domingo, 18 de janeiro de 2015

Depois da Fotografia

Esta imagem simples, apesar de não ter impacto imediato no Presente pode ter significado algures no Futuro, em análise retrospectiva. Um Futuro depois da Fotografia tal como a conhecemos hoje. Trata-se de uma cena com que nos deparamos cada vez nas sociedades de hoje, mas suscitou-me a seguinte reflexão sobre o Social, a Fotografia e o Futuro:

A imagem fotográfica e a sua evolução constante moldaram a nossa experiência da realidade – narrando o mundo em mudança e gravando a sua diversidade para melhor nos ajudar a entendê-lo.
Ao longo das últimas duas décadas, com o mundo cada vez mais voltado para as imagens digitais, acentuaram-se simultaneamente três tendências fundamentais - potenciando-se reciprocamente.
1 - São cada vez mais as pessoas que não praticam a fotografia como uma arte. Em vez disso (como previsto por Susan Sontag) a fotografia tornou-se um utilitário cultural num mundo onde aumentou a insaciabilidade do olho que fotografa. A sua difusão cresceu, mormente nas redes sociais onde as pessoas precisam de ver confirmada a sua visão da realidade por meio de fotografias - num crescente consumismo estético – e onde proliferam as “selfies” nos mais diversos contextos do dia-a-dia de cada um, propiciando cada vez mais o seu aproveitamento por terceiros – bem como por eventuais mecanismos de controlo.
2 – A fotografia social tem evoluído, com a ajuda das novas tecnologias, para um novo paradigma: As pessoas envolvidas nas situações tendem a surgir como os seus próprios fotógrafos – registando os eventos com maior verdade. Um amador beneficiando do conhecimento prévio da cultura, do lugar e das pessoas, está em melhores condições para transmitir em imagens as entrelinhas do tecido social onde se insere. Um fotógrafo profissional, mas forasteiro, terá à partida maior dificuldade em integrar-se e ser aceite pela mesma comunidade. O grau de confiança e do à vontade da comunidade perante os dois tipos de fotógrafos é bem diferente. Em geral um fotógrafo profissional tem também tendência em enfatizar os aspectos mais dramáticos na procura de imagens com maior impacto mediático. No entanto as pessoas estão a mudar o seu modo de reagir ao fotojornalismo da desgraça. Já quase nada espanta neste campo. A atenção centra-se mais nas surpresas e nas emoções do dia-a-dia da comunidade.
São exemplos as imagens na década de 1990 durante o genocídio no Ruanda (onde surge a foto fabulosa de Gadi no Mercado colhida por Jacqueline com apenas 8 anos) ou as feitas por civis, em 2004, no Iraque.
3 – As máquinas fotográficas tendem a ser cada vez mais pequenas – de modo a caberem num bolso – e com capacidade para colherem imagens com qualidade crescente. Os caminhos do futuro apontam para máquinas do tamanho de smartphones (eventualmente integradas nestes) mas capazes de produzir imagens com a mesma ou maior qualidade das actuais topo de gama (SLRs ou médio formato) e com menor complexidade de funcionamento.

Com estas tendências a acentuarem-se o nosso raciocínio voa na aventura da previsão onde não custa admitir que no futuro, depois da fotografia tal como a conhecemos hoje, todos teremos mini camaras digitais de “apontar e clicar” ligadas às redes sociais e ou a organizações governamentais que controlarão o processamento das imagens e a difusão de um novo mundo digital. Como bom selvagem e lembrando-me do Admirável Mundo Novo do Aldous Huxley – vou agarrar já na minha máquina SLR e vou lá para fora fotografar enquanto é possível fazê-lo como num passado recente em vias de extinção. 

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