Chalet Biester - Sintra, Estrada da Pena
The Ninth Gate Theme - Sumi Jo
Cerca de 1890, Ernesto
Biester, rico comerciante de origem alemã e desde há muito radicado em
Portugal, elegeu para edificar a sua mansão uma propriedade em Sintra (Estrada
da Pena). A execução do chalet – que tomou o nome do proprietário – revelou-se
eclética tendo inclusive recebido a colaboração de Rafael Bordalo Pinheiro
(azulejos da lareira).
O Chalet Biester apontado frequentemente como sede de vários lendas e mistérios (há quem refira uma ligação subterrânea para a Quinta da Regaleira) foi um dos vários cenários do filme The Ninth Gate (A Nona Porta), dirigido por Roman Polanski e onde o actor principal é Johnny Depp, no papel de um compulsivo caçador de livros raros.
O Chalet Biester apontado frequentemente como sede de vários lendas e mistérios (há quem refira uma ligação subterrânea para a Quinta da Regaleira) foi um dos vários cenários do filme The Ninth Gate (A Nona Porta), dirigido por Roman Polanski e onde o actor principal é Johnny Depp, no papel de um compulsivo caçador de livros raros.
Transcrevemos do nº 4 da
revista “A Architectura Portugueza, de 1908”:
“Em detalhe, toda a construcção é um mimo. Exteriormente, o arco abatido que emmoldura a porta dupla de entrada, arco em que se ergue um balcão coberto, constitue, no seu conjuncto, um motivo delicioso em que [José Luís] Monteiro affirma, simultaneamente, o seu valor de constructor e de artista. D’uma grande simplicidade, casando-se admiravelmente com a restante fachada de que esse motivo é a parte central e principal, as columnas que, n’elle, entram, sem deixarem de representar a sua funcção structural, de supporte, são d’uma graça e leveza incomparáveis, e a maneira como Monteiro deu a máxima cor, sem volumes excessivos, a esse detalhe da fachada, é tambem uma affirmação, e boa, da sua valia.
Internamente, se Monteiro teve a collaboração de Manini e Leandro Braga que, sobretudo na sala de jantar, mostrou quão grande era o seu valor de technico e artista, a sua direcção adivinha-se em toda a parte, ainda mesmo n’um ou n’outro ponto em que a phantasia de Leandro Braga, sentindo-se mais à vontade, se expandiu por isso tambem mais livre e acentuadamente. Desenhador d’um valor que, ainda hoje, é lembrado como tal pelos seus companheiros do atelier Pascal, Monteiro, sem prejudicar a visão de Leandro Braga que era o primeiro a respeitar, detalhou até à ultima, sempre que o julgou necessario, qualquer pormenor em que Braga interveio e que Monteiro entendia estar dentro da sua alçada. No resto, Braga, subordinando-se ao plano geral, fez só o que a sua consciencia de artista lhe ditou. E assim, a obra dos dois, se por vezes se funde, funde-se sempre em virtude do esforço consciente de ambos, não trazendo por isso prejuizo a um ou a outro, mas antes dando-lhes mais lustre e gloria.
“Em detalhe, toda a construcção é um mimo. Exteriormente, o arco abatido que emmoldura a porta dupla de entrada, arco em que se ergue um balcão coberto, constitue, no seu conjuncto, um motivo delicioso em que [José Luís] Monteiro affirma, simultaneamente, o seu valor de constructor e de artista. D’uma grande simplicidade, casando-se admiravelmente com a restante fachada de que esse motivo é a parte central e principal, as columnas que, n’elle, entram, sem deixarem de representar a sua funcção structural, de supporte, são d’uma graça e leveza incomparáveis, e a maneira como Monteiro deu a máxima cor, sem volumes excessivos, a esse detalhe da fachada, é tambem uma affirmação, e boa, da sua valia.
Internamente, se Monteiro teve a collaboração de Manini e Leandro Braga que, sobretudo na sala de jantar, mostrou quão grande era o seu valor de technico e artista, a sua direcção adivinha-se em toda a parte, ainda mesmo n’um ou n’outro ponto em que a phantasia de Leandro Braga, sentindo-se mais à vontade, se expandiu por isso tambem mais livre e acentuadamente. Desenhador d’um valor que, ainda hoje, é lembrado como tal pelos seus companheiros do atelier Pascal, Monteiro, sem prejudicar a visão de Leandro Braga que era o primeiro a respeitar, detalhou até à ultima, sempre que o julgou necessario, qualquer pormenor em que Braga interveio e que Monteiro entendia estar dentro da sua alçada. No resto, Braga, subordinando-se ao plano geral, fez só o que a sua consciencia de artista lhe ditou. E assim, a obra dos dois, se por vezes se funde, funde-se sempre em virtude do esforço consciente de ambos, não trazendo por isso prejuizo a um ou a outro, mas antes dando-lhes mais lustre e gloria.
O parque que, como já
dissemos, é obra de Nogré, é uma maravilha. Como Polixénes do “Conto d’Inverno”
de Shakespeare, que dizia que “a arte que ajuda a natureza é a arte superior
porque é, por assim dizer, ainda a natureza”, o sr. Nogré fez o seu jardim
Biester no estylo da paysagem, limitando-se sempre que lhe foi possivel, acabar
a obra principiada pela natureza, e isso sem esquecer a casa que o jardim tinha
de enquadrar. N’esta orientação, traçou-lhe todas as ruas e alamedas de forma a
fazer valer, de todos os lados e o melhor possivel, a silhueta geral do
edificio. Ora avultando em pittorescos maçissos, ora ondulando, naturalmente,
sem outra cobertura além da que lhe dá a herva cuidadosamente aparada, o parque
valorisa-se assim com o mesmo principio de sobriedade que caracterisa, na
alternação dos espaços nus e decorados, o estylo romanico. E, correndo em todos
os sentidos, ao longo das três faces posteriores da casa, que umas vezes quasi
desapparece sob a massa dos seus tufos, outras surge desafogada, e ainda outras
apparece enquadrada e recortada da folhagem, esta oferece-se, por esta fórma,
continuamente, a quem a olha de fóra, como um elemento sempre original e novo.
Notas: Na casa Biester,
collaboraram as seguintes pessoas: mestre Costa, tendo por encarregado de
carpinteiros seu sobrinho Carlos da Costa Soares, ambos de Cintra. Este ultimo,
quando aquelle se impossibilitou por doença, substituiu-o como mestre da obra
até final, mostrando a sua muita competência. Os estuques são de Domingos
Antonio da Silva Meira; a esculptura em madeira de Leandro Braga e a pintura
decorativa de Luigi Manini, excepto o arauto que se vê na entrada que é de
Baeta, tambem distincto pintor. A guarnição de ferro forjado da grande chaminé
da sala de jantar é de José da Quinta, artista serralheiro de grande valor.”
8 comentários:
Já fiquei mais rica, com este belo texto que descreve as memórias vividas por estas paredes e jardim que compõem o Chalet Bister. Muitas mãos deram-lhe forma, cor, textura, que harmoniosamente fazem desta original mansão, um dos edifícios mais bonitos de Sintra. Obrigada pela partilha Vasco.
Ana Voigt
Que coisas tão bonitas e harmoniosas se faziam no passado! Decididamente sou uma saudosista com tudo o que a palavra possa ter de bom...ou de mau! Obrigada pela partilha!
Maria Helena Serrano
Fabulosa descrição. Agradeço e partilho.
Jorge Paulo Gonçalves
Obrigada por partilhar conosco!
Odete Maçãs
Lindo, espero que o Basilio não dê cabo dele!
Cristina Ramos Horta
Ainda bem que continua a ser estimado! Eu gostaria de lá viver.. mas apenas se tivesse empregados suficientes para cuidar dele.
Ernestina Santos
Lindo Chalet.
Maria Félix
Perguntei a muita gente que chejé era aquele que via da Capela de S. Martinho, mas a resposta foi sempre evasiva, até que desisti.
Tenho fotografias que não me satisfazem, pois o melhor lugar que encontrei foi da capela de S. Martinho, de onde fica tapado por edifícios em ruínas.
Agora, lendo o que escreveu, ressurgiu a vontade de ir atá lá.
Tem fotografias muito bonitas de Sintra.
Logo que estela capaz de andar á vontade vou até lá.
Obrigada VT pelo que nos mostra.
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