quarta-feira, 21 de março de 2012

Tudo o que o Mistério da Saúde deveria saber - e tomar em consideração - sobre o Hospital Termal das Caldas da Rainha

Uma retro-escavadora de aspecto ameaçador em frente do Hospital Termal Rainha D. Leonor parece simbolizar os perigos que ameaçam esta Instituição com mais de 5 séculos - na sequência da reestruturação que o Ministério da Saúde se propõe executar em breve nas estruturas Hospitalares da Região.

1 - A viabilidade das Termas Caldenses prende-se também com a necessidade de procurar manter toda uma herança patrimonial, transmitida ao longo de gerações durante mais de cinco séculos. É essencial a compreensão de que todo o Património Termal Caldense, associado ao H. Termal, tem não só como origem o legado da Rainha D. Leonor e sucessivas doações, mas também de que essas sucessivas doações obedeceram quase sempre a uma estratégia integradora para todo o Património Termal, articulando, ao longo do tempo, de um modo complementar e sinérgico as diferentes peças que compõe a actual Estância Termal das Caldas da Rainha. Os próprios Pavilhões foram pensados e executados como Hotel (um modelo termal que continua actual) para os termalistas, complementando as outras peças da estância das C. da Rainha. Aquele princípio que se tem transmitido, desde os antigos Provedores, é afinal uma mais-valia fundamental para a estratégia termal e concelhia. Essa UNICIDADE funcional significa que o eventual destino de cada uma das peças patrimoniais não deve ser pensado isoladamente, mas antes respeitando uma lógica que assentou numa agregação sucessiva de Património e não na sua desagregação. O legado da Rainha D. Leonor e sucessivas doações (aldeias, individualidades, etc.) que surgiram até final do Séc. XIX, obedeceram quase sempre a uma estratégia global para todo o Património Termal, articulando, ao longo do tempo, de um modo complementar e sinérgico as diferentes peças que compõe a actual Estância Termal. Por uma questão de Ética e Moral devem ser respeitadas as vontades dos Doadores – que não o teriam feito se existisse outro destinatário que não a Estância Termal. Se – num horizonte futuro – existir a necessidade de autonomizar a gestão do Termalismo, a instituição que vier a ser criada para gerir a Estância Termal das C. da Rainha deverá respeitar tanto quanto possível a UNICIDADE de todos os seus componentes.

2 - A composição química da Água Mineral Natural (AMN) das Caldas da Rainha é uma singularidade a nível mundial. É rara a água mineral sulfúrea que seja tão fortemente mineralizada. Enquanto a maioria deste tipo de AMN, em Portugal, é fracamente mineralizada (cerca de 200mg por litro) a AMN nas Caldas tem mais de 3000 mg/L. Este dado é relevante para a acção preventiva e terapêutica dado que estudos sugerem que quanto maior for a concentração de Enxofre reduzido na cartilagem das articulações menos ela se atrofia e envelhece, e quanto mais quantidade daquele elemento existir na mucosa nasal e peri nasal – mais poderoso o efeito antialérgico nas afecções do tracto respiratório superior. É relevante ainda para efeitos de utilização em termos de imagem e de “marketing”.

3 - O tempo de formação da AMN, consoante um dos últimos estudos/investigação realizados revelou que o aquífero das C. da Rainha demora não só cerca de 7 mil anos a percolar as estruturas geológicas até chegar às emergências adjacentes ao H. Termal, mas também está suficientemente protegido, por aquelas mesmas estruturas, da acção humana. Ou seja há um produto (a AMN) com garantias, demonstradas cientificamente, de qualidade inalterável e com duração suficiente para que se possa confiar no investimento sustentado nas Termas das C. da Rainha.

4 – Trata-se do Hospital mais antigo de Portugal com Regulamento próprio (o Compromisso da Rainha, a raiz geradora das Misericórdias portuguesas e um dos H. Termais mais antigos do Mundo, a merecer classificação (IGESPAR) e que integra um Monumento Nacional (a Igreja de Nª Sr.ª do Pópulo). A condição de se tratar um dos H. Termais mais antigos do Mundo e o mais antigo Hospital português, possuindo corpo clínico e detentor do mais antigo Regulamento (O Compromisso) Hospitalar do País – são elementos que, de modo inquestionável, trazem valor acrescido não só históricos mas também em termos de imagem e de promoção futura. Como é óbvio é um dado que justifica a manutenção do “cordão umbilical” entre as vertentes Clínica e Termal tornando obrigatória a actividade médica no Hospital Termal. Sem actividade Médica não há Hospital. Em consequência deixaríamos de manter a importante mais-valia da existência de um dos mais antigos H. Termais do Mundo em funcionamento.

5 - Trata-se do Espírito de lugar. De facto, toda a História das Caldas da Rainha, a sua marca identitária e personalidade própria estão assentes no pilar essencial que é a Estância Termal de onde tudo surgiu e deve voltar a surgir já que é o Termalismo Caldense que marca a grande diferença para com todas as outras regiões. Não seria lógico não se tirar partido daquilo que se tem e os outros não – sendo ainda para mas um produto de qualidade sustentada e que pode trazer melhor ambiente económico se souber trazer os clientes adequados. Finalmente, Caldas da Rainha sem Espírito de lugar não seria mais Caldas da Rainha.

6 - Caldas da Rainha iniciou, há mais de 5 séculos, um percurso de constante aperfeiçoamento de uma estratégia concelhia que sempre apostou no "cluster" da Saúde. Esta região sempre dependeu e depende de uma estratégia para o seu desenvolvimento económico e social assente no "espírito de lugar" representado pelos sucessivos hospitais e que é, simultaneamente, marca identitária. Esta aposta no Sector Saúde está inscrita no Plano de Desenvolvimento do Concelho por razões também do desenvolvimento económico regional. Não por acaso a População foi ao longo dos tempos articulando a actividade económica com o Turismo de Saúde. Turismo de Saúde que volta a ser uma ideia e um caminho no mundo e sobretudo em Portugal – com especial vocação - na rota de um “negócio” avaliado, actualmente, em cerca de 70 mil milhões de euros (Expresso de 25/2/2012). Sobretudo porque temos serviços de referência e mais baratos do que a grande parte dos restantes países ocidentais – o que nos coloca numa posição vantajosa em termos de poder competitivo. Por isso faz sentido que se pondere e enquadre, no âmbito, do tão desejado desenvolvimento da Economia Nacional – imprescindível no curto prazo, o planeamento da Saúde na Região Oeste de modo a não inviabilizar mais tarde aquele caminho. Seria desastroso que a região Oeste, com especial aptidão neste campo, perdesse um fluxo turístico muito importante, em consequência do atendimento em termos de Saúde não vir a oferecer, eventualmente, as garantias necessárias.

3 comentários:

manuela nascimento disse...

Seria bom que houvesse bom senso e ouvissem as pessoas certas, o doutor é segundo penso a pessoa mas habilitada para o fazer, antes de tomarem medidas tendo em vista sòmente o lucro esquecendo todas as raízes históricas e comprimissos há séculos assumidos.

Anónimo disse...

‎:))) Um enquadramento excelente, onde a luz e a sombra traduzem as indefinições do futuro do Hospital Termal, no conceito primário a que foi criado e destinado pela sua fundadora. Aguardemos a sentença final. Parabéns Vasco.
Anita Martins

Anónimo disse...

E o Ministério da Saúde, leva em consideração a riqueza arquitetónica, histórica e humanista do H.Termal?.
Luísa Barbosa