personagens que se cruzam.
Tal como referiu Joel
Meyerowitz: “You could frame anything:
unrelated things, and putting them in a frame suddenly they are related and you
have an image that perhaps is surreal, or magical, or prophetic.”
Ou seja: Durante encontros
ocasionais de rua o enquadramento tenta relacionar o que aparentemente não
estava relacionado. Pessoas e pessoas, Pessoas e objectos, Objectos e objectos.
Ao enquadrar e relacionar pessoas e ou objectos, subitamente, pode ser criada
uma imagem – onde o vulgar passa a ser extraordinário.
As fotografias de rua colocam
questões e privilegiam a possibilidade de encontrarmos alguma narrativa nas
entrelinhas das expressões e ou situações dos vários personagens. O humor, a
ironia, a subtileza, os nonsense, as contradições sociais, o enigma, o
mistério, a magia e o surreal em Street Photography são uma mais-valia muito
importante.
No entanto há também fotógrafos
de rua conceituados que exploram apenas os contrastes cromáticos, os jogos de luz / sombra, as
geometrias e o grafismo – e dispensam uma eventual “história” associada à
imagem. São pois diversos os sub géneros de Fotografia de Rua.
Inclusive, embora seja sempre
preferível incluir gente nos enquadramentos a Fotografia de Rua pode não
mostrar pessoas - como foi o caso de Atget que muitos autores consideram o
“pai” da fotografia de rua. Desde que nas imagens de paisagens urbanas se
pressinta a presença humana.