Esta imagem simples, apesar de
não ter impacto imediato no Presente pode ter significado algures no Futuro, em
análise retrospectiva. Um Futuro depois da Fotografia tal como a conhecemos
hoje. Trata-se de uma cena com que nos deparamos cada vez nas sociedades de
hoje, mas suscitou-me a seguinte reflexão sobre o Social, a Fotografia e o
Futuro:
A imagem fotográfica e a sua
evolução constante moldaram a nossa experiência da realidade – narrando o mundo
em mudança e gravando a sua diversidade para melhor nos ajudar a entendê-lo.
Ao longo das últimas duas
décadas, com o mundo cada vez mais voltado para as imagens digitais,
acentuaram-se simultaneamente três tendências fundamentais - potenciando-se
reciprocamente.
1 - São cada vez mais as
pessoas que não praticam a fotografia como uma arte. Em vez disso (como
previsto por Susan Sontag) a fotografia tornou-se um utilitário cultural num
mundo onde aumentou a insaciabilidade do olho que fotografa. A sua difusão
cresceu, mormente nas redes sociais onde as pessoas precisam de ver confirmada
a sua visão da realidade por meio de fotografias - num crescente consumismo
estético – e onde proliferam as “selfies” nos mais diversos contextos do
dia-a-dia de cada um, propiciando cada vez mais o seu aproveitamento por
terceiros – bem como por eventuais mecanismos de controlo.
2 – A fotografia social tem
evoluído, com a ajuda das novas tecnologias, para um novo paradigma: As pessoas
envolvidas nas situações tendem a surgir como os seus próprios fotógrafos –
registando os eventos com maior verdade. Um amador beneficiando do conhecimento
prévio da cultura, do lugar e das pessoas, está em melhores condições para
transmitir em imagens as entrelinhas do tecido social onde se insere. Um
fotógrafo profissional, mas forasteiro, terá à partida maior dificuldade em
integrar-se e ser aceite pela mesma comunidade. O grau de confiança e do à
vontade da comunidade perante os dois tipos de fotógrafos é bem diferente. Em
geral um fotógrafo profissional tem também tendência em enfatizar os aspectos
mais dramáticos na procura de imagens com maior impacto mediático. No entanto
as pessoas estão a mudar o seu modo de reagir ao fotojornalismo da desgraça. Já
quase nada espanta neste campo. A atenção centra-se mais nas surpresas e nas
emoções do dia-a-dia da comunidade.
São exemplos as imagens na
década de 1990 durante o genocídio no Ruanda (onde surge a foto fabulosa de
Gadi no Mercado colhida por Jacqueline com apenas 8 anos) ou as feitas por
civis, em 2004, no Iraque.
3 – As máquinas fotográficas
tendem a ser cada vez mais pequenas – de modo a caberem num bolso – e com
capacidade para colherem imagens com qualidade crescente. Os caminhos do futuro
apontam para máquinas do tamanho de smartphones (eventualmente integradas
nestes) mas capazes de produzir imagens com a mesma ou maior qualidade das
actuais topo de gama (SLRs ou médio formato) e com menor complexidade de
funcionamento.
Com estas tendências a
acentuarem-se o nosso raciocínio voa na aventura da previsão onde não custa
admitir que no futuro, depois da fotografia tal como a conhecemos hoje, todos
teremos mini camaras digitais de “apontar e clicar” ligadas às redes sociais e
ou a organizações governamentais que controlarão o processamento das imagens e a
difusão de um novo mundo digital. Como bom selvagem e lembrando-me do Admirável
Mundo Novo do Aldous Huxley – vou agarrar já na minha máquina SLR e vou lá para
fora fotografar enquanto é possível fazê-lo como num passado recente em vias de
extinção.
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