segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Morte na Mata

Morreu um dos seres vivos mais importante das Caldas da Rainha. Ao passar pela Mata constatei com tristeza que uma das 3 mais importantes árvores da Mata Rainha D. Leonor – um carvalho adulto com cerca de 400 anos tombou com os ventos de Janeiro (recordo que aqui fizemos eco que neste mesmo mês mas em 2013 e em 2014 caíram (no total) mais de mil árvores na Mata e no Parque das Caldas da Rainha). Pertencia a uma fase inicial da Mata das Caldas da Rainha da responsabilidade dos provedores do séc. XVI. Ficamos com ideia, dada a abundância desta espécie na Mata, que houve intenção de a privilegiar talvez devido às referências da sua ligação ao Sagrado.
Tinha mais de 25m de altura e uma copa muito larga, destacando-se o diâmetro do seu tronco - muito superior ao dos outros carvalhos em volta. Deveria talvez ter sido escorada evitando o peso excessivo de alguns dos seus ramos – tal como tem sido feito noutros locais com maior sensibilidade (Frades, Calvo no Minho). Note-se que os carvalhos podem atingir mais de 800 anos de idade. Os japoneses têm um provérbio que diz que o "carvalho leva 300 anos a crescer, 300 anos a manter-se adulto e 300 anos a morrer".
Como o M. Saúde diz que não tem vocação e aparentemente deixou de cuidar adequadamente da Mata e do Parque e como a Câmara ainda não tem a responsabilidade de os administrar - ficamos num limbo em que aqueles espaços se vão degradando sem ninguém intervir como seria desejável. Poderia haver um protocolo para assegurar os cuidados necessários por entidade idónea enquanto se verifica esta situação. Cada vez é mais premente saber quem cuida do Parque e da Mata enquanto a Câmara não toma posse destes espaços. Por quanto mais tempo vamos assistir a esta delapidação patrimonial? Será que no futuro a Mata será um espaço sem árvores?
Perdeu-se um tesouro patrimonial e um ser vivo excepcional que assistiu, praticamente, a toda a história desta terra.
Morreu de braços erguidos para o céu...

sábado, 24 de janeiro de 2015

Mestre José Santa-Bárbara.

José Santa-Bárbara (JSB) é um artista plástico de craveira nacional que é oriundo das Caldas da Rainha. A Cidade das Artes, como também é denominada, tem sido berço de grandes nomes no panorama das Artes plásticas portuguesas. Malhoa, António Duarte e João Fragoso nasceram nesta cidade e Bordalo Pinheiro e Ferreira da Silva (ambos ceramistas) escolheram as Caldas como sua terra adoptiva.
JSB nasceu em 28 de Outubro de 1936. Foi aluno de Abel Manta e fez os cursos de Cerâmica e de escultura. Foi bolseiro da F. Gulbenkian ara realização de levantamento de equipamento urbano a nível Nacional (1962-64).
Professor do ensino técnico e secundário (1960-64) trabalhou nos seguinte projectos: fábrica de loiça de esmalte Águia, Porto (1964-66); monumento ao poeta João de Barros (1967-68); ICESA, indústria de pré-fabricação pesada, onde faz design de equipamento urbano e de interiores (1968-74); núcleo de Arte e de Arquitectura Industrial do INII (1970-71); organização da exposição na Casa de Serralves Design para a cidade: situações, artefactos e ideias, Porto, 1991; intervenções plásticas nas estações de Entre Campos (1994) e Sª Apolónia do Metropolitano de Lisboa; intervenções plásticas nas estações ferroviárias do Pragal (1998), Entre Campos (fachada sul; 1998) e Rossio, entre outras.
A partir de 1971 e durante mais de trinta anos é responsável pelo Gabinete de Design da CP podendo destacar-se, por exemplo, a concepção do logotipo da empresa ou o design dos interiores e exteriores das automotoras (1990-94). Este projeto, que constituiu a primeira grande experiência de design levada a cabo em material circulante ferroviário em Portugal, teve um considerável sucesso, tendo sido premiado com um prémio nacional de design a com o prémio especial do júri do European Community Design Prize (o primeiro prémio internacional de design recebido por uma companhia portuguesa).
Autor multifacetado, Santa-Bárbara tem-se dedicado a múltiplas áreas e actividades: design gráfico (arranjo gráfico de livros e outras publicações; capas de discos, nomeadamente de José Afonso; símbolos, etc.); design de equipamento urbano, interiores e mobiliário; design industrial; desenho, pintura, cerâmica (azulejo), gravura, ilustração; escultura, medalhística.
Realizou as primeiras exposições individuais em 1964 (Galeria Divulgação, Porto; Galeria 111, Lisboa). Depois de um longo interregno, intensificou a prática da pintura e voltou a expor individualmente com regularidade a partir de 1996. Participou em inúmeras mostras colectivas, de que podem destacar-se: Exposições gerais da SNBA Lisboa (1953, 1954, 1955, 1956); 50 Artistas independentes SNBA, 1959; 1ª Exposição de Design Português, FIL, Lisboa, 1970; 20 Anos da Gravura, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1976; Design Lisboa 94, CCB, Lisboa, 1994; Exposição dos Galardoados com o Prémio Nacional de Design, Centro Português de Design, Lisboa, 1994; etc.
Recebeu as seguintes distinções: Medalha de Mérito Municipal-1.º Grau Ouro, Câmara Municipal de Sintra (2005); Medalha de Mérito-Grau Ouro, pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha (2009).
Fonte: Wikipedia

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A Claridade da Alma

António Rosa vendedor no Mercado das Caldas da Rainha. 

Série de retratos de vendedores / agricultores da tradicional Praça da Fruta das Caldas da Rainha - na sequência de outros já publicados.
Pretende-se fazer simultaneamente recolha e homenagem às Pessoas.
A Praça tem uma enorme importância (e mais-valia) histórica e uma originalidade que advém da sua cobertura celeste. Mas a Praça não se faz apenas com o empedrado do tabuleiro e com a pontualidade do céu aberto.
Faz-se também com as Pessoas.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Depois da Fotografia

Esta imagem simples, apesar de não ter impacto imediato no Presente pode ter significado algures no Futuro, em análise retrospectiva. Um Futuro depois da Fotografia tal como a conhecemos hoje. Trata-se de uma cena com que nos deparamos cada vez nas sociedades de hoje, mas suscitou-me a seguinte reflexão sobre o Social, a Fotografia e o Futuro:

A imagem fotográfica e a sua evolução constante moldaram a nossa experiência da realidade – narrando o mundo em mudança e gravando a sua diversidade para melhor nos ajudar a entendê-lo.
Ao longo das últimas duas décadas, com o mundo cada vez mais voltado para as imagens digitais, acentuaram-se simultaneamente três tendências fundamentais - potenciando-se reciprocamente.
1 - São cada vez mais as pessoas que não praticam a fotografia como uma arte. Em vez disso (como previsto por Susan Sontag) a fotografia tornou-se um utilitário cultural num mundo onde aumentou a insaciabilidade do olho que fotografa. A sua difusão cresceu, mormente nas redes sociais onde as pessoas precisam de ver confirmada a sua visão da realidade por meio de fotografias - num crescente consumismo estético – e onde proliferam as “selfies” nos mais diversos contextos do dia-a-dia de cada um, propiciando cada vez mais o seu aproveitamento por terceiros – bem como por eventuais mecanismos de controlo.
2 – A fotografia social tem evoluído, com a ajuda das novas tecnologias, para um novo paradigma: As pessoas envolvidas nas situações tendem a surgir como os seus próprios fotógrafos – registando os eventos com maior verdade. Um amador beneficiando do conhecimento prévio da cultura, do lugar e das pessoas, está em melhores condições para transmitir em imagens as entrelinhas do tecido social onde se insere. Um fotógrafo profissional, mas forasteiro, terá à partida maior dificuldade em integrar-se e ser aceite pela mesma comunidade. O grau de confiança e do à vontade da comunidade perante os dois tipos de fotógrafos é bem diferente. Em geral um fotógrafo profissional tem também tendência em enfatizar os aspectos mais dramáticos na procura de imagens com maior impacto mediático. No entanto as pessoas estão a mudar o seu modo de reagir ao fotojornalismo da desgraça. Já quase nada espanta neste campo. A atenção centra-se mais nas surpresas e nas emoções do dia-a-dia da comunidade.
São exemplos as imagens na década de 1990 durante o genocídio no Ruanda (onde surge a foto fabulosa de Gadi no Mercado colhida por Jacqueline com apenas 8 anos) ou as feitas por civis, em 2004, no Iraque.
3 – As máquinas fotográficas tendem a ser cada vez mais pequenas – de modo a caberem num bolso – e com capacidade para colherem imagens com qualidade crescente. Os caminhos do futuro apontam para máquinas do tamanho de smartphones (eventualmente integradas nestes) mas capazes de produzir imagens com a mesma ou maior qualidade das actuais topo de gama (SLRs ou médio formato) e com menor complexidade de funcionamento.

Com estas tendências a acentuarem-se o nosso raciocínio voa na aventura da previsão onde não custa admitir que no futuro, depois da fotografia tal como a conhecemos hoje, todos teremos mini camaras digitais de “apontar e clicar” ligadas às redes sociais e ou a organizações governamentais que controlarão o processamento das imagens e a difusão de um novo mundo digital. Como bom selvagem e lembrando-me do Admirável Mundo Novo do Aldous Huxley – vou agarrar já na minha máquina SLR e vou lá para fora fotografar enquanto é possível fazê-lo como num passado recente em vias de extinção. 

sábado, 10 de janeiro de 2015

Sobre o tamanho do Silêncio

Encontramos a praia deserta. Com os olhares fugidios,
ensaiamos alguma conversa de mistérios abertos
na seriedade do momento musicado pelas ondas do mar
e pelos gritos das gaivotas tristes, mas brancas.
O silêncio está sempre ocupado, mesmo quando não há palavras;
portanto, as reticências podem prolongar-se em suspiro longo,
os pontos finais deitar-se ao abandono do ar fresco.
A manhã parece cheia de vazios repletos de sensações
e as palavras vão ganhando agilidade, ritmo, alguma emoção,
enquanto os silêncios de mar calam brisas ainda húmidas.
As gaivotas alinham-se agora, sentadas na areia molhada,
enquanto batem os corações que as olham, descompassados.
Sentimos o ar tão quente, que queremos ter asas também,
voar contra o vento de penas leves em desalinho.
Enterramos longe as pesadas penas de ontem.
Ainda há pouco o tempo parou em todos os relógios.
E nós deixámos.

(Isabel Solano)

domingo, 4 de janeiro de 2015

Manhã no Parque

Passeio no Parque D. Carlos I em Caldas da Rainha (espaço da antiga Orbitur)
*
O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível.
Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira
Na grande pedra intacta, o tempo nos parques.
O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos
Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques
Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques.
O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros
Do passar dos passos, da cor que se move ao longe.
É alto, antigo, presciente o tempo nos parques
É incorruptível; o prenúncio de uma aragem
A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor
Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques.
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis
Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica
Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques.
Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja
Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura
Nos parques; e a pequenina cutia surpreende
A imobilidade anterior desse tempo no mundo
Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo
É o tempo nos parques.
(Vinicius de Moraes)

sábado, 3 de janeiro de 2015

A primeira manhã

Na manhã do primeiro dia do ano na Mata das Caldas da Rainha.
Morning has broken - Cat Stevens