quarta-feira, 30 de junho de 2010

O mistério das papoilas desaparecidas

Este ano algo de inusitado aconteceu às papoilas em redor da Lagoa de Óbidos e entre a Foz do Arelho e as Caldas da Rainha. Habitualmente quando passamos, em Maio e Junho, por estas áreas, deparamos com a alegria vermelha das papoilas pintando grandes extensões da paisagem campestre, aliás como é normal acontecer em muitos outros locais do país nesta época do ano. Mas este ano são raros e pequenos os tufos de papoilas que se observam. Não sei qual a razão. Não sei se houve alguma praga de insectos ou se há a concorrência de outras plantas ou ainda outras explicações mais bizarras. Apenas trago a questão. O que aconteceu às papoilas em redor da Lagoa de Óbidos?
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Where Have All The Flowers Gone? - Marlene Dietrich 

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Selva (a propósito da Janela da Infância)

Foto colhida no Jardim Botânico em Lisboa
No jardim da nossa Infância há outras janelas de onde também sonhávamos o mundo. O sonho era possível não só à janela que dava para a rua mas também no isolamento do nosso quarto a ler um livro que trazíamos da estante dos crescidos, ou no alto de uma árvore. Umas vezes víamos o mundo “lá fora” a desfilar à janela e em outras ocasiões era o mundo “cá dentro” que passava no ecrã da nossa imaginação. Hoje, porém, lembrei-me da minha primeira árvore. Mais precisamente: sonhei com ela e, em consequência, resolvi visitá-la. Era uma nespereira que reinava num canto do quintal dos meus avós. O quintal ficava nas traseiras do rés-do-chão de uma rua lisboeta e era como um oásis rodeado do emaranhado de ferro das “escadas de serviço” unindo os prédios do quarteirão. O azul da infância inundava aquele quintal tranquilo e eu sonhava enquanto subia para o alto nos ramos da nespereira. Sonhos verdes e castanhos em direcção ao sol. Depois de uma fase de gnomos, fadas e coelhos bem-falantes, a árvore transportou-me para a selva africana. Um pouco mais crescido e influenciado pelo jornal infantil “O Mundo de Aventuras” depressa entoava o grito do Tarzan. Perscrutando montanhas mágicas longínquas, para além da savana, chamava a Chita ou os elefantes para me ajudarem a salvar o Tarzan, das lanças de uma tribo hostil, das garras dos leopardos ou de outros perigos da selva. Claro que sonhava também que um dia encontraria o Amor e a companhia de uma Jane que passasse perto da minha árvore. Como disse, hoje fui procurar a minha primeira árvore. Depois de conseguir transpor obstáculos que antes não existiam (outros prédios, muro e portões) consegui finalmente encontrar a nespereira da minha infância. Quase escondida num canto e rodeada de betão armado pareceu-me outra, mais pequena, suja e triste. Não contive porém a emoção e abracei-a como quem abraça um ente muito querido que não se vê há muitas décadas. As lágrimas soltaram-se naturalmente mas, no meio da alegria do momento, consegui no entanto perceber, como quem rebobina o filme da sua vida do fim para o início, que a selva (de onde acabava de chegar) era outra diferente da que imaginara e que, eventualmente, o menino que sonhara, no alto dos ramos daquela árvore, pretendia, ainda sem saber na altura, afinal salvar-me no futuro. Foi muito importante ter voltado aos ramos daquela nespereira e sentir que se tratava de um reencontro desde sempre previsto. A minha árvore da infância será sempre verde no sonho sonhado agora.

Llorando - Rebekah Del Rio Versão em espanhol da canção “Crying” (1962) de Roy Orbison (BSO do filme Mulholland Drive de David Lynch) 

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Nos 135 anos do Zé Povinho

Praça da Fruta das Caldas da Rainha
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Max - Paolo Conte
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"ZÉ POVINHO ONTEM E HOJE"
O nosso irmão Zé Povinho não envelheceu ao longo destes anos, apenas se tem vindo a actualizar, disfarçando-se consoante a conjuntura social, mas resistindo sempre. Não há partido político que antes de eleições não diga que o povo tem sempre razão, fazendo promessas e aliciando o Zé Povinho com muitas obras, alvarás, subsídios, empregos e alguns projectos colectivos contendo a esperança de que deixaremos de ser pobres. E o Zé acredita e continua hoje a assistir à procissão política albardado de um modo mais disfarçado. Este “povo de pobres com mentalidade de ricos” que, perante um cenário cíclico de penúria nacional, se endivida cada vez mais para poder passar férias nas Caraíbas, e que mediante uma inexplicada cegueira interna acredita nas imagens que vai fabricando para seu próprio consumo, entende que é mais importante parecer do que ser e aparentemente não distingue entre acreditar e fingir acreditar. Embora, em geral, tente parecer que tem aquilo que não tem, em outros casos, procura aparentar o contrário. Isto é, finge não ter aquilo que na realidade possui. Esta atitude de se pretender passar por mais pobre do que aquilo que é, traz, em consequência, a confusão com os verdadeiros pobres. Boémio, fatalista, individualista, simultaneamente policia ou espião dos seus próprios vizinhos (ainda reflexo dos tempos da Inquisição) e fugitivo de impostos (com a desculpa: “ladrão que rouba a ladrão…”), burocrata nato, anárquico, pacífico mas matando impiedosamente por questões menores, mantendo um irrealismo notável sobre as suas próprias possibilidades, o Zé Povinho, ajustou-se, mantendo alguns dos velhos hábitos, em vez de os corrigir, permitindo que novas injustiças e novas albardas surgissem cobertas com o verniz da democracia. Assim continua a distribuição de empregos artificiais a quem gosta de fintar colectivamente o trabalho, promovendo-se a incompetência, o oportunismo e o clientelismo como se fossem qualidades. Os cargos de topo continuam a ser obtidos por compadrio pessoal ou político, rodando ao sabor dos Governos, sendo ignorada a competência técnica. Aliás, a febre da finta alastra muito para além do futebol. De facto a excepcional apetência pelos “tachos” ­acaba por ser mais uma modalidade de finta. O Zé procura insistentemente empregos de acesso fácil, nos quais poderá auferir vitaliciamente de aumentos anuais, sem que seja necessário existir qualidade e empenho no trabalho. Por isso criou-se o Funcionalismo Público. Aliás procura também a acumulação com outros “tachos”, lixando assim o acesso ao emprego de outros concidadãos que aprendem, deste modo, mais um aspecto da “cartilha do lixanço nacional”, que irão reproduzir, mais tarde, quando tiverem oportunidade idêntica, mantendo o ciclo. Mas na cegueira da finta, o Zé Povinho não repara que não fintou só o vizinho, mas o interesse do país. Isto é - ele próprio. Hoje, o Zé Povinho, é menos analfabeto, mas perdeu algumas qualidades estimáveis como a simplicidade e a naturalidade - bem como algumas raízes culturais importantes. De facto, como decorrer do tempo, o Zé mudou de roupa e adoptou alguns hábitos questionáveis que têm ajudado a descaracterizar o país, destruindo muitos santuários das nossas províncias. A herança cultural tem sido sistematicamente afectada. Portugal quase que já não existe, deglutido pelas novas auto-estradas, ao longo das quais o Zé foi implantando depósitos de sucata e novas urbanizações, construídas por equipas de patos bravos (Zé Povinho em versão novo rico), em função de supermercados ou de gasolineiras. Amador de quase tudo, gastando mais do que ganha, mas especialista no desenrascanço e em anedotas picantes, muitas vezes crítico e trocista, continuando a utilizar o boato para afirmar sem ter afirmado, o Zé Povinho cultiva um complexo de inferioridade perante o estrangeiro que sublima através da ostentação de uma mania da superioridade, vangloriando-se frequentemente de qualidades que só ele descobre. Mantém-se a ausência de Culturiosidade, a Preguiça Endémica, a falta de sentido cívico e a preocupação com a sua “vidinha” do dia-a-dia, em detrimento do colectivo. Esta ausência de sentido do colectivo é decisiva – dado que a Produção do País continua a ser insuficiente, tornando impossível a sempre almejada recuperação económica. Perante os tempos que se avizinham o Zé necessita urgentemente de mudar a mentalidade. Tal como RBP desejava - enquanto o desenhava.
(Texto publicado em suplemento da Gazeta das Caldas comemorando os 135 anos, feitos em 12 de Junho, do Zé Povinho).

quarta-feira, 23 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

The colours of Summer

Os calendários assinalam hoje o início do Verão
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E no meio de um Inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um Verão invencível.
(Albert Camus)
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Quero apenas cinco coisas.
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono
A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da Primavera para que continues me olhando.
(Pablo Neruda)
 
The Good Life - Tony Bennett

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Aberta da Praia da Foz do Arelho VII

Vista geral dos trabalhos descritos em baixo, em 11 de Junho, ainda com o canal aberto pelo mar na zona norte da praia . Detalhe da intervenção .
As gaivotas "acompanharam" esta fase da intervenção disputando alimentos junto do que restava da "Aberta anómala" escavada pelo mar
. Finalização da intervenção, em 14 de Junho, já com a praia norte praticamente "reconstruída". As máquinas tapam uma pequena poça - o que restava da "Aberta" escavada pelo mar .
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Quizas Quizas - Ibrahim Ferrer & Omara Portuondo 
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Continuando a nossa “reportagem” sobre este assunto publicamos novas fotos colhidas durante a última semana – altura em que recomeçaram os trabalhos para recuperar a praia da Foz do Arelho. Assim as máquinas taparam com areia o canal que ainda persistia como um reliquat da “Aberta” anómala que surgiu escavada pelo mar a norte do areal. De facto a praia recuperara a sua porção intermédia e a sul a antiga “Aberta” mas a zona das barracas (a praia norte) continuava ocupada pelas marés. Julgamos estar perante as derradeiras diligências programadas pelo INAG - com a praia norte práticamente reconstruída. Tentaremos, em devido tempo, dar conta do resultado final. Resta a interrogação de qual será a eventual resposta da Natureza. Quizas, quizas...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ruinografia IV

Estrada Caldas da Rainha - Foz do Arelho



A House is Not a Home - Dusty Springfield & Burt Bacharach

Obsv: A revista "LER" teve a amabilidade de, no seu número de Junho (à venda desde dia 2), publicar uma foto retirada do Heavenly (nosso post de 30-11-2009) referenciando e recomendando este blogue em: http://ler.blogs.sapo.pt/. Os nossos agradecimentos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

In the sand

Há dias excepcionais em que uma praia branca se estende pelo meu quarto
Por vezes encontro sinais que os deuses deixaram semi-enterrados na areia
Então abraça-me, por dentro, a música mais sublime

Mahler – Symphony No.5 Adagietto – Bruno Walter (1938)