quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A Cabine

A propósito de estruturas aberrantes semeadas por muitas das nossas praias hoje trago uma imponente cabine com duche e publicidade que registei, na Foz do Arelho, por entre pavilhões de plástico, legos gigantescos e palcos com gente a dançar animada pelo som tonitruante de megafones. Acresce que ostenta a palavra "naturalmente" numa situação que tem pouco a ver com a Natureza. De facto a praia já não é um lugar em que se ouve o marulhar das ondas e o pio das gaivotas e onde pairava uma serenidade que convidava à meditação e nos reconfortava.
No meio desta alienação lembrei-me, a propósito desta espécie de cápsula, de Jorge Luís Borges e do seu livro seminal: Ficções. E surgiram estas palavras:

Uma Cápsula do Tempo
Numa praia perto de si
Como se esperasse por alguém
Que poderá desaparecer no seu interior
Teletransporte onde tudo parte e chega
Comunicando Universos diferentes
Convergentes, divergentes, paralelos
Um Tempo livre de relógios
Lentamente vamos depressa
Soltos num Tempo multíplice
Cada Presente tem vários Futuros
Uma quantidade espantosa de realidades
O ponto de chegada será sempre o de partida
O Nada
O Nada que é a imagem de tudo e todos
De mãos dadas
Reflectida no espelho do Infinito

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