sexta-feira, 8 de maio de 2009

Flowers in your hair

Durante a Faculdade... foi tempo, também de centenas de danças, bailes e festas, nas “boites” e nas Embaixadas de outros países. Vivia-se o ponto alto do movimento Hippie - contra a cultura vigente porque defendia a não-violência e tinha como máxima a frase "Peace and Love". Além de se ligarem, de certo modo, ao Budismo os hippies vestiam-se com roupa simples e colorida e acreditavam que podiam mudar a Humanidade, para melhor, adoptando uma atitude de tolerância, e de alegria, bem como um modo de vida colectivista ou comunitário. Dar aos outros era fundamental - daí o acto simbólico de oferecer flores. Já alguém escreveu que terá sido a última oportunidade (perdida) para a Humanidade e há, actualmente, filósofos que defendem os mesmos princípios como uma resposta possível para evitar a "barbárie" consequente a uma catástrofe ecológica e económica previsível (Isabelle Strengers : "Au temps des catastrophes - Resister à la barbarie qui vient").
Num dia 8 de Maio, igual ao de hoje, começou um caso muito especial com a filha do então ministro conselheiro do Brasil. Um caso proibido.
A família quase a impedia de me ver porque, ainda na faculdade, e sem futuro certo e sem estabilidade económica, eu não era o noivo ”conveniente”. Esse, para os pais dela, era um engenheiro gordo e bem instalado na vida - assíduo lá de casa.
À revelia disto tudo encontrávamo-nos na discotecas ou em festas de amigos comuns... ou no calor da noite das festas dos Santos populares...
Até que um dia houve a tua festa de anos, que era também uma festa de despedida de Portugal (o teu pai tinha sido colocado num país da América Central) para a qual, obviamente tinha sido dado ordem para que eu não estar presente.
Porém, com a cumplicidade da tua “bábá”, subi pelo jardim das traseiras da moradia no Restelo, já aperaltado, e entrei pela varanda que dava para a sala do baile ao mesmo tempo que a música surgia com a voz do Scott McKenzie... com uma das nossas canções preferidas. Num sincronismo perfeito desceste, ao som dos primeiros acordes do “San Francisco”, como a incarnação de uma deusa, pela escadaria do primeiro andar com uma grinalda de flores vermelhas nos cabelos (1967 foi o ano mágico do Flower Power) e enlaçámo-nos no meio do salão a dançar novamente olhos nos olhos, e indiferentes a um círculo, que se abrira, de gente pasmada com a ousadia... A Força estava connosco... Procedíamos de acordo com aquele tempo de desafio às gerações anteriores, premonitório da revolta dos jovens que surgiria em 1968... E dançamos toda a noite assim... E voámos… sem ninguém se atrever a impedi-lo.
Claro que eras tu. Claro que éramos nós.
VT


San Francisco – Scott Mckenzie

4 comentários:

agata disse...

Eu tb sou hippie! xD

J J disse...

Ao som de "San Francisco" somos todos hippies,só que alguns já estamos reformados...
Esta é a canção que John Philips (dos Mamas & Papas,alguém se lembra?)tinha a mais na sua "bolsa musical" no Verão de 1967 e ofereceu a um cantor desconhecido juntamente com a imortalidade(ou,pelo menos,uma fama duradoura e uma vida sem problemas financeiros).Ele preferiu gravar "Californis Dreamin'",que poderia aqui aparecer num outro post, para vocês decidirem se ele escolheu bem o que deu e o que guardou.Eu acho que sim.
San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair) foi composta para promover o Festival de Monterey e acabou,diz-se,a ser cantada frente aos tanques soviéticos em Praga em 1968.Si non è vero è ben trovato.

Margarida Araújo disse...

Lembrei-me de flores que punhamos nos cabelos e de que o amor era para se fazer e não a guerra. Obrigada, gosto muito deste teu bocadinho de céu.

Mifafa disse...

O som a palavra Scott Mckenzie (e os outros ) faz sempre sonhar que este planeta com as flores da solidariedade do amor sem núcleos isolados,...em que ninguém fique indiferente a ninguém.
Estamos 2009 "vão lá quantos?" será um sonho hoje? Será que as vozes que apelaram ao amor ainda fazem sentido? Tenho a certeza que sim basta deixar o sol as flores toda a sua música entrarem em nós