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May your days be bright and your heart be light through the coming New Year!
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Life in The Gravity Well - Michael Stearns
Certas palavras podem dizer muitas coisas;
Certos olhares podem valer mais do que mil palavras;
Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora;
Certos gestos, parecem sinais guiando-nos pelo caminho;
Certos toques parecem estremecer todo nosso coração;
Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais,
Assim como você, que deixarão belas lembranças para todo o sempre.
(Vinicius de Moraes)
Richard Harris (1 Outubro 1930 – 25 Outubro 2002) nasceu na Irlanda. Era filho de um moleiro mas foi educado na Sagrado Coração de Jesus Colégio dos Jesuítas, e mais tarde estudou na Academia de Londres de Música e Arte Dramática. Foi conhecido sobretudo como um grande actor. Desempenhou papéis inesquecíveis em “Camelot” (1967 - como Rei Arthur), Cromwell (1970), “A Man called horse” (1970), “Unforgiven” (1992), “Gladiator” (2000), até aos recentes filmes de Harry Potter (na personagem de Dumbledore). No final da década de 1960 foi no entanto, talvez o actor mais popular na história da música popular, quase rivalizando com os Beatles. O seu disco “MacArthur Park” (canção de Jimmy Webb que atingiu o “top ten” em ambos os lados do Atlântico) em conjunto com o filme “A Man called horse” transformaram-no num ícone da cultura popular de então.
Após o enorme êxito como “actor-cantor” em “Camelot”, com a sua voz atraente e com dicção impecável (semelhante à de Rex Harrison), foi convidado por Jimmy Webb, um ano depois, para gravar (1967) uma canção com cerca de 7 minutos “épicos”: “MacArthur Park” – que se tornaria uma das suas imagens de marca. Em 1968 seriam editados “Tramp Shining” (um álbum conceptual, sofisticado e muito bem produzido) e “Yard Went on Forever” (também com Webb). Apesar de não terem o sucesso comercial do anterior, continham temas com interpretações fortes. Sucederam-se “My Boy”, “The Love Album”(com algumas das melhores faixas dos discos anteriores), “Slides” (1972), “His Greatest Performances” (1973), "Jonathan Livingston Seagull" (1973), “ The Prophet” (1974), “I, in the Membership of My Days” (1974) e “Camelot” (Original 1982 London Cast Soundtrack) (1982).
As suas interpretações têm a mais-valia de, para além de cantadas, conterem a emoção e a voz de um grande "diseur". Apesar da qualidade dos discos anteriores ficou para sempre gravada na minha memória a canção “Slides” (do LP com o mesmo nome) em que Harris alterna a voz do cantor com a do actor. Só recentemente saiu em CD, permitindo que eu a colocasse no Youtube. Um clássico guardado no armário das grandes canções românticas de sempre.
Vladimir Horowitz foi (1/10/1903 a 5 /11/1989) um pianista clássico, com um estilo muito próprio (“Horowitziano”), de grande virtuosismo e considerado como um dos mais brilhantes de todos os tempos, devido à sua excepcional técnica aliada às suas actuações contagiantes. Foi considerado por muitos o indiscutível mestre em Scriabin e Rachmaninoff. Deixou a Rússia em 1925, sob a promessa de não se esquecer da mãe-pátria.
Viria a naturalizar-se americano em 1942 e esteve mais de 60 anos sem regressar à sua terra natal. Aos 82 anos sucumbiu ao desejo de ver por uma última vez a Rússia antes de morrer. Ao abrigo de um acordo entre os USA e a URSSR, pediu para regressar como “embaixador da Paz”, considerando a tensão política que se vivia na altura (a aviação americana atacara a Líbia). Assim, em 20 de Abril de 1986, Horowitz tocou o seu Steinway pessoal perante uma audiência “electrizada”. A sessão foi alvo de gravação televisiva e em CD. Uma multidão que não conseguiu lugar no auditório ficou durante o concerto à porta do Conservatório de Moscovo – como quem diz: presente! As palmas e os “Bravos!” sucederam-se num ambiente de rara emoção. Havia quem dissesse que aquela interpretação “era sobre humana e vinha do céu” e um pianista russo conhecido exclamava que Horowitz “era o único pianista que conseguia tocar as cores”. Quando num dos “encores” o filho pródigo amado por toda aquela gente tocou Traumerei (“Reverie”) de Schumann… Sentiu-se que algo de mágico e poderoso se estava a passar. Uma corrente de ternura colectiva “explodiu” em direcção àquele velhote franzino, ao piano, que morreria em breve (3 anos depois) mas que antes quis dar o melhor que a sua alma guardava, naquele preciso momento, ao seu país de origem. As notas de Traumerei caíam cristalinas num silêncio total. As pessoas não estavam tristes, antes exultavam em poder assistir a algo de inimaginável. A câmara da televisão mostrava (vale a pena ver no Youtube) rostos emocionados no público suspenso daqueles 2 minutos e 27 segundos. As lágrimas que escorriam pelas faces dos espectadores são também as nossas.
Não por acaso, escolhi uma fotografia “a preto e branco”, de um grupo de árvores junto ao lago do Parque das Caldas, para acompanhar a música de hoje porque estou certo que as notas tocadas por Horowitz irão colori-la com as cores dos sonhos.
Enjoy…
O Mercado das Caldas realizava-se inicialmente no Largo da Copa em frente ao Hospital Termal e passou, durante o século XVIII, para esta praça (então Praça Nova). Em 1886-7 passou a ser denominada de D. Maria para, após o 5 de Outubro de 1910, ficar definitivamente: da República. Sobre este empedrado construido, em 1883, consoante projecto de Celestiano Rosa (tendo o proprietário Fauistino da Gama contribuiu com 2 contos de réis), continua a realizar-se diariamente e tal como no início - a céu aberto, o famoso Mercado da Fruta das Caldas da Rainha. Tem surgido periodicamente, desde o início do século XX, a polémica de a substituir por um Mercado Fechado, com os argumentos da maior ou menor facilidade na higienização da praça, de se pagar o imposto de Terrado, e de uma eventual vocação para Passeio Público. Felizmente tem-se mantido a tradição em que a cobertura é o céu. Este facto é uma mais-valia porque dá uma beleza e colorido próprio aos vegetais (julgo que as cores serão mais vivas e saturadas devido a serem iluminadas pela temperatura de cor do sol em vez da proveniente de luzes artificiais), tal como defendia, em 1926, Luis Teixeira nas páginas da Gazeta das Caldas, com receio que se tornasse igual a tantas outras encerradas em edifícios construídos para o efeito.
Será desejável que a Praça assim se mantenha e que continuemos a caminhar sobre as suas estrelas - mas debaixo da abóbada celeste.
“… Os divertimentos de dia são de manhã na copa, de tarde nas partidas de prazer em cavalgaduras pequenas ao Senhor da Pedra, a Óbidos à lagoa, ao Convento dos padres Arrábidos das Gaeiras, ou passear na cerca e quinta do Hospital; onde há, além de pomar, horta, jardim e vinhas, um delicioso bosque cortado de várias e compridas ruas, nas quais somente se conhece o artifício. Há também outras quintas ao redor da Vila, e uma rua de loureiros à entrada dela para os exercícios mais moderados…”
Joaquim Inácio de Seixas Brandão in Memorias dos anos 1775 a 1780 para servirem de Historia à análise, e virtudes das águas termais da vila das Caldas da Rainha.