I wish you Love - Sacha Distel
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Confesso que sempre me
fascinou o universo misterioso dos perfumes pela possibilidade de nos fazer
sonhar. Quanto melhores mais emocionante e mágicos os momentos de sedução que
lhes poderão ficar associados - tal como a música já que ambos falam a mesma
linguagem (notas, composição, toque, órgão, harmonia, etc.). De facto podemos
associar determinado aroma a pessoas específicas ou a momentos especiais
guardados na nossa memória olfactiva. Os perfumes podem conter o poder de conferir uma qualidade extraordinária a alguém. Alguém que pode tornar-se mítica(o) quando a sua presença é anunciada por uma aura magnética fascinante, irresistivel e apaixonante que emana da combinação da fragrância que usa com a sua pele - desencadeando um
encantamento feito de múltiplas sensações em nós. Ligados sobretudo aos afectos um perfume pode transformar um encontro, um enlace ou um beijo em algo de inesquecível que
eleva os amantes e o amor para patamares de excepção. Um bom perfume é aquele
que nos dá vontade de cheirar cada vez mais - sem parar, mantendo a sua
tenacidade (ligada às notas de fundo) e o seu “rastro” durante um ou mais dias.
A alquimia dos odores pode transmitir-nos
sensações ou conceitos como: a classe, o mistério, a doçura, o dinamismo, a sensualidade,
a frescura, a tranquilidade - entre outros, que ficam “agarrados” às pessoas
que os evocam através de perfumes específicos. Por outro lado a sedução também
passa pelo efeito que o aroma tem sobre o próprio(a) utilizador(a), levando a
sentir-se sedutor(a) ou audaz, capaz de se ultrapassar nas suas capacidades,
etc. Por isso devemos escolher sempre as fragrâncias pelas sensações que nos
despertam e reflectem e não pela publicidade ligada a uma imagem que muitas
vezes não corresponde ao conteúdo dos frascos de perfume. Assim o aroma
sublinhará melhor a nossa personalidade, fará parte de nós e pode tornar-se o
odor da pessoa que adquire assim uma “aura” plena de códigos com uma linguagem
que nos transporta e atrai a um mundo onde a cultura de sonhos é sublinhada por
fragrâncias invisíveis. Em Paris há algumas casas que fabricam o perfume “à
medida” da pele (que transporta e modifica odores) de cada pessoa compatibilizando
os aromas com os óleos cutâneos e a personalidade de cada cliente (a confecção
pode demorar até 6 meses).
Inicialmente produzidos a
partir de elementos da Natureza (mormente flores) diluídos, numa primeira fase,
em álcool (a 7% são águas de colónia, a 12% são águas de “toilette”, a 18% são
“Eau de Parfum” e a partir de 20% são essências ou perfumes) - hoje fabricam-se
essencialmente a partir de substâncias sintéticas, embaratecendo o custo e
permitindo maior produção e massificação da utilização. Deste modo assiste-se
ao declínio dos grandes perfumes e da perfumaria, sobretudo a partir de 1985. O
que antes era obra de artesanato cuidado tornou-se uma indústria dirigida quase
só ao lucro onde os aromas quase todos não possuem notas de fundo e persistência
deixando só um cheiro a produtos sintéticos em todos os utilizadores que ficam
todos a cheirar de modo igual ao fim de algumas horas. Por isso considera-se
que hoje há poucos “grandes perfumes”. Outrora para fabricar 28 gramas do mais
caro perfume de sempre - o célebre “Joy” (o Rolls Royce da perfumaria que era o
preferido de Jackie Kennedy) - eram precisas 10. 600 flores de jasmim e 28
dúzias de rosas da Bulgária. Hoje os sintéticos são exclusivamente químicos e mais voláteis.
As “notes de coeur” evaporam-se rapidamente. Consomem-se e cheiram-se
rapidamente e desaparecem de igual modo. Por isso seduzem ainda os grandes
perfumes produzidos no 1º quartel do Séc. XX - que surgem sempre entre os 10
melhores citados por diversas publicações (como p. ex. Shalimar - considerado
pelos especialistas como o melhor perfume feminino de todas as épocas). Houve e
há perfumes com histórias fantásticas associadas, e que nos contam grandes
amores, grandes aventuras sobre pessoas fascinantes ou factos surpreendentes
ligados ao seu aparecimento e utilização. O perfume continua a ser um cântico
misterioso e poético da Natureza (celebrado por Omar Khayan e Baudelaire), onde
podemos reencontrar os nossos jardins de infância, os lençóis perfumados de
casa da avó, ou os lábios sedutores de um grande amor.
Mas… apesar de tudo ainda
existem hoje bons “perfumistas” com paletas de odores com originalidade e
qualidade. Atrevo-me a citar um bom e actual exemplo de uma fragrância de
excepção citada frequentemente em diferentes livros sobre a matéria como um dos
10 ou dos 100 grandes perfumes de sempre: Eau d'Hadrien criado em 1981 pela
célebre (infelizmente já desaparecida) perfumista francesa Annick Goutal (e
talvez o seu maior êxito de sempre). Annick Goutal trabalhava, então
em Itália onde criou um maravilhoso jardim olfactivo com frutas maduras ensolaradas
às quais adicionou uma “nota” que desenha paisagens na Toscânia - “Les cyprès”. Esta
fragrância reflecte o amor de Annick Goutal pelo Sul da Europa e encontrou
inspiração nos ecos literários do romance "Memórias de Adriano", de
Marguerite Yourcenar. Uma fragrância universal para os amantes do eterno que
vogam entre o frescor dos cítricos, à sombra de um limoeiro na Sicília. Um
perfume que ama a pele e a ternura com uma doçura quase infantil. Para ambos os
sexos é composto por uma mistura de limão siciliano, toranja, tangerina
verde, ylang-ylang e cipreste. Um ponto comum entre Sharon Stone, Leonardo de
Caprio, Céline Dion e o príncipe Carlos.
É um dos meus favoritos - sobretudo nas manhãs de Verão ou perfumando os lençois da cama. Talvez porque a minha memória olfactiva recorda o marcado e agradável aroma fresco a limões que me rodeava e surpreendia quando, com poucos anos de idade, visitava a casa da Madrinha do meu irmão. Uma senhora alemã a quem ouvia chamar de Fraulein Elisabeth e que muito provavelmente veio para Portugal na sequência da 2ª Guerra Mundial e era colega de trabalho de meu pai. Todas as salas estavam impregnadas daquela fragrância (e impecavelmente arrumadas e superlimpas) fresca e acolhedora - ao contário de outras que visitava e que habitualmente cheiravam a comida cozinhada. Por vezes ainda sonho com o seu jardim de flores, que ficava nas traseiras, e onde entrava como se fosse um caleidoscópio perfumado onde sobre um fundo de aroma de citrinos estendia-se um mar colorido de pétalas onde abundavam as begónias semperflorens. Toda aquela paisagem olfactiva dava uma enorme sensação de bem estar que associo, naturalmente, ao aroma de limões - quando intenso.
É um dos meus favoritos - sobretudo nas manhãs de Verão ou perfumando os lençois da cama. Talvez porque a minha memória olfactiva recorda o marcado e agradável aroma fresco a limões que me rodeava e surpreendia quando, com poucos anos de idade, visitava a casa da Madrinha do meu irmão. Uma senhora alemã a quem ouvia chamar de Fraulein Elisabeth e que muito provavelmente veio para Portugal na sequência da 2ª Guerra Mundial e era colega de trabalho de meu pai. Todas as salas estavam impregnadas daquela fragrância (e impecavelmente arrumadas e superlimpas) fresca e acolhedora - ao contário de outras que visitava e que habitualmente cheiravam a comida cozinhada. Por vezes ainda sonho com o seu jardim de flores, que ficava nas traseiras, e onde entrava como se fosse um caleidoscópio perfumado onde sobre um fundo de aroma de citrinos estendia-se um mar colorido de pétalas onde abundavam as begónias semperflorens. Toda aquela paisagem olfactiva dava uma enorme sensação de bem estar que associo, naturalmente, ao aroma de limões - quando intenso.
«La nature et ses merveilles me guident. Mes
émotions deviennent senteurs, j’ai nommé Parfum le rêve qui me porte» (Annick
Goutal).
6 comentários:
Li o texto associado à imagem. Uma investigação profunda sobre perfumes e o assunto muito bem tratado. Parabéns, Vasco Trancoso.
Manuel Mendes
Natureza viva? Que lindeza!
Deolinda Barros
De que é feito o bom gosto?
Deolinda Barros
Foto linda, com cores maravilhosas...
Maria Félix
Li e gostei. Afinal fiz parte dessa história , bem escrita e com conhecimento!
Um tema muito perfumado e que logo me seduziu.
Desde há tanto tempo que me encanta o mundo dos perfumes!
Quando apareceu um determinado perfume que foi por mim elegido como "o meu" não mais mudei, Aquele é mesmo "o meu perfume".
Gostei do texto e dessa pesquisa sobre o assunto.
Parabéns.
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